PANORAMA DA JUVENTUDE E A EDUCAÇÃO ESCOLAR: O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO.

PANORAMA DA JUVENTUDE E A EDUCAÇÃO ESCOLAR: O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO.
Walter Pereira Miranda ¹
Professor de Matemática e Física de Escolas Públicas do Pará
Gestor de Escolas Públicas do Pará
Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade del Salvador -Argentina

Inicia-se um novo marco da educação no Pará com o Programa de Formação de Professores do Ensino Médio no Estado através do Sismédio – Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio que visa entre muitas coisas que o Professor do Ensino Médio estude a realidade da educação brasileira para compreender os alunos a partir de um olhar diferenciado onde entenda o aluno como sujeito transformador de sua realidade social, econômica, política e cultural e com isso possa mudar sua prática pedagógica para minimizar os altos índices de evasão e reprovação, consequentemente, a exclusão que acontece no ensino médio brasileiro melhorando o IDEB das escolas e do Estado. Para isso, a escola tem que assumir sua missão formadora e seu papel no desenvolvimento pleno do aluno para o exercício da cidadania. Mas, primeiro é necessário entender o jovem estudante do ensino médio, seus anseios e suas potencialidades.
Parece que assistimos a uma crise da escola na sua relação com a juventude, com professores e jovens se perguntando a que ela se propõe. Nesse sentido, a indisciplina tem sido apontada pelos professores como o principal problema apresentado pelos jovens estudantes. Ela se manifesta na falta de respeito aos professores e entre eles mesmos, na irresponsabilidade dos compromissos escolares e na dispersão devido ao uso de celulares ou outros aparelhos eletrônicos sem responsabilidade na sala de aula. Isso se trata de um problema de relacionamento entre jovens e professores. Para os jovens, a escola parece se mostrar distante dos seus interesses e necessidades. O cotidiano escolar é relatado como enfadonho. O professor passa a ser visto como vilão e culpado pela origem da crise de qualidade e do desempenho da escola. O problema em si não se resume apenas aos jovens, a escola e aos professores, mas existem mais variáveis a serem ponderadas como governo e suas políticas educacionais, professores, alunos, gestores, funcionários, familiares, entre outros.
Para melhorar sua prática escolar, o professor precisa conhecer o jovem como sujeito de experiências, saberes e desejos para melhor compreendê-lo. A juventude no Brasil está bem retratada na música de Charlie Brown Jr, -“Não é sério”, pois o jovem no Brasil nunca é levado a sério. Há uma tendência na escola de não considerar o jovem como interlocutor válido na hora de tomar decisões importantes na instituição. Não se ouve o jovem, seus desejos, anseios, críticas e, isso torna um desestímulo à sua participação. O texto de Ronaldo Araújo e João Paulo Alves nos dão uma dimensão da realidade dos jovens no Pará e como a Escola que trabalho é a escola Estadual Dr. José Malcher que estar no Município de Colares, no Estado do Pará, a realidade de nossos jovens não é diferente. Os jovens sofrem com violência, tráfico de drogas, consumo de álcool e outras drogas ilícitas, aids e gravidez na juventude. Isso tudo contribui para cristalizar uma imagem negativa para a juventude. É preciso educar para não transformar a juventude em idade problemática. Olhando o jovem como sujeito de direitos – os problemas que atingem o jovem passam a serem vistos como expressão de necessidades e demandas não atendidas.
A juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma passagem para a fase adulta. Nela o indivíduo vai se descobrindo, descortinando as possibilidades em todas as instâncias da vida social, desde a afetiva até a profissional. Buscar perceber como os jovens estudantes constroem o seu próprio modo de ser é um passo para compreender suas experiências, necessidades e expectativas. As identidades juvenis se constituem em espaços-tempos de sociabilidades e práticas coletivas, colocam em jogo interesses comuns que dão sentido ao “estar junto” e ao “ser parte” dos grupos também constitui o “nós” que se diferencia dos “outros”. Não podemos tomar nossa própria experiência para estabelecer quadros comparativos com os “jovens de hoje”. São os que vivem a juventude hoje que sabem e sentem o que é ser jovem. Podemos e devemos, para que a relação educativa faça sentido, nos aproximarmos da compreensão do que é viver a juventude atualmente. O jovem hoje tem acesso a várias tecnologias digitais como a internet através de computadores ou celulares que é bem mais comum. E bem poucos professores vão à internet ler o que seus alunos escrevem e poucos se aventuram a tentar interpretar o sentimento que há por traz de seus textos e posicionamentos. As redes sociais viraram como uma “pandemia” entre os jovens. As tecnologias digitais são, pois, um elemento importante na construção da cultura juvenil. Os jovens de hoje são nativos digitais. Alguns professores parecem não compreender as novas formas juvenis de conduzir a própria existência, produzida pela intensa conexão com as tecnologias digitais. A cibercultura pode ser uma aliada no trabalho escolar tornando-se potencialmente educativa. Os jovens são desafiados a fazer uso seguro e crítico das novas tecnologias na perspectiva de dominar os instrumentos do conhecimento e não ser dominados por elas. E, assim, nós professores podemos ser mediadores importantes nesse processo.
O jovem deve ser instruído a ter projeto de vida, o que o permitirá fugir de determinismos e improvisos. Assim, seus desejos e fantasias que lhe dão substâncias são transformados em objetos passíveis de serem perseguidos, representando, assim, uma orientação, um rumo de vida. É na juventude, especialmente na adolescência, que o sujeito começa a se perguntar que rumo tomar na vida. Muitos jovens buscam o trabalho como projeto de vida, mas grande parte dos jovens de nossas escolas são pobres e necessitam trabalhar e estudar. Alguns jovens trabalham por necessidades, ao passo que outros o fazem em busca de uma conquista de autonomia. Mas, sem estudo, afirma Araújo e Alves, a inserção no mercado de trabalho é marcada por uma inclusão precoce, desqualificada e de baixos rendimentos, mais é uma estratégia necessária para a sobrevivência do jovem. Os jovens se inserem no mundo do trabalho por caminhos e motivos diversos. Como o Ensino Médio é a etapa final da escolarização básica, deve proporcionar uma formação geral para a vida, articulando ciência, trabalho e cultura, assim rege a Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional Brasileira (LDB 9.394/96).
Precisamos ainda compreender o território em que o jovem se encontra. Território se define pelo uso que as sociedades e comunidades fazem do espaço. Uma escola situada numa região rural tem que se aperceber das demandas, necessidades e cultura própria de seus jovens que não são as mesmas da juventude que vive em áreas urbanas. A constituição social dos territórios se dá por meios de relações estabelecidas por indivíduos e grupos humanos. E isso envolve valores, conflitos, interesses, convergências e relações de poder. A vivência no território constitui uma base importante para a história de vida dos jovens e fornece elementos significativos para trabalhar questões diversas em todas as disciplinas e áreas do currículo.
A formação para a cidadania exige que tratemos da temática juventude e participação junto a sua relação com a escola. A experiência participativa é, por sua própria natureza, uma experiência educativa e formativa. A dimensão educativa e formativa da participação pode propiciar aos jovens o desenvolvimento de habilidades discursivas, de convivência, de respeito às diferenças e liderança, dentre outras capacidades relacionadas com o convívio na esfera pública. A escola é para os jovens um espaço de se fazer amigos, compartilhar experiências, valores e delinear projetos de vida. Na escola, os jovens alimentam expectativas de que ela pode contribuir efetivamente para suas vidas. Enquanto para alguns jovens estudantes, a escola representa uma obrigação imposta pelos pais ou sociedade, para outros, estudar está diretamente relacionado à sua inserção no mercado de trabalho. Nas sociedades modernas, a escola é a instituição que tem a função específica de forjar as novas gerações para a vida social. Quanto ao abandono ou permanência escolar, alguns jovens assumem a responsabilidade pelo fracasso ou êxito, ao passo que outros atribuem a problemas internos da escola, como a falta de infraestrutura ou a má relação professor-aluno.
Ressalto aqui que não podemos culpar somente a nós professores pela má qualidade da educação, somos, também vitimas e fazemos mais parte da solução do que do problema. Segundo Araújo e Alves, o ensino médio tem a função social de consolidar uma formação que se iniciou na pré-escolar e no ensino fundamental, que deveria servir para que todo cidadão conseguisse se comunicar com clareza; pensar logicamente; se situar no seu tempo e no seu espaço; compreender os fenômenos físicos, químicos, biológicos, sociais de modo a ter as ferramentas para decidir autonomamente sobre os rumos de sua vida e colaborar para a organização da comunidade onde está inserido. E nós professores podemos contribuir para isso, pois a escola não é apenas um espaço de aprendizagem, mas lugar social de vivencia e experiência da condição juvenil.

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imagem de Cristiane Trindade dos Santos

PANORAMA DA JUVENTUDE E A EDUCAÇÃO ESCOLAR: O JOVEM COMO SUJEITO

Após ler o artigo do Professor Walter Miranda sobre:PANORAMA DA JUVENTUDE E A EDUCAÇÃO ESCOLAR: O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO. Por sinal muito interessante onde retrata a realidade dos alunos do ensino médio.Posso acrescentar que o professor tem muito a contribuir com os jovens que estão cursando o ensino médio em escolas publicas em municípios pequenos, como é o caso do Município de Colares, aonde a maioria dos jovens que chegam à escola vem do meio rural, jovens esses que precisam de incentivo e ajuda para despertar dentro de si seus sonhos que ainda estão adormecidos, que se manifestam como criança inocente, que ainda precisam de proteção e orientação. Como foi citado em seu artigo “muitos vem por obrigação de terminar o ensino médio, ultima etapa da educação básica”. Acredito que é neste momento que nós como educadores podemos contribuir ainda mais com esses jovens, Como diz o ditado: “cidade pequena, sonho pequeno” é o momento de apresentar o mundo, vamos usar as tecnologias que o aluno usa em seu celular, dizer o quanto eles são capazes de ir além de um ensino médio de um emprego por necessidade, que podem e devem ser grandes pessoas com influência para sua cidade em especial para sua família. Enfim que o jovem que vem do meio rural que sofre, também pode ser advogado, mestre, médico, juiz, professor, etc. basta sonhar e acreditar.

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