A relação professor-aluno e o processo de ensino-aprendizagem: um desafio para a ação docente

Osmar Rufino Braga

No presente artigo, busco refletir sobre uma questão central no processo de ensino-aprendizagem: a relação professor-aluno e o desafio da excelência da formação dos educandos, considerando todas as suas dimensões.
A centralidade da questão reside no fato de a mesma trazer à tona o desafio, nada fácil de enfrentar e resolver, da construção de relações de proximidade e empatia com os educandos, visando a garantir a excelência do ensinar e do aprender, principalmente em sala de aula, de modo que essa relação favoreça o alcance dos objetivos da ação pedagógica. Podemos dizer, em última análise, que a qualidade, a efetividade e os impactos do processo de ensino-aprendizagem, em grande medida, dependem não só da seleção de conteúdos, organização e sistematização didática do trabalho, mas da relação de proximidade e empatia construída entre professores e alunos, tarefa inicialmente colocada para o corpo docente na atividade escolar.
Na primeira parte do artigo, contextualizo o problema, apresentando de forma abreviada a questão da relação professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem.
Na segunda parte, procuro situar a questão da proximidade e empatia na perspectiva da dialogicidade de Paulo Freire, um dos autores que tomo como referência para refletir sobre o tema, objeto deste artigo. Defendo que a questão da construção de relação de proximidade e empatia com os educandos está relacionada à concepção que o professor tem do próprio processo de ensino-aprendizagem; à visão que tem sobre o seu papel e o papel dos educandos.
Na terceira e última parte, aponto algumas recomendações e estratégias para contribuir no enfrentamento do desafio acima indicado.

Não é o professor que define todo o plano do ensinar

A questão da excelência do processo de ensino-aprendizagem não é algo que pode ser garantido apenas pelo professor e pelas suas estratégias didático-pedagógicas. Ela é uma conquista e supõe o diálogo, a participação efetiva do aluno e, sobretudo, a construção de relações de proximidade e empatia com os estudantes.
Muitos professores vivem dramas terríveis porque não conseguem atrair e construir sentido e significado para seu projeto pedagógico. Não são poucas as estratégias que implementam no sentido de fazer com que  os alunos apresentem interesse e vontade de aprender os conteúdos que ministra e as atividades que realizam. Há casos em que os próprios alunos boicotam as aulas, constroem estratégias para driblá-las e apresentam-se apáticos para as mesmas.
Fica evidenciado que não basta ter um plano de aula bem estruturado, organizado e fundamentado. Da mesma forma, fica revelado que o plano do ensinar e do aprender supõe a construção de relações de proximidade, empatia e significado que vão além dos conteúdos estabelecidos pelo professor e de suas estratégias didático-pedagógicas. A construção dessas relações tem a ver com a concepção e a prática docente no que se refere ao próprio processo de ensino-aprendizagem e ao modo como os professores vêem os alunos, seu lugar e papel na ação pedagógica.

As visões sobre o ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno

Afirmei que o plano de ensino-aprendizagem não garante necessariamente excelência na formação dos educandos. Ela é decorrente também das relações que o professor constrói com seus alunos e alunas, relações essas de proximidade, empatia e significado. Contudo, a construção dessas relações, a sua qualidade e consistência, bem como seus impactos no processo de ensino-aprendizagem, dependem da concepção que os professores apresentam do ensino e da aprendizagem, do modo como concebem seu papel, o papel dos alunos e como consideram o pensar e o fazer docente no contexto escolar.
Nesse sentido, grosso modo, pode-se falar em duas concepções e práticas: uma  autoritária e antidemocrática, ancorada numa visão de que o professor é “dono” do saber, é ele que detém o poder do conhecimento; é ele que sabe o caminho através do qual se ensina e se aprende. Essa visão, naturalmente, vai produzir um tipo de relação também autoritária com os alunos, uma vez que estes são vistos como “latas” onde o professor “sabe tudo” despeja seus conhecimentos e saberes. Estabelece-se assim uma relação pautada no autoritarismo e no não diálogo. O ensinar e o aprender assumem um caráter “bancário” e antidialógico, como dizia Paulo Freire (1987). A relação que se constrói não é de empatia e proximidade, mas de negação do outro como legítimo outro (MATURANA, 1998). O aluno, segundo essa visão, é visto como objeto da ação pedagógica e não como sujeito.
A segunda concepção e prática docente referente ao processo de ensino–aprendizagem pode ser caracterizada como dialógica (FREIRE, 1987). Essa concepção parte de outro pressuposto, onde a atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé no ser humano, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar. Portanto, o “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção", (FREIRE, 1996, p. 21); o aprender, nessa perspectiva dialógica, é mais que uma relação de saber; é relação de existência de vida; aprender é uma modificação estrutural não do comportamento, mas da convivencia (MATURANA,1998). O processo de ensino-aprendizagem decorre então de uma relação entre parceiros, onde todos ensinam e todos aprendem. Numa relação como essa, onde professores e alunos se sentem acolhidos em seus saberes e experiências, constroem juntos o conhecimento, alegram-se juntos pelas descobertas que fazem, percebem juntos o movimento da vida e da convivência no ato de ensinar e aprender coletivamente, produzindo proximidade, empatia e significado.
Nesse sentido, a proximidade e a empatia podem ser consideradas como um instrumento da dialogicidade, na medida em que, quando nos juntamos para, parceiramente, descobrir, conhecer, resolver problemas, ficar juntos e referendar o outro no seu jeito de ver o mundo, de explicá-lo e mobilizar as experiências e saberes de que é portador, vivenciamos uma relação ontológica, uma relação de totalidade do ser, existencialmente produtiva, nunca uma busca objetivista do conhecimento, muito menos um esforço de uso do parceiro (FONSECA, 2000).

Concluindo...

Sabendo que a construção de relações de proximidade, empatia e significado, no processo de ensino-aprendizagem, será sempre um desafio, visto que é contextualizada, isto é, precisa considerar a história, o ambiente, as trajetórias formativas de professores e alunos, seus saberes e experiências, etc., pode-se apontar algumas recomendações que podem contribuir na superação do desafio de construir relações de proximidade e empatia, e perseguir a excelência no ensinar e no aprender. Destaco, pois, as seguintes:

1 – É preciso adotar uma postura dialógica, fundada na construção parceira do saber e na afirmação da vida de cada ator do processo educativo;
2 – Construir coletivamente um ambiente de aprendizagem onde todos possam ser escutados, sentirem-se acolhidos e valorizados em seus saberes e experiências, implicando o conhecimento das histórias, trajetórias, perfil dos alunos, de seus gostos, problemas e dificuldades;
3 – Estabelecer, em cada aula ou espaço de ensino-aprendizagem, condições alegres e bonitas para se trabalhar, vivenciando momentos de inquietação epistemológica, produção individual e coletiva, sistematização e valorização das descobertas, procurando identificar os significados da convivência pedagógica;
4 – Trabalhar o gosto pela curiosidade e a investigação, motivando e fomentando atitudes e práticas produtivas, procurando dar um sentido social para a produção do saber;
5 – Criar espaços de avaliação, entendendo-a não só como aferição de resultados do ensino-aprendizagem, mas como identificação dos sentidos e significados do saber e do fazer epistemológico e social.

Finalizo este artigo, reforçando a ideia de que não haverá excelência no processo de ensino-aprendizagem se não houver uma busca permanente por uma excelência nas relações de convivência, no ambiente ou espaço de aprendizagem, entre professores e alunos. É no espaço da convivência, onde se dá a proximidade e a empatia, que o ato de ensinar e aprender se efetiva, ganha sentido e significado.

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FEITOSA, Sonia Couto Souza . "Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular de educação" Dissertação de mestrado defendida na FE-USP (1999).
FONSECA, Afonso H Lisboa da. As Condições Facilitadoras Básicas como Princípios do Método Fenomenológico-Existencial: II. A relação empática. empatia e dialogicidade. 2000.
MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

Comunidades:

Comments

imagem de Maria Alda de Sousa

Ensinar é uma especificidade humana!

Paulo Freire sempre nos ensinando que "ensinar é uma especificidade humana", ou seja, exige a disponibilidade para o diálogo, o saber escutar, o comprometimento, a tomada consciente de decisões e, mais que isso,  o querer bem aos educandos...

Acrescento aqui uma pergunta: como pensar a relação ensino-aprendizgem em ambientes virtuais de aprendizagem, espaço não tradicional de ensino, onde o relacionamento humano passa  ser mediado por máquinas?

 

Valeu pelo compartilhamento do seu artigo, Osmar. Suscita boas reflexões!

Abraços!

 

 

 

Vote neste Comentário
imagem de lauristenia Ferreira

Concepção dialógica

É muito bom, esse uso da concepçao dialógica, nela podemos ver que os seres são pensados como "ser", e valoriza-se o saber de cada um na construção da aprendizagem.

 

Vote neste Comentário
imagem de Caíque Miguel

Incentivo

Um fator essencial para um aprendizado promissor é indubitavelmente a relação professor-aluno.Estou de prova,pois foi essa relação professor-aluno que mudou o rumo da minha aprendizagem.Tenho um professor muito bom na minha escola que dá aula de matemática,física,e geometria,e eu não o respeitava-o,mais porque ele brincava demais na sala de aula e acabava desviando-se de seus objetivos,porém ele sempre ficava de tarde na escola pois ele dava uma aula extra e quem quisesse podia aparecer,e eu era o único que ia,pois estava muito interessado em aprender mas não colocava isto em prática,mas quando esse professor começou a se preocupar com minha aprendizagem,isso foi um incentivo para mim estudar de verdade,graças a esse simples gesto de preocupação eu mudei completamente,antes eu apenas jogava,era véspera de prova e eu estava jogando,mas agora estou estudando o dia inteiro porque consegui colocar em prática minha vontade de estudar,e esse professor sabe das minhas dificuldades,ele me respeita e eu também,ele me ensina com tanta paciência pois sabe que quero aprender,e me compreende,tanto que quando ele vai ensinar outros alunos desinteressados ele fica nervoso e impaciente,mas quando sou eu ele realmente tem vontade de ensinar,os outros alunos só querem saber de serem amiguinhos dele,por isso ele não tem vontade de ensiná-los,mas quem quer aprender ele ensina de boa é so mostrar isso como eu fiz, o professor se sente desmotivado quando um aluno não tem vontade de aprender,mas se aparece algum ele tem,e agora eu resolvo minhas dificuldades com simples diálogo pois ele me conhece e eu o conheço e ele me entende,sempre quando eu digo que estou incomodado com algo na sala de aula ele me ouve e resolve,nós temos confiança um no outro e isso me fez ter mais vontade de estudar e agora esse sou eu hoje,estudando porque realmente quero aprender!Uma relação ótima entre professor e aluno é a chave!

Vote neste Comentário