O direito à cidade: na busca por uma cidade mais humana

Pintar faixas de pedestre quando elas não existem, construir uma praça onde havia um estacionamento, criar um manual de construção para aumentar a qualidade das moradias em ambientes vulneráveis.

Essas são algumas ações apresentadas pelos coletivos ativistas Partizaning, da Rússia, Supersudaca, da América Latina, e CRIT (Collective Research Initiatives Trust), da Índia, em um debate da X Bienal de Arquitetura, realizado no último sábado (9/11), no Sesc Pompeia, em São Paulo. O que esses coletivos têm em comum? O pressuposto de que o espaço público é um ambiente transformador da sociedade – para eles, a ocupação da rua é crucial para promover mudanças sociais e culturais.

“A cidade é o nosso cenário”, explica o russo Meike, membro do Partizaning, coletivo que ocupa os mais diversos ambientes públicos de Moscou – desde o metrô até as caixas de correio – em um trabalho que conecta urbanismo, arte de rua, humor e ativismo. “Nosso papel é colaborar para a convivência entre cidadãos. No dia a dia vemos pessoas caminhando sérias. Na rua, poucas estão sorrindo. Brincar fomenta uma criatividade espontânea”, observa Shria, indiana que também participa do coletivo.

Na verdade, as brincadeiras citadas por Shria são intervenções lúdicas que estimulam o engajamento dos moscovitas na busca por uma cidade mais humana. Por exemplo: em um cruzamento onde não havia faixas de pedestres, mas a circulação de pessoas era intensa, o Partizaning pintou faixas no asfalto e facilitou a vida de muita gente. Também construiu bancos públicos em espaços nos quais não havia onde sentar. Já no metrô, o coletivo distribuiu um mapa com as distâncias reais entre as estações, mostrou os caminhos mais curtos e estimulou o uso de bicicletas para que os cidadãos se desloquem entre elas. Tudo isso sem autorização do poder público.

CRIT

Formado em 2003, o CRIT é um coletivo que atua na cidade de Mumbai, na Índia, e está envolvido em intervenções em espaços de urbanismo emergente, como áreas de habitação e periferias. “Procuramos formas de trabalhar com várias comunidades através da arte e da arquitetura”, informa Yogita Lokhande. “Hoje, o que vemos é uma cidade ofuscada, que não tem um limite certo – é tudo difícil de ver, há ambulantes em frente das paredes, há lojas na frente de lojas, carros na frente de pessoas, armazéns na frente de mercados. Não existe um contorno definido”, avalia a arquiteta indiana.

Recentemente, o CRIT desenvolveu o projeto Slum Settlement Studies, que estuda os aspectos geográficos das comunidades vulneráveis de Mumbai e oferece um manual para elas construírem suas moradias com mais qualidade. “Estamos resgatando formas diferentes de fazer essa prática”, afirma Yogita. Além desse manual, o coletivo também produziu um guia que enumera intervenções que uma comunidade pode fazer para recuperar um espaço público que está sofrendo especulação imobiliária.

Supersudaca

Um coletivo de arquitetos que não querem trabalhar para construir casas de ricos à beira-mar. É assim que se define o Supersudaca, grupo de arquitetos latino-americanos que produz intervenções no espaço público ao redor do mundo. “A arquitetura ou é teoria, ou é um ato político, ou serve para melhorar a vida do público? Para nós a arquitetura é tudo isso, por isso somos o Supersudaca”, relata o chileno Juan Pablo.

O coletivo existe há 12 anos e já concretizou mais de 160 projetos. “Todos incompletos”, entretanto, segundo os membros do coletivo. “O Supersudaca não encerra seus processos. Diferente da abordagem individual do arquiteto, o coletivo adota uma forma aberta, múltipla e flexível para desenvolver seus trabalhos”, conta o uruguaio Estevão. Desse modo, projetos como a Habitação Social Experimental em Lima, no Peru, ficarão inacabados e podem adquirir uma nova trajetória. “As obras abertas estão sujeitas à reinterpretações, seja teórica, acadêmica ou de construção”, afirma Juan Pablo. “Para nós, quando uma obra se mostra incompleta, ela está pronta.”

Esses coletivos nos mostram que é cada vez mais comum ver nas metrópoles projetos de intervenção urbana por parte da própria sociedade. Seja na criação de ferramentas, apropriação de espaços, hortas urbanas, os bikers, são vários os exemplos que demonstram ser cada vez maior a necessidade das pessoas participarem da “construção” do lugar onde vivem, se envolvendo na construção de uma cidade mais humana e se apropriado dos espaços urbanos. 

E você, o que acha desses movimentos? Participa ou conhece algum na sua cidade? Para você, o que é preciso fazer para garantir o direito à cidade a todos? Queremos saber a sua opinião! Vamos dialogar?!