José Paulo Paes

Nos dois poemas a seguir, José Paulo Paes, no livro “Prosas seguidas de odes mínimas” faz uma crítica à televisão e ao consumismo, levando-nos a refletir sobre as nossas relações contemporâneas. Podemos estender o sentido do primeiro poema ao uso da internet, principalmente com relação às redes sociais, o que acham? A rede limita ou amplia as nossas relações sociais?

À TELEVISÃO

Teu boletim meteorológico
me diz aqui e agora
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora?

A comida suculenta
que pões à minha frente
como-a toda com os olhos.
Aposentei os dentes.

Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
de vida que eu próprio
nem me canso em viver.

Guerra, sexo, esporte
me dás tudo, tudo.
Vou pregar minha porta:
já não preciso do mundo.

* * * *

AO SHOPPING CENTER

Pelos teus círculos
vagamos sem rumo
nós almas penadas
do mundo do consumo.

De elevador ao céu
pela escada ao inferno:
os extremos se tocam
no castigo eterno.

Cada loja é um novo
prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
estamos sempre nus

nós que por teus círculos
vagamos sem perdão
à espera (até quando?)
da Grande Liquidação.

[José Paulo PAES]

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