Miniconto: O vento fala nos galhos.
Ao entardecer, por volta de 1964, Clarice menina mimada, olhava os últimos raios do sol escondendo-se por trás das nuvens avermelhadas. A noite se aproximava. Este fenômeno diário e natural a inquietava e angustiava.
Do alpendre, olhava as grandes árvores ao redor de sua casa. O vento soprava forte nos galhos produzindo um barulho assustador, parecia assobiar e até balbucear palavras indecifráveis. O coração de Clarice ficava apertado no peito, era uma sensação estranha, inexplicável, sentia vontade de chorar... "Não gosto da noite", pensava consigo mesma.
Não demorou muito e a lua cheia apareceu por trás da colina, linda e brilhante, mas todo aquele cenário deixava-a mais angustiada ainda. Era diferente das outras crianças e dos seus irmãos que aproveitavam o clarão da lua para brincar, ela não, não gostava. De repente o canto de uma ave noturna ecoou rasgando o silêncio da noite. Correu para dentro, sentia medo do canto das aves noturnas. E só sentia-se segura quando estava perto do pai. Este transmitia segurança para ela. O pai começava a contar histórias, e a menina acabava por esquecer os barulhos da noite.
O tempo passou, mas ainda hoje, Clarice não esquece dos seus medos noturnos de quando criança. E só agora, após estudar e pesquisar bastante sobre o assunto consegue entender o porquê de tudo aquilo. Hoje, após "superar e entender o problema ", Ainda continua a não gostar do entardecer...
Josy Sousa: professora de Língua Portuguesa e Literatura, supervisora do PIBID, CFP-UFCG, na EEEFM Monsenhor Constantino Vieira, Cajazeiras Paraíba.