PROPOSTA DE PROJETO INTERDISCIPLINAR NA ÁREA DE LINGUAGENS

PROPOSTA DE PROJETO INTERDISCIPLINAR NA ÁREA DE LINGUAGENS
Adriana Biancato
Ana RitaMachado
Evi Weber
Juliana Gobbi
Michelle Scanagatta
Rodrigo José Lopes
Roseny Dalla Valle

O conceito de beleza, por meio de padrões estéticos definidos, sempre fez parte das diferentes civilizações, sendo um dos aspectos que constituem uma sociedade em determinado momento histórico e contexto social. De acordo com Rublescki (2007), “O que se tem notado é que nas últimas décadas, a mídia desempenha papel essencial na divulgação e reprodução daquilo que é tido como modelo de corpo “ideal” e assim, produz discursos, vende ideias, produtos, padrões e estilos”.
Diante dessa perspectiva, fora proposto a uma turma de 2º Série do Ensino Médio Profissionalizante, na faixa etária de 15 a 16 anos, que analisasse uma capa de revista e transcrevesse suas principais impressões sobre ela, atendo-se aos aspectos de beleza e estética, conteúdo, gêneros textuais predominantes, efeitos de sentidos, uso de imagens e organização com intuito de analisar aspectos linguísticos e não linguísticos nas capas de revistas, relacionando as escolhas do produtor da capa com a maneira que ele pretende que o interlocutor leia a revista/matéria da capa, além de examinar o ponto de vista da revista perante a situação divulgada, reconhecendo essa como um gênero textual.
Após a análise, pretende-se criar capas de revistas “imaginárias”, que tratem do tema padrão corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele da revista analisada, a fim de retratar uma situação específica, com noções mais amplas de letramento digital ao criar capa de revistas online ou modificar fotos. 
Assim, a turma recebeu a primeira imagem:
Figura 1- Capa da 1ª edição da Revista Vogue
https://www.dropbox.com/s/lvl1jsj3q8hcgwe/vogue%201.jpg?dl=0
A primeira edição da revista Vogue, publicada em 17 de dezembro de 1892, tem uma cara completamente diferente da revista que conhecemos hoje. A capa original era feita com uma ilustração em preto e branco, sem nenhuma personalidade da mídia, visuais ousados, ou manchetes em negrito.
Em seguida, receberam as demais imagens com capas atuais da revista:
Figura 2 – Capa recente da Revista Vogue
https://www.dropbox.com/s/lvl1jsj3q8hcgwe/vogue%201.jpg?dl=0
Figura 3 – Capas recentes da Revista Vogue
https://www.dropbox.com/s/hrv4z4jrtotx7qf/vogue2.jpg?dl=0
https://www.dropbox.com/s/y40hkq49ebvqfqy/vogue3.jpg?dl=0

Após a análise e as primeiras impressões acerca das capas, questionou-se a turma:
1. Qual o nome desta revista?
2. É possível qualificar a revista apenas pelo nome? Ou ainda: a revista, a partir de seu conhecimento de mundo, já te informa alguma coisa antecipadamente?
3. Que público costuma ler a revista (sexo, idade, escolaridade, classe social)?
4. Qual a imagem em destaque na capa?
5. A partir dessa imagem é possível pensar sobre o quê?
6. Como essa imagem é apresentada? Em primeiro ou segundo plano? E quais os efeitos de sentido provocados?
7. Existe mais de uma imagem? Como é a disposição dela(s) na página? O que essa disposição indica? E as cores utilizadas? Existe alguma relação com o assunto?
8. Onde você imagina que essa pessoa possa estar? O que o levou a essa conclusão?
9. Qual a predominância de cores dessa capa de revista?  Além disso, o que a linguagem verbal escrita apresentada revela?
10. Qual a sua sensação acerca do que vê?   O que mais lhe chamou a atenção? Por quê?
11. Em se tratando de padrões de beleza e estética, o que as imagens da revista revelam? Você concorda com isso? Por quê?

Dentre as reflexões discutidas, percebe-se que a turma tem clareza sobre a revista e seu nome, a interpretação das imagens e o que elas representam como pode ser observado em algumas transcrições, como:
“Pelo nome já se tem uma ideia do que é a revista”.
“É uma revista de moda, já informa o público do seu conteúdo, o nome e a capa já dizem muito”.
“A revista é mais voltada à classe média alta, destinada a adultos, jovens e adolescentes que se se interessam por moda”.
  “É para pessoas antenadas nas últimas tendências da moda”.
“A imagem que se destaca em todas as capas são as mulheres, com roupas, modelos e celebridades”.
“As imagens são evidenciadas em tamanho grande, sempre o foco nas celebridades, em primeiro plano com o modelo sempre olhando o leitor”.
Quando questionados sobre as impressões e sensações que têm ao observarem as capas das revistas, nota-se que o grupo percebe a intenção e a imposição de certos padrões estéticos:
“Ela causa inspiração naquele que vê, pois quando se vê a revista e o modelo olha para quem lê, dá ideia que te vê e te inspira a ser como ele, se vestir como ele”.
“As imagens da capa indicam sensualidade com naturalidade e elegância”.
“As cores, combinam com o modelo e com a estação do ano, mas sabemos que são montagens em cenários perfeitos, com muitos profissionais para garantir a imagem perfeita, porque essa é a intenção”.
Assim também se nota que alguns se manifestem concordantes com este estereótipo de beleza e comportamento, pois têm estabelecido o mesmo modelo exposto:
“Quando se vê revistas como essa, a sensação que se tem é de querer ser um modelo ou celebridade, com cores e corpos perfeitos, pois o ser humano de bom gosto procura tudo que é perfeito”.
“O que chama a atenção é o padrão estético que se tem em cada capa, com looks, maquiagens e acessórios daquilo que se espera que tenhamos”.
“As imagens revelam que um corpo sarado, corado e ‘saudável’ é um padrão, mas não concordamos porque as condições impostas não condizem com as condições de muitas pessoas em se manterem, tanto financeiramente como em questões de saúde”.
“Elas apontam o corpo sem defeitos, isso é bom porque o corpo deve ser sem rugas e perfeitamente alinhado”.
“As imagens mostram uma busca pela estética perfeita, mas cada um deve ter seu padrão dentro de si e ele deve seguir”.

Em seguida, após as reflexões, fora proposto que, em equipes, elaborassem uma nova capa de revista, com uso de recortes e imagens, além de outros recursos midiáticos, baseados na visão que o grupo conclui que a sociedade e a mídia propõem como ideal de beleza masculina e feminina nos dias de hoje e, outra capa, segundo o ponto de vista do grupo sobre como representariam esse mesmo ideal.
Figura 4 – Capas produzidas pelos grupos sobre o ideal de beleza masculino e feminino da sociedade
https://www.dropbox.com/s/1rgh4v05k4niz4r/vvv.png?dl=0
https://www.dropbox.com/s/vnr8c6qlh5pfliw/cap3.jpg?dl=0
https://www.dropbox.com/s/tjt6itljpqdne66/capa6.jpg?dl=0
https://www.dropbox.com/s/l1o57k1pddokb1i/capa2.jpg?dl=0
https://www.dropbox.com/s/vnr8c6qlh5pfliw/cap3.jpg?dl=0
Fonte: PRÓPRIOS AUTORES, 2015.
  Figura 5 – Capas produzidas pelos grupos sobre o ideal de beleza masculino e feminino da equipe
https://www.dropbox.com/s/k33s29upbuaz8th/capa5.jpg?dl=0
https://www.dropbox.com/s/ne26tw2xh8una41/capa%201.jpg?dl=0
https://www.dropbox.com/s/w2411eiw2e0z6ah/cap4.png?dl=0
https://www.dropbox.com/s/4tsrk9gfqydqu3k/capa%20TPM.jpg?dl=0
Fonte: PRÓPRIOS AUTORES, 2015.
Nesta proposta, os alunos serão avaliados conforme atividades realizadas nas aulas, por meio de participação nas discussões orais sobre as capas da revista, produção do ensaio sobre análise oral da elaboração e apresentação das capas de revista (como gênero).
Meurer (2000) destaca que a importância do estudo do gênero nas aulas de Língua Portuguesa está no fato dele se constituir em uma opção mais atraente do que o ensino da linguagem humana fundamentada na gramática, coesão, modalidades retóricas e coerência na medida em que “responderia de maneira mais adequada a questões relativas aos diferentes usos da linguagem e sua interface com o exercício da cidadania”. O autor ainda afirma que a ineficiência da abordagem tradicional se deve exatamente ao fato de não se preocupar e não dar conta das “situações específicas em que os indivíduos efetivamente utilizam a linguagem como instrumento de interação, reprodução e/ou alteração social”.
A linguagem do gênero textual anúncio publicitário, como destaca Garcia (1988), “utilizado na publicidade midiática como um meio pelo qual o ser humano pode entrar em contato com um universo totalmente abstrato e idealizado, capaz de convencer e nortear os seus desejos mais recônditos e suas artimanhas encantadoras de persuasão, não pode deixar de ser analisada sob o ponto de vista crítico e ideológico”.
Acerca desse tipo de linguagem, Carvalho (1996) comenta que “a publicidade elabora um discurso, uma linguagem que sustenta uma argumentação icônico-linguística com fins de convencimento consciente ou inconsciente do público-alvo”.
Assim, o gênero anúncio publicitário funciona como um estímulo motivador para sensibilizar e condicionar psicologicamente os desejos do indivíduo, criando uma necessidade, através da repetição e da visualização, principalmente no campo dos conceitos e das imagens, interferindo no comportamento individual e coletivo, porque possui uma finalidade utilitarista que o aliena plenamente. Tal gênero se torna algo natural e simples, presente na vida social e individual dos sujeitos, por meio de uma linguagem simbólica carregada de força e de poder (ALVES & CALVO, 2007).
Desta maneira, de acordo com Garcia (1988), as respostas provocadas pela linguagem simbólica no ser humano podem induzir a diferentes sentidos, observados em todas as culturas e comunidades, desde grupos mais primitivos até as sociedades mais complexas. A linguagem visual ou escrita, de acordo com o gênero, sempre provocará uma ação e uma reação. Contudo, há um acordo tácito, um contrato entre produtores e consumidores (PINHEIRO apud DIONISIO et al, 2005, p. 275).
E neste sentido, a linguagem significa uma aproximação entre a realidade e uma “liberdade” mesmo que fictícia e ilusória.
As mudanças, em textos midiáticos, objetivam a atrair e/ou atender exigências de audiências seletivas que, muitas vezes não suportam o “novo”, com sabor de ineditismo, mas também não suportam o “velho”, totalmente velho, sem maquilagens ou nova roupagem. Essa exigência conecta-se, com certeza, ao fato de os textos midiáticos serem barômetros sensíveis às trocas culturais que manifestam na sua heterogeneidade a desordem da natureza das trocas (PINHEIRO apud DIONISIO et al, 2005, p. 278).
Conhecer os aspectos que dizem respeito aos anúncios publicitários, os quais são “apreciação valorativa do agente produtor a respeito do tema dos destinatários, das relações sociais, institucionais e interpessoais da parceria locutor-interlocutor na instância social” (CRISTOVÃO; NASCIMENTO, 2004, p.22), proporciona aos sujeitos estarem aptos a discutir sobre os problemas sociais diversos, através de exposições e argumentações ampliando os seus saberes, não se alienando ou se deixando manipular pelos mais diferentes meios de comunicação, traduzindo os mais diferentes objetos para que haja uma interação social do sujeito com o seu meio a fim de transformá-lo (ALVES & CALVO, 2007).
Isso tudo nos levar ver a relação intrínseca das Linguagens com as outras áreas do conhecimento, uma vez que o olhar crítico e argumentações e bem elaboradas requerem uma série de aspectos de formação humana, social e política, embasadas pelas áreas das ciências humanas, principalmente, não somente a literária.
Os conhecimentos considerados como relevantes nos componentes curriculares da área de Linguagem para esta análise são representados pela compreensão dos recursos linguísticos e efeitos de sentido que produzem, como por exemplo, a persuasão do leitor.
As relações estabelecidas nas dimensões trabalho, cultura, ciência e tecnologia são evidenciadas por meio dos aspectos que compõem os gêneros textuais presentes, considerando o suporte textual em que se encontram (revista), uma vez que carrega diferentes recursos na sua produção.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rosângela Aparecida; CALVO, Luciana Cabrini Simões. O gênero textual anúncio publicitário: análise de sua implantação em sala de aula. Programas e Projetos - Produções PDE - Artigos - Língua Estrangeira Moderna. UEM, 2007. Disponível em <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/333-4.pdf> Acesso em 16 março 2013 às 18h35min.
CARVALHO, Nelly. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: ÁTICA, 1996.
CRISTOVÃO, Vera L. L.; NASCIMENTO, Elvira L. Modelos didáticos de gêneros: questões teóricas e aplicadas. In:______ (Org.). Gêneros textuais: teoria e prática. Londrina: Moriá, 2004, p. 18-29.
DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros Textuais & Ensino. 4.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
GARCIA, Francisco Luiz. Introdução crítica ao conhecimento. 1. ed. Campinas, SP: Papirus, 1988.
MEURER, José Luiz. O Conhecimento de Gêneros Textuais e a Formação do Profissional da Linguagem. IN: FORTKAMP, Mailce Borges Mota, TOMITCH, Lêda Maria Braga (org). Aspectos da Linguística Aplicada. Florianópolis: Insular. 2000.
RUBLESCKI, Anelise. O corpo-produto perfeito: Estratégias discursivas de beleza da revista Nova. 2007. Disponível em <www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/51212/55282> Acesso em 21 de setembro de 2015.