O futuro começa agora

PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DO ENSINO MÉDIO
PÓLO MARABÁ

                     
O futuro começa agora

                                              
                                                                                                                  Jovina Cristina Soares Leite
    O termo “adolescência” surgiu no final do século XIII, designando os anos posteriores à infância, ou seja, dos 12 aos 20 anos para meninas e dos 14 aos 20 para meninos. Ausente na maioria dos dicionários de língua portuguesa até meados do século XIX, só aparecendo na Antiguidade nos manuais de medicina, associada à segunda idade do homem- sendo a primeira a infância. A ausência do termo no mundo luso-brasileiro não é gratuita. Significa que a fase de amadurecimento ou de crescimento dos jovens se perdia, então, entre milhares de afazeres relacionados a sua sobrevivência..
    A juventude sempre suscitou reações ambivalentes e foi, em  diferentes épocas, percebidas e vivenciada de forma especifica, de acordo com o grupo social em que o jovem fazia parte. Por exemplo, segundo o historiador francês Philippe Ariés (1914-1984) entre o feudalismo e a industrialização ia-se diretamente da infância para a idade adulta ,sem passar pela adolescência. Na atualidade temos consciência que essa mudança não ocorre dessa maneira. Na idade Média, o termo “Juventus” significava realidades diversas; Juventus para os clérigos significava a entrada dos jovens no monastério; já para os jovens nobres dessa época o termo estava relacionado ao ritual de entrada na cavalaria com uma belíssima e sofisticada cerimônia de recepção. Mais foi a partir da metade do século XVIII, que conceitos como adolescência e juventude começaram a se consolidar graças aos avanços da medicina, pedagogia e da filosofia, tendo o filósofo Jean-Jacques Rousseau como o pioneiro a abordar a crise de identidade sexual na puberdade, no século XVII. No Brasil nos períodos anteriores a 1800, só sabemos dessa fase através dos documentos que relatam sobre os jovens das elites, em especial os dos séculos XIX e XX e oferecem uma vasta narrativa de adolescentes de outras classes sociais, como o relato da primeira comunhão, o aumento da escolarização, a passagem para o curso ginasial e o recrutamento e entrada para o mundo do trabalho.

    Conceituando ou não, reconhecendo ou não cada fase sabemos que ela existe, a criança ao passar para a fase da adolescência e juventude se depara com uma gama de mudanças , física, psíquica e comportamental ,nessas fases mudanças podem ser identificadas  de várias formas :nas questões sexuais ,na escolha da profissão; na busca de autoafirmação ;na capacidade de relacionamento ;nas discussões acaloradas e contraditórias ;no fluxo de paixões e indagações ;na contrariedade com a ordem instituída; nos sonhos e devaneios ;na forma de falar, de vestir; na necessidade de ser diferente, no modo de se julgar vítima de tudo e de todos, enfim, e nesse emaranhados de atitudes que o jovem está se firmando conforme a sua história de vida, as relações familiares, a situação financeira e suas  crenças religiosas .É  dessa maneira que ele  cresce  perante a sociedade como pessoa, como sujeito munido de direitos e deveres, esses processos de formação de identidade que vem a ser segundo Sprinthall & Collins (2003, p. 202) “A formação da identidade é encarada como um processo integrador destas transformações pessoais, das exigências sociais e das expectativas em relação ao futuro”.
    É um momento que segundo Almeida & Pinho (2008, p. 176):
                                      “(...) de confronto entre as fantasias e identificações da infância e as exigências reais, seja de uma profissão, seja do mundo adulto. Sendo assim, o adolescente que escolhe encontra-se numa fase de transição, de mudanças, de adaptação e de ajustamento, quando deixa para trás o mundo infantil para entrar na vida adulta.” Já para Gunther (1999): “A adolescência, por sua vez, constitui uma guerra interna e externa, cuja batalha central é a formação da identidade”.
    Por ser uma fase turbulenta, cheia de descobertas, emoções, conflitos, o jovem se depara também com questionamentos como: “Quem sou eu?”, “Para onde vou?”, ”Qual rumo devo dar à minha vida?”, questões dessa natureza estão ligadas ao projeto de vida, por isso a importância das escolhas bem pensadas, analisadas tem um preço, aliás, a valorização do amanhã tem um alto preço. Uma vez que segundo Gianetti “O presente foge, o passado é irrecobrável e o futuro incerto”.
    Como projetar o futuro, se os jovens vivem suas crises existenciais, mudam com frequência de opinião, questionam a autoridade dos pais, opõem-se ao status quo, andam em grupos, sonham com um mundo diferente, oram querem ser médicos, oram astronautas, vivem suas escolhas com tamanha intensidades que muitas vezes são lembrados com a máxima “juventude igual a tempestade e tensão”, como falar de projeto de vida, de escolhas para o futuro, uma vez que ele é um individuo não adulto, que não usufrui determinados atributos e habilidades necessários para tomadas de decisões.
    Todavia se faz necessário instigar esse jovem a pensar no futuro. Essa não é um prática comum entre os jovens, principalmente os que frequentam o  Ensino Médio, uma vez que a escola não proporciona a eles espaços e tempos de reflexão sobre os anseios , desejos , habilidades, sonhos e projetos. “A elaboração de um projeto de vida é fruto de um processo de aprendizagem, no qual o maior desafio e aprender a escolher. Na sociedade contemporânea, somos chamados a escolher, a decidir continuamente, fazendo desta ação uma condição para a sobrevivência social. A escolha também é objeto de aprendizagem: aprendemos a escolher e a nos responsabilizar pelas nossas escolhas. Um e outro se aprendem fazendo, errando, refletindo sobre os erros. Essas são condições para a formação de sujeitos autônomos. Cabe então perguntar: será que os jovens estudantes estão tendo oportunidade de exercitar, de aprender a escolher no cotidiano escolar? Quais os espaços e tempos que vêm estimulando a formação de jovens autônomos?” (BRASIL 2013 p. 32-33)
    Fazer escolhas é algo inerente ao ser humano e isso é um processo natural uma vez que ele nasce, amadurece ,envelhece e ao longo desse processo as escolhas são inevitáveis dentro de um tempo e de um espaço. Tomando por base o organismo humano sabemos que ele envelhecerá, as reproduções das células ao longo do tempo diminuirão; observando a natureza, o urso guarda reserva durante o verão para suportar durante o inverno a escassez do alimento. Ao optarmos por selecionar o que comer que atividade praticar fará a diferença no processo de envelhecimento. A valorização do amanhã tem um preço e esse preço decorre, sobretudo, das escolhas que fazemos ao longo da vida.
     Apesar de não sabermos por quanto tempo teremos vida, pensar no amanhã é uma necessidade humana. Escolhas são feitas todos os dias. Mas que valor atribuir ao futuro, em relação ao presente? Esse questionamento permeia o dia a dia dos jovens ou por imposição da família ou da sociedade ou pelo próprio jovem, por isso pensar em um projeto de vida é de extrema importância para o futuro. “Todos temos projetos e é isso que diferencia as condutas humanas dos comportamentos de outros animais, de natureza instintiva e repetitiva, porque a capacidade de projetar a existência no amanha é própria do humano”. (BRASIL, 2013 p.30)
   Para Bezerra apud Teixeira (2005, p. 20) “Só quando imaginamos o futuro com projeção de aspirações do presente é que o tempo atual passa a ser percebido como momento de gestação do amanhã. Assim a problematização do presente passa a ser um tema necessário, uma vez que o futuro (tanto o individual quanto o coletivo) já não esta mais pré-determinado, nem pertence a um designo supra-humano, ele depende em grande parte do que o sujeito faz ou deixa de fazer, dos seus erros ou acertos.” Mas como levar esse jovem que tem sonhos, no entanto, não o relaciona com o presente, e nem sabe dizer o que fazer no hoje para realizá-los no futuro? Ele não identifica as relações que existem entre o hoje e o amanhã.  A escola precisa ter um olhar para questões voltadas para o projeto de vida, sabemos que não podemos projetar pelos outros, os pais não podem projetar pelos filhos ,assim como a escola e seus professores não podem querer que os estudantes cumpram projetos da instituição , uma vez que ela  ignora os projetos que os jovens traçaram para si, assim como  ignora o  jovem que frequenta o Ensino Médio, que   é compreendido apenas na sua dimensão de aluno ,pois no espaço escolar ele perde  suas peculiaridades, a origem social, o gênero e a etnia, entre outras dimensões que o constituem como sujeito  .Nada disso são levados em conta .Como debater projeto de vida se essas dimensões são deixadas do lado de fora do espaço escolar. Como a escola se coloca diante dessa realidade? Será que a instituição escolar, principalmente a do ensino médio, seus gestores e professores buscam conhecer e refletir sobre a realidade dos alunos na sua dimensão de jovens? Esse é o grande desafio!!!
     Como utilizar essa proposição no trabalho pedagógico nas escolas de Ensino Médio? Ter resposta para essa nova demanda não é fácil porque esse é um tema ainda pouco presente no debate curricular brasileiro, no entanto é muito importante que a escola influencie positivamente os alunos, atuando diretamente na construção de seus projetos de vida, favorecendo a obtenção de melhores perspectivas de vida estimulando neles a capacidade de projetar e acreditar nos seus sonhos e desejos.” Afinal, mesmo que o os jovens estudantes não saibam exatamente verbalizar sobre seus projetos, o que eles e elas nos dizem, de uma forma ou de outra, é que almejam “ser alguém na vida” em outras palavras, demonstram de diferentes formas a busca em encontrar um lugar para si no futuro”. Lugar este que já se aproxima quando o projetamos com consciência. Nós, professores e professoras, podemos ser parceiros e construtores desses projetos para o futuro dos jovens e das jovens estudantes. Um caminho para isso é proporcionar chances para que os estudantes falem de si e de seus  projetos.” (BRASIL 2013 p.34)
    A escola precisa ser um espaço de diálogos, onde os jovens tenham acesso a reflexões, informações, habilidades e competências essenciais na construção de um projeto de vida. Projetar significa planejar, repensar valores, tomar providencias práticas, é fazer escolhas e poder dar passos seguros rumo a realização pessoal e assim, cada jovem, como pessoa saudável e feliz, terá a segurança necessária para ser protagonista da construção da sua própria história e da sociedade em que vive. Por isso é necessário organizar e planejar os rumos da própria vida e a escola não pode negar aos seus alunos esse espaço.