Poema "Difícil fotografar o silêncio", de Manoel de Barros, declamado por Antônio Abujamra

Poema "Difícil fotografar o silêncio", de Manoel de Barros, declamado por Antônio Abujamra.

Segue o poema:

Difícil fotografar o silêncio
(Manoel de Barros)

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta.
Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.

Preparei minha máquina de novo.

Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado.
Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.

Fonte: Youtube
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakoviski -- seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

Comunidades:

Comments

imagem de Paulo Carrano

Fotografando o silêncio....

Manoel de Barros é um dos meus poetas preferidos. Um grande poeta dedicado à beleza e ao significado das coisas mínimas. Este poema nos ajuda a "ver" o que não está aparente. 

Encontrei um ensaio fotográfico feito por alunos de um curso de Design na cidade Baixa, em Salvador. Tá aí uma boa dica para professores e estudantes exercitarem a "escuta do silêncio". Tenho certeza que será uma boa desaprendizagem das coisas evidentes. 

Segue o link para as fotos citadas: http://www.girodesignsocial.com.br/osilencio/#

Abraços! 

Paulo Carrano

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