Passe livre é uma das principais demandas dos estudantes de Niterói

Em Audiência Pública do Conselho Municipal de Juventude, estudantes da Escola Técnica Henrique Lage e do Liceu Nilo Peçanha relatam ao EMdiálogo as dificuldades com o transporte no município

Danilo Vianna Lopes (18) é aluno do 3º ano do Ensino Médio técnico em Máquinas Navais da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, em Niterói. Ele faz parte do Grêmio Estudantil das Escolas Henrique Lage e no dia seis de julho acompanhava a Audiência Pública do Conselho Municipal de Juventude, realizada na Câmara de Vereadores de Niterói. Para Danilo, o principal problema enfrentado pelos estudantes no município é a limitação do passe livre escolar.

"Essa é uma questão que tem oprimido muito os estudantes. Já fizemos inúmeras passeatas dirigidas à Câmara de Vereadores e ao sindicato das empresas de ônibus, mas o problema ainda não foi resolvido. Na verdade, o passe não é livre, é limitado", relata.

Danilo explica que os estudantes têm um limite de 60 passes para serem usados no mês. Isso, de acordo com ele, prejudica aqueles alunos que precisam de mais de um ônibus para fazer o percurso entre a residência e a escola.

Ele narra ainda outras dificuldades e constrangimentos pelos quais passam os estudantes. Por exemplo, na Escola Técnica Henrique Lage, o sábado é um dia letivo. Danilo tem aula nesse dia de sete às 18:20h, horário difícil para conseguir pegar ônibus.

"Por ser final de semana, os motoristas não acreditam que estamos tendo aulas, e depois de 16h, os ônibus já não querem mais parar para a gente", conta.

 Vereador diz que gratuidades no transporte afeta o emprego

Presente na mesa da Audiência Pública, o vereador João Gustavo (PMDB) afirmou que a questão não só dos passes livres, mas das gratuidades em geral no transporte, tem feito com que as empresas deixem de empregar trabalhadores.

"Essa é uma discussão muito séria que tem que ser feita. O desemprego na categoria é conseqüência de faltas de políticas públicas para a gratuidade", afirmou João Gustavo, que faz parte do sindicato dos Rodoviários.

O vereador Renatinho (PSOL), também presente na Audiência, apresentou um projeto de lei de autoria dele que cria o meio passe para os estudantes da rede privada do município, tanto da educação básica, quanto superior.

"Eu pensei que o assunto fosse ser mais tocado aqui hoje, apenas o vereador Renatinho propôs algo a respeito, entretanto, ele também não tocou nos problemas de quem já tem o passe", questionou Danilo Vianna, que não se sentiu à vontade para expor a questão para a plenária.

Aluna do Liceu também reclama do passe

Priscila Coutinho Mateus (22), aluna do 1° ano noturno do Liceu Nilo Peçanha, também não se animou a fazer uso do microfone. Ela disse, entretanto, que se fosse falar para o público presente, também falaria sobre o passe livre.

Priscila afirmou que os 60 passes para ela são suficientes, mas para muitos colegas não são. A estudante contou uma situação para mostrar o quanto o passe livre é importante.

"No início do ano, quando eu ainda não tinha recebido o cartão do passe, estava com o dinheiro da passagem de volta para casa contado no bolso e o perdi. Tive que voltar para casa a pé", relata.

Priscila não soube precisar quanto tempo caminhou, mas como mora no Bairro Fazendinha, distante do centro de Niterói, onde fica a escola onde estuda, calcula-se que tenha caminhado por mais de uma hora.

A estudante disse que participou da Audiência Pública porque a bibliotecária do colégio a incentivou.

Conselho pede a criação de uma comissão de juventude na Câmara

Durante a Audiência Pública foi ressaltado que Niterói é uma das quatro cidades do estado do Rio a ter um Conselho Municipal de Juventude. Para Fábio Meireles, membro do Conselho Nacional de Juventude, Niterói sai na frente. O conselheiro alertou, entretanto, para o baixo número de conselhos no estado.

"No encontro dos Conselhos, realizado no ano passado, recebemos o pedido de inscrição de mais de dez conselhos de estados como Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo. Do estado do Rio, foram apenas dois pedidos", comentou.

O Conselho apresentou na Audiência Pública a proposta de criação de uma comissão permanente de juventude na Câmara de Vereadores de Niterói. O vereador Felipe Peixoto (PDT), que presidiu a audiência, salientou que para a criação da comissão é necessário haver uma mudança no regimento da Câmara, mas que se comprometeria a encaminhar a discussão.

O deputado federal Brizola Neto (PDT, também presente na mesa da audiência, ressaltou a importância do Conselho. Ele salientou a necessidade de uma escola pública de qualidade para dar garantias aos jovens.

"Eu me lembro de um governo do estado do Rio, em 93 [Leonel Brizola], que colocou 53% do orçamento na educação. Para uma escola pública de tempo integral, tem que se gastar dinheiro, tem que ter um plano de cargos e salários para os professores", observou.

O Conselho Municipal de Juventude tem um blog na internet.

 

 

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Comments

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Audiência cheia

Fiquei pouco tempo na audiência mas achei legal a câmara cheia de jovens atentos as falas. Isso mostra que a nossa juventude não está parada vendo o tempo passar! A luta compaheiros!

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imagem de Paulo Carrano

Indenização de Aluno

Todo mundo sabe a má vontade de alguns motoristas, cobradores e despachantes com os estudantes e das próprias empresas de ônibus com os estudantes que tentam embarcar nos ônibus municipais; nos intermunicipais a situação é bem pior! Uma pequena nota no jornal OGlobo, Rio de Janeiro, de hoje mereceria um destaque maior pela sua importância na luta pelo direito à locomoção de estudantes nas cidades e também pela defesa da dignidade dos usuários dos transportes coletivos. 

Segue a matéria:

"A 19a Câmara Cívil condenou a Viação Santa Sofia a pagar $ 14 mil de indenização, por danos morais, a um estudante que ficara com a perna presa na porta automática do ônibus da linha 786, em maio de 2005, ao tentar embarcar no coletivo. Ele ainda foi empurrado por um despachante e arrastado até o motorista abrir a porta, fechada de forma súbita para impedir seu acesso. O desembargador Ferdinaldo Nascimento aumentou o valor da indenização, fixado em R$ 7,6 mil em primeira instância" (Jornal OGlobo, terça-feira, 14 de julho de 2009, p. 12-Rio).

Foram 4 anos, mas a justiça foi feita neste caso! A luta é que casos como este não se repitam e que estudante em ônibus seja motivo de alegria para todos e não motivo de violência ou intolerância.

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