Um outro olhar sobre a história

Um jornal anuncia a ascensão de Hitler, a criação do campo de concentração em Varsóvia e a influência das ideias nazistas no Brasil. Parece uma peça de museu, mas trata-se de parte da produção de alunos da Escola Estadual Boa Vista, de Contagem, Minas Gerais

 

 

Na disciplina de história, ministrada pela professora Vanda Reis, os estudantes têm que elaborar e criar meios de explicar a matéria ensinada. Nos últimos meses eles percorreram as Grandes Guerras, o Nazismo, a Revolução de 30 e agora se preparam para mostrar aos colegas o que aprenderam, por meio de vídeos, peças de teatro e painéis.

A professora trabalha a partir da pedagogia da autonomia, idealizada por Paulo Freire, em que o aluno deve buscar e participar ativamente da construção do conhecimento. Ela apresenta para os estudantes o que o currículo propõe, eles escolhem alguns temas para desenvolver os trabalhos e até mesmo o número de integrantes dos grupos que desenvolvem o trabalho. O que fica de fora da escolha dos alunos, vira aula expositiva, ministrada pela própria professora.

A bola da vez entre os alunos do 3º ano do turno da manhã foi o período das Grandes Guerras, principalmente o Nazismo, abordado pela maioria dos grupos. Quando perguntados sobre o porquê de tanto interesse por esse tema, eles foram enfáticos: "Porque é um momento histórico difícil que não poderia ser esquecido tão rápido", diz Jonathan Santos, de 16 anos. A jovem Talita Campos, 17 anos, completa: "É um tema complexo, causa impacto nas pessoas".

Depois de muita pesquisa, que envolveu visitas a museus, consultas em livros e sites de busca, eles se preparam para contar aos colegas o que aprenderam com vídeos, painéis expositivos e peças de teatro. O grupo de Jonathan vai explorar diversos meios. "Nós vamos fazer uma bandeira nazista para explicar o símbolo. Vamos fazer dois vídeos, um com o trailer de todos os filmes sobre o tema e outro com frases e imagens sobre o nazismo", conta Adrielly Oliveira, 17 anos. Foram eles também que produziram o jornal "como se fosse de antigamente", nas palavras de Adrielly.

A autonomia dos jovens é perceptível quando querem inverter o papel na hora da entrevista. Muitos deles queriam saber se a equipe do EMdiálogo que visitava a escola já tinha ouvido falar do Gueto de Varsóvia. "Lá os nazistas mandam os judeus fazer teatro pra eles, depois matavam os judeus, só de maldade", conta Luiz Henrique Ribeiro, integrante do grupo que vai abordar o nazismo com uma peça baseada no filme Ghetto (2006), do diretor Joshua Sobol. Quem também lançou desafio para os repórteres foi Wildyhellen Cavalcanti, de 18 anos: "Vocês acham mesmo que Hitler se matou? Porque eu penso que, com o tanto de guerra que ele ganhou, ele não acabaria com a própria vida".

Com amor e afeto

A Escola Estadual Boa Vista atende 1310 alunos e fica numa região distante em Contagem, na Grande BH. Na primeira vez em que fomos à escola, não houve aula por falta d'água. Os alunos do turno da manhã foram liberados, uma vez que não tinha como fazer a merenda. "Muitos deles vêm à aula porque aqui tem uma merenda muito gostosa", explica Vanda Reis. A professora diz gostar muito de dar aulas na instituição, mas aguarda ansiosamente ser chamada para ser professora da Prefeitura de Belo Horizonte que, segundo ela, oferece melhor remuneração. "O professor que trabalha por salário não é feliz", analisa.

Além da pedagogia da autonomia, Vanda também busca inspiração na chamada pedagogia do amor e do afeto, que procura estabelecer outro tipo de relação com os alunos. "Se eu me expresso na linguagem do amor e falo na linguagem deles, eles retribuem da mesma forma. Eu tenho uma autoridade que não é autoritária, tenho uma autoridade que é moral. Chego aqui e não preciso gritar", explica. Vanda considera a pedagogia da autonomia a melhor forma de ensinar nos dias de hoje, por, segundo ela, despertar mais atenção dos alunos. Os alunos confirmam. "Acho muito interessante a gente escolher tudo, porque nos aprofundamos mais no que a gente quer estudar", relata Bruno Henrique, de 17 anos.

O sucesso dos métodos usados por Vanda despertou o interesse nos demais professores da escola, que também procuram diversificar suas aulas e dar mais espaço a opinião dos alunos. Tanto, que ela escreveu um texto que ajuda os colegas a lidar com a educação com mais amor e afeto.

 

E você, professor, também tem alguma experiência para contar?

 

 

Comments

imagem de chrisleyde isabel dos santos

A PROFESSORA VANDA E UMA

A PROFESSORA VANDA E UMA PROFESSORA MUITO BAO COM UM CORAÇAO DE OURO

Vote neste Comentário
imagem de Marilena

querida vânia, vc é sem

querida vânia, vc é sem dúvida uma dessas pessoas que vale a pena viver para conhecer. Muita força e muita luz....Hoje e sempre!!!!parabéns por tanta coragem e amor.

Vote neste Comentário