Escola da Vez

O que se propõe aos estudantes do Ensino Médio?: 

Relato/metodologia sobre oficina de vídeo do projeto Escola da Vez, realizado em 2012 pela equipe EMdiálogo/UFMG

No segundo semestre de 2012 a equipe EMdiálogo/UFMG elaborou uma nova oficina para o Escola da Vez, projeto que busca criar um espaço de comunicação e interação em escolas públicas de Minas Gerais, além de procurar estabelecer novos vínculos entre estudantes do Ensino Médio e o Portal EMdiálogo. O projeto propõe também uma metodologia que contenha um fim em si mesmo, ou seja, que possibilite aos estudantes construir coletivamente um trabalho que seja por eles identificado como uma expressão de si mesmos. Os meios utilizados estão no campo das tecnologias da comunicação, abordadas através de técnicas presentes no cotidiano dos estudantes.
Uma das experiências da Escola da Vez em 2012 se deu na Escola Estadual Maria Luiza Miranda Bastos, na região norte de Belo Horizonte, uma das 11 escolas a integrarem um piloto do programa Reinventando o Ensino Médio (versão mineira do Ensino Médio Inovador), da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. Na primeira etapa do trabalho junto a essa escola, apresentamos o portal EMdiálogo a 14 turmas do 1º e 2º anos do Ensino Médio, lançando a proposição “Diário de um estudante”, que consistia na produção de um vídeo com o tema “Minha vida de estudante”, aproveitando a proposta do Festival Nacional Imagens EMdiálogo, cujo calendário coincidia com a oficina naquela escola. A idéia de propor a criação de um trabalho no formato de diário veio como uma estratégia de lidarmos com a linguagem do documentário, visando exercícios de observação da realidade cotidiana em torno dos estudantes e, posteriormente, da elaboração narrativa a partir dessa observação.
Nessa primeira etapa da oficina, de apresentação do portal e proposição das atividades, é importante ressaltar um dado fundamental da metodologia trabalhada pela equipe: a autonomia na seleção dos alunos que participariam da oficina. Em cada uma das turmas pelas quais passamos apresentando o Portal,deixamos a tarefa da “auto-seleção” com os jovens. Cada turma teria que eleger dois representantes que iriam participar das atividades práticas, relacionadas à experiência técnica com fotografia, produção textual e audiovisual. Consideramos essa metodologia pertinente primeiro por deixar a responsabilidade desse primeiro passo para a participação nas mãos dos jovens, com regras e organização que eles mesmos definiriam, sem a necessidade de estabelecermos de nossa parte critérios arbitrários, que muitas vezes acabam repetindo certa lógica excludente das atividades escolares; e, segundo, por estabelecer como principal critério de seleção o desejo de cada um em participar das atividades, ou seja, só participariam da oficina aqueles estudantes que se sentissem dispostos a tal. Ao final da oficina, esse ponto da metodologia (em comparação com outras atividades do mesmo projeto em que a seleção foi feita de outra forma) revelou-se sensivelmente eficaz no que diz respeito ao engajamento participativo dos jovens e ao senso de responsabilidade em relação às tarefas.
Na segunda etapa da oficina, os jovens “auto-selecionados” tiveram quatro encontros com a equipe de educadores do EMdiálogo/UFMG, totalizando uma carga horária de 16hs. Antes do primeiro encontro tivemos a tarefa de articular com a diretoria da escola um esforço de manutenção do laboratório de informática, mais do que isso tivemos de articular a reabertura do espaço, que trazia um cartaz em sua porta a frase: “Proibida a utilização do laboratório até segunda ordem”, sem mais explicações. Solicitamos então o religa mento da internet e a manutenção da rede e dos equipamentos disponíveis (basicamente computadores, com sistema Linux instalado, incluindo software de edição de vídeo, e fones de ouvido).
No primeiro encontro, após uma dinâmica de “entrosamento” entre os participantes, iniciamos uma roda de conversa sobre o tema “Minha vida de estudante” em que procuramos dialogar sobre como seria a rotina de estudantes dos jovens que participavam da oficina, deixando abertos quais seriam os temas específicos que cada um iria focar. Como referência para a discussão, utilizamos o vídeo “O Paradoxo da espera do ônibus” e o texto “Diário de Bárbara Pina”, materiais que selecionamos por retratarem representações do cotidiano urbano de jovens da mesma faixa etária.Essas duas referências se mostraram bastante eficazes no sentido de provocar o envolvimento dos jovens.
Após essa conversa inicial, apresentamos a proposta da oficina. Desenvolvemos um mini-curso sobre técnicas de fotografia e assistimos a referências de vídeos realizados com imagens em fotografia still, formato que escolhemos por se fazer mais simples na montagem do vídeo e dado que trabalhamos apenas com os equipamentos disponíveis na escola, sendo que as câmeras usadas eram dos próprios alunos. Realizamos uma leitura coletiva do poema “O fotógrafo” de Manoel de Barros, com o objetivo de refletir sobre noções de expressão fotográfica e textual. E então orientamos a produção de fotografias que deveriam ser apresentadas no encontro seguinte, a partir de algumas questões/aspectos norteadores:
- Tempo: a vivência do tempo, rotina, horários, o que faz durante o dia.
- Territórios/espaços: onde vive, por onde anda, para onde vai, trajetos que percorrem, lugares que freqüenta no dia, forma e meios de locomoção.
- Sociabilidade: pessoas com quem convivem, pessoas que encontra situações vivenciadas no dia, família, grupo de amigos, relações amorosas, o que gosta de fazer no tempo livre.
No encontro seguinte, após a visualização, socialização e seleção das produções fotográficas dos/as alunos/as, desenvolvemos, coletivamente, a elaboração do roteiro para a criação de um vídeo, enquanto voltávamos em questões concernentes à criação de roteiro. A intenção neste momento da oficina era de que as imagens do cotidiano de cada um fossem reunidas dando origem a uma única história (em cada grupo),construída a partir de olhares e realidades múltiplas. Assim foram escritos os roteiros, depois da produção fotográfica, assistindo às imagens feitas nos dias anteriores, flashes da vida de cada um dos alunos da oficina. Esse método segue a lógica do cinema documentário, de não cercear com um roteiro pré-estabelecido o potencial criativo presente no cotidiano e na realidade. (Importante ressaltar que tratamos aqui da idéia de documentário em sua concepção que permite a fabulação, a invenção e a criatividade, a partir de dados, imagens, fragmentos de histórias da realidade).
Nos outros dois encontros seguintes, realizamos, sempre de forma coletiva, a edição em tratamento do material produzido e a gravação do áudio para o vídeo.
Nesse processo concluímos que a carga horária disponibilizada pela escola (a partir da qual criamos a metodologia) foi pequena para se trabalhar com aprendizado na área do vídeo; precisaríamos de no mínimo mais dois encontros. A realização de oficinas de vídeo sem fornecer equipamento aos alunos é um tema que segue um tanto contraditório: de um lado, propomos trabalhar com o que temos nos expressar com as ferramentas do nosso cotidiano, da nossa realidade - e mostrar que é possível criar algo daí; de outro, primeiro que nem todo mundo tem celular que tira foto ou câmeras, segundo que pode ser um papel nosso prover melhores condições, apresentar uma estrutura de produção profissional, e trabalhar sem os “ossos” da precariedade, o que geralmente vai interferir em uma certa qualidade do resultado.
Outra conclusão que podemos extrair desse processo está ligada ao fato de que, como o cinema é, em geral, um trabalho coletivo, é muito importante uma atenção individualizada em relação aos jovens, pois cada um tenderá a se desenvolver mais em um aspecto da linguagem (fotografia, roteiro/escrita, atuação, montagem, trilha sonora etc.) Pelo fato de ser, por natureza, um meio de expressão polifônico, consideramos o vídeo um bom campo para se trabalhar o conceito de “inteligências múltiplas” e de criação coletiva/trabalho em equipe.
Como resultado dessa oficina, ressaltamos aqui o vídeo “O Tempo”, que participou do Festival Imagens EMdiálogo” e nos alegrou com o resultado e a capacidade criativa do grupo. O vídeo pode ser assistido no link abaixo:

Autor desta proposta: 
Aline Ferreira
Andreza Fortini
Camila Said
Douglas Resende
Francielle Vargas
Michel Montandon
Shirlei Salles
Sylvia Amélia