Primeiro aprender, para depois ensinar

Para o psicólogo Julio D’amato é preciso que os adultos primeiro aprendam sobre sexualidade, para depois poder ensinar sobre o tema aos jovens com tranqüilidade. Ele ressalta que muitos professores se sentem constrangidos em lidar com o assunto, o que faz com que eles não tenham estratégias para trabalhar, por exemplo, com o comportamento dos estudantes diante do tema, como chacotas ou gozações.

“Precisamos investir em uma fala sincera e simples sobre o tema, que seja compatível com a faixa etária dos estudantes. A sexualidade deveria ser um assunto como qualquer outro, mas na sociedade em geral ou não se fala sobre o tema, ou se conta piada”.

A coordenadora pedagógica da Escola Municipal Professor Souza da Silveira, Carla Lopes, conta que muitas estudantes que são mães levam as crianças para a escola. Isso causa alguns transtornos, mas Carla diz que não tem como impedir a entrada dos filhos sob o risco de que as mães abandonem os estudos.   Carla lembra, por exemplo, de uma situação na qual a professora de biologia queria falar sobre sexualidade dentro da sala, mas havia uma criança e ela não sabia como lidar com a situação. A professora reclamou com a coordenadora, mas não teve jeito. “A criança teria que continuar vindo, caso contrário a mãe não viria, então, a professora teve que encontrar uma forma de falar sobre o tema”, diz Carla.   A professora conta um episódio que ocorreu na escola pela presença constante de filhos de estudantes. “Na formatura de uma turma de Ensino Médio demos também um diploma para a filha de uma das formandas porque ela também assistiu todo o ano letivo. A menina tinha dez anos e até chegou a fazer uma prova de física e conseguiu uma das maiores notas da sala”, comenta Carla.   Maternidade e paternidade na adolescência é uma escolha?   No caso dos estudantes que se tornam pais e mães, o psicólogo Julio D’amato ressalta que pode haver também um desejo deles em torno da paternidade e maternidade por inúmeras particularidades.   “Não podemos colocar esse desejo como regra, mas podemos pensar em desejos muitas vezes inconscientes desses jovens por vários motivos. Talvez o bebê venha, por exemplo, para dar uma sacudida na família e resgatar a vida das pessoas em casa ou também para compensar uma rejeição materna ou paterna que o jovem sofreu”, explica.   No caso das cinco mães estudantes da escola Professor Souza da Silveira entrevistadas pelo EMdiálogo, na história de quatro delas, os pais "legítimos" não garantem assistência aos filhos, tanto em se tratando de condições objetivas, como ajuda financeira, quanto subjetivas, como atenção, afeto, presença. Para o psicólogo Julia D’amato há um questão cultural que ainda atribui à mulher a responsabilidade com os filhos.   “Isso está mudando, mas de uma forma muito tímida ainda. O pai se sente, por exemplo, muito importante para ir numa reunião de escola do filho e essa tarefa acaba sendo da mãe”, exemplifica.   Julio acredita que a paternidade, entretanto, em alguns casos também pode estar relacionada com um sentimento de potência por parte dos meninos.   “Nessa cultura falocêntrica na qual vivemos, o menino pode ter ganhos mais imediatos sendo pai, como provar a sua virilidade, por exemplo. Logicamente não podemos tomar isso como regra”.

 

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