Estudantes de Ensino Médio se apertam em carteiras feitas para crianças

 Daniele Monteiro/EMdiálogoNa sala do 3º ano do turno da manhã da Escola Lauro Corrêa, a porta precisa ficar aberta. O espaço é muito pequeno para abrigar os 24 alunos da turma. Além disso, as carteiras são muito pequenas, de forma que as pernas de alguns dos estudantes não cabem embaixo das mesas. Este é um dos problemas estruturais vividos pela Escola Estadual Professor Lauro Corrêa, no bairro Trindade, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
 

“Tem dias que a gente agradece por alguém faltar”, comenta um dos estudantes da turma. Para comprovar a falta de estrutura, um dos alunos levanta a parte superior da carteira, que, sem força alguma, se desprende e fica na sua mão.
 

A Instituição atende a cerca de mil estudantes do segundo segmento do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, nos três turnos. Os funcionários da escola explicam que o prédio foi estruturado para atender apenas o primeiro segmento do Ensino Fundamental, por isso as carteiras são tão pequenas. Em 1997 o Estado determinou que a escola oferecesse o Ensino Médio, mas não garantiu as condições para receber os estudantes.
 

O único espaço de lazer dos jovens é uma quadra coberta que foi interditada por falta de condições de uso e agora está sendo reformada. A diretora do colégio, Patrícia Ribeiro, explicou que o local era uma casa de fazenda, que foi doada ao município para virar uma escola, mas com uma estrutura que não comporta essa função. “A melhor solução para nosso problema seria demolir tudo e construir outro prédio”, diz Patrícia.
 

 Daniele Monteiro/EMdiálogoQuando a equipe do EMdiálogo esteve na escola, um grupo de alunos que apresentava uma peça de teatro teve que improvisar um cenário em uma das salas de aula do Lauro Corrêa, já que a escola não possui um auditório.

“Aqui é uma comunidade ótima de se trabalhar. O ponto negativo é a falta de apoio do sistema. É a única escola do bairro que tem Ensino Médio e mesmo assim não tem estrutura, como um laboratório e uma biblioteca decentes para as crianças. Nós temos mil alunos e não temos salas adequadas”, reclama a diretora da escola.

 

Livros novos. Mas cadê o espaço para ler?

 No chão, uns cinco caixotes cheios de livros. Em um deles se podia ler o título da obra Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. A biblioteca possui aproximadamente sete prateleiras e os livros das caixas tinham acabado de chegar. “Se entramos quatro pessoas na biblioteca, já fica apertado. E também lá é muito quente!”, reclamam os alunos do 3º ano do turno da manhã. A bibliotecária conta que, apesar do aperto, os alunos sempre procuram os livros.
 

A diretora Patrícia Ribeiro explica que há um espaço ocioso na escola que poderia ser revertido em novas instalações se houvesse uma reforma no prédio. “Mas os engenheiros do estado vem aqui e dizem que em comparação a outras escolas a nossa tem uma estrutura boa, imagina as outras!”, fala.
 

Os alunos reclamam ainda que quando chove há goteiras por todos os lados. A escola é de 1965 e nunca passou por uma grande reforma. Apesar de receber estudantes com necessidades especiais, o colégio não possui instalações adequadas, como rampas de acesso e banheiros adaptados. O aluno que utiliza cadeira de rodas não consegue, por exemplo, chegar até ao refeitório sem a ajuda dos colegas ou professores.

 

Sem professores

 Daniele Monteiro/EMdiálogoOutro problema da escola é a falta de professores. A turma do 3º ano, por exemplo, está sem professor de geometria, então, o professor de matemática se desdobra para ensinar um pouco da disciplina para os alunos.

“Eu queria ter uma base maior, não quero ficar rezando só para aquela matéria que eu sei cair no vestibular”, protesta Vinícius Sodré (17) aluno do 3º ano.

De acordo com a direção do Lauro Corrêa, a Secretaria de Educação instrui que a escola passe trabalhos aos alunos das disciplinas que não tem professores. Esta medida deve ser tomada para que o aluno tenha a matéria pontuada no histórico.

“Mas como é que um professor de português vai passar um trabalho de química para os alunos simplesmente para pontuar? E eu não posso pegar um professor que já tem a sua carga horária e colocar numa turma para não ganhar nada por isso”, argumenta a diretora da escola.

Patrícia Ribeiro acrescenta que o estado está chamando os professores concursados, mas ela alerta que mesmo esse número não é suficiente para suprir a carência das escolas. “Aqui no Lauro, o buraco ainda é pequeno. Eu tenho português e matemática para todas as séries, por exemplo, mas tem escolas que ainda estão com este problema”, afirma.
 

Comunidades:

Comments

imagem de fabio Lennon Marchon dos Santos

comentários

A escola é rica quando se fale em valor humano, em potencial humano.

Trabalhei durante muitos anos no Lauro corrêa. Estive em todos os turnos e pude experimentar as diferenças existentes em cada realidade e em cada grupo. Independente das dificuldades, encontrei jovens e adultos dispostos a aprender - existiram exceções evidentemente- mas foram as conquistas que mais me motivaram.

Problemas estruturais e organizacionais muitas vezes dificultaram o trabalho, mas, ainda assim, um grupo excelente de profissionais se empenhou em realizá-lo brilhantemente.

Carteiras quebradas, salas sem ventilação e pequenas, goteiras nas salas, banheiros terríveis e sem higiene, quadra de esportes desabando, falta de biblioteca e sala de multi meios, laboratório de informática improvisado e sem orientação específica (OT);  sala dos professores improvisada, mal alocada, sem espaço. Falta de mobilidade para alunos com necessidades especiais; A escola é uma grande improvisação de espaços e a secretaria de educação deveria atentar para isto!

Como bem disse a Diretora, reconstruir é a palavra chave. Uma infinidade de remendos numa roupa rasgada nunca a deixarão nova.

Por hoje é só!

Vote neste Comentário