Dias Santos? No Santos Dias! - RJ
Percebemos que a relação com a Escola Estadual Santos Dias seria diferente desde o dia que fizemos a apresentação do portal para o ensino médio da escola[1]. A adesão não foi pequena, o debate foi rico, vários alunos navegaram no portal e propuseram a criação de novas comunidades, a internet funcionou, enfim, estávamos diante de uma escola que viu efetivamente o portal como um espaço de extensão escolar e muito bem nos recebeu. Assim, estavam presentes na oficina não só discentes, mas também alguns docentes da escola. Propusemos, como de habito, três atividades: uma de fotografia, outra de video e uma terceira, de audio. Eu coordenei a atividade de produção de áudio, que aqui procurarei relatar.
A participação nas atividades é feita preferencialmente por escolha. Cada grupo de trabalho é montado de acordo com o interesse do partipante. No grupo que coordenei tinham duas professoras, um professor e mais quarto alunos. Todos se diziam interessados na produção de audio. O professor (lingua portuguesa) nos contou que escolheu a atividade de produção de audio porque já trabalhou em uma emissora de radio. Os meninos disseram que tinham vontade de montar uma rádio na escola.
Começamos ouvindo alguns exemplos de PodCasts e vinhetas. Como todos somos ouvintes em potencial de radio, os exemplos mostrados suscitam rapidamente a memória de outros exemplos, que são narrados pelos participantes, enriquecendo a criatividade do grupo. Essa conversa é fundamental para decidir/refletir junto com eles sobre o uso que sera dado a produção do grupo. Outro passo fundamental é pensar o conteúdo do trabalho. O que há de interessante acontecendo na escola ou nas suas vidas de estudantes que mereça ser transformado em um arquivo de áudio? Por último decidimos o formato. No caso das nossas oficinas, trabalhamos apenas com dois formatos, devido à carga horária de 4h (ver descrição da metodologia).
No Santos Dias os participantes optaram por trabalhar com o formato Vinheta fixa seguido de informes. Com essa opção o grupo geralmente aproveita a vinheta (fixa) e atualiza somente os conteúdos ao longo do ano letivo. O grupo decidiu ainda que seriam produzidos três tipos de conteúdos: um dedicado à agenda escolar, informando sobre eventos, provas e atividades que ainda estão por acontecer; outro dedicado a notícias, informando sobre fatos, eventos e atividades ocorridos na escola e um terceiro dedicado a dicas culturais.
Ainda com a participação de todos foi decidido o nome do programa. Por sugestão do professor de língua portuguesa, o grupo experimentou várias ideias fazendo trocadilhos com o sentido do nome da própria escola: santos dias/dias santos. Assim foi definida a vinheta fixa: “ Dias santos? No Santos Dias!”. Por sugestão de uma das professoras foi feito um complemento no texto: “ Dias santos? No Santos Dias! Fique focado!”.
Na visão do grupo, a ideia de “dias santos” faria uma referência aos dias prazerosos vividos na escola. Esse seria então o conceito da peça de áudio que estávamos produzindo. A partir daí o grupo se dividiu para pesquisar os informes, as notícias e o conteúdo cultural vinculados à escola; parte do grupo interessada em trabalhar como locutor ficou fazendo testes de voz e outra parte ficou encarregada de escrever os textos para a gravação das três peças.
Gravamos os textos e editamos de forma que todos pudessem acompanhar o processo e entender melhor o fácil manuseio do programa de computador utilizado (audacity). O resultado deixou os participantes muito satisfeitos. Os professores identificaram imediatamente formas de utilização dos recursos sonoros em suas aulas, ressaltando a capacidade dinâmica do processo, o resgate da escrita, o investimento na pesquisa e na reflexão. Os meninos convocaram a escola à participação nos próximos PodCasts.
O grupo transferiu o arquivo via Bluetooth para os telefones celulares e nós fizemos o upload para o portal EMdiálogo e assim finalizamos o trabalho, sem maiores dificuldades. Cabe notar, entretanto, que a participação dos professores junto aos alunos sempre foi para nós da equipe a perspetiva ideal de trabalho. Desse modo colocaríamos os dois grupos (discentes e docentes) em um mesmo campo de ação, no qual o primeiro grupo, pela interação que tem com as novas tecnologias, assumiria também o papel de ensinador, reorganizando a assimetria de poder nas relações entre professor e aluno.
Mas na prática não é bem assim que acontece. A dificuldade maior que encontrei com este grupo esteve justamente na mediação entre a relação professor/aluno. Os primeiros se posicionaram o tempo todo como leigos no assunto, nomeando os jovens como dominadores da questão, se posicionando por vezes dependentes deles para o desenvolvimento do trabalho, mas do ponto de vista da produção dos conteúdos – questão central para nós da equipe EMdiálogo - a tão enaltecida autonomia jovem já não teve as mesmas chances. Uma das pautas colocadas pelos alunos como proposta de uso potencial do arquivo que estávamos produzindo seria o destaque/informe dos professores faltosos. Mas neste caso não houve mediação. A proposta foi delicadamente substituída por outra trazida imediatamente por uma das professoras e eu, muito a contragosto, não encontrei caminhos para esgotar a questão trazida pelos alunos. Sim, o resultado do trabalho ficou muito bacana, mas é evidente que temos um longo caminho a percorrer.
[1] (antes da oficina a equipe EMdiálogo/UFF faz sessões de apresentação do portal no auditório para todo o ensino médio e ao final abre inscrições para os interessados em aprofundar o debate nas oficinas)
