Livro desmonta visão economicista da educação

“Febre dos rankings coloca escolas umas contra as outras”

Para onde está indo a educação brasileira? Qual a concepção hegemônica que tem orientado as principais iniciativas voltadas à melhoria do ensino país a fora? Para o livro “Sociologia do Ensino Médio”, que acaba de sair pela Editora Cortez (São Paulo), a orientação predominante é a que seus autores classificam como economicismo, neologismo que identifica práticas e concepções originárias da gestão empresarial.
“Acho que o melhor exemplo disso é a febre dos rankings de melhores escolas, que coloca os estabelecimentos de ensino em competição uns contra os outros”, explica a professora Nora Krawczyk, da UNICAMP, organizadora do livro. Ela cita ainda como exemplos de economicismo a ênfase na especialização dos currículos e a onda do empreendorismo. “Escolas moderninhas agora dedicam muito tempo e energia para despertar o que chamam de ‘espírito empreendedor’ do jovem”, acrescenta.
O livro analisa basicamente a influência dessas concepções no Ensino Médio, considerado o ramo mais problemático do sistema de educação e o que mais tem passado por inovações e experimentações dentro do padrão de economicismo. Seus autores discorrem sobre pesquisas realizadas em sete países, nos quais estratégias semelhantes às utilizadas Brasil têm sido aplicadas, e mostram distorções que estudos mais aprofundados poderiam prevenir.
“Quem mais tem influindo na educação (e não só no Brasil) são as empresas de consultoria, com seus estudos superficiais, centrados no registro e replicação de experiências tidas como bem sucedidas, muitas vezes sem considerar as disparidades de situações”, observa a professora Nora. Para ela, é preciso recuperar o papel da Universidade e das ciências sociais na formulação de políticas educacionais, sob pena de continuarmos eternamente experimentando novidades. “Só a perspectiva da Sociologia crítica é que pode dar conta de interpretar os dilemas, contradições e disputas em que o sistema educativo está mergulhado, em particular o Ensino Médio”, conclui.
A obra, um trabalho coletivo, reúne pesquisadores em educação do Brasil, Argentina e França. São eles: Agnès van Zanten, Bernard Charlot, Guilhermina Tiramonti, Maria Alice Nogueira, Marília Sposito, Raquel Souza, Rosemeire Reis e Wania Guimaraes Lacerda.

Sociologia do Ensino Médio
Crítica ao economicismo na política educacional

Nora Krawczyk (organizadora)
Editora Cortez – São Paulo – 2014 
Medeiros Filho – Jornalista Profissional, registro nº 10.881-SP
Informações complementares: (11) 2158-1677