Livro didático: uma árvore, uma semente, um fruto e alimento, ou cinzas?

Neste momento, está sendo o período onde acontece a escolha dos livros didáticos pelos professores, para o ano letivo de 2015, na etapa da educação básica do ensino médio.

O MEC afirma que, por meio desse Programa Nacional de Livros Didáticos para o Enino Médio (PNLDEM), após a indicação dos professores, serão comprados “cerca de 90 milhões de exemplares em benefício de 7 milhões de alunos do ensino médio.”

Concomitantemente,  nessa época também está se realizando a 23ª Bienal Internacional do Livro, que acontece entre os dias 22 e 30 de agosto, em São Paulo. O evento que conta com cerca de 480 expositores, para um público previsto de 800 mil visitantes, onde estão sendo expostos milhares de títulos de livros, tanto no formato tradicional, ou digital.

No último dia seis de junho de 2014 tivemos também a notícia de Cícero Pereira Batista, de 33 anos de idade, natural de Taguatinga, cidade satélite de Brasília, obtendo diploma na tão sonhada carreira de medicina. Foi um investimento de quase oito anos da vida do ex-catador, que só começou a fazer a graduação aos 26 anos.

"Minha família era muito pobre. Já passei fome e pegava comida e livros do lixo. Para ganhar algum dinheiro eu vigiava carro, vendia latinha. Foi tudo muito difícil pra mim, mas chegar até aqui é uma sensação incrível de alívio. Eu conseguir superar todas as minhas dificuldades. A sensação é de que posso tudo! A educação mudou minha vida, me tirou da miséria extrema." Cícero ainda contou que pendurava livros encharcados de chorume em varais para secar, e poder lê-los depois.

E por último agora, tivemos essa notícia de um outro catador de material reciclável, Antônio Osni Monn, que salvou 3000 livros didáticos do lixo. Ele foi contratado pelo diretor de uma escola pública, na grande Florianópolis, para dar fim a essa quantidade de livros, muitos deles ainda com a embalagem do MEC, que foram distribuídos nesse ano. Depois de o caso ganhar repercussão nas redes sociais, o diretor, que alegara que estava se desfazendo dos livros porque eles haviam sobrado, foi até o galpão onde estavam os livros, para buscá-los.

Afinal, o que essas notícias citadas acima tem em comum? Se observarmos, tanto o empenho do MEC para que o PNLDEM tenha êxito, a Bienal do livro em São Paulo, com seus milhares de livros e visitantes, a história do Cícero que se formou em Medicina, e que pegava livro no lixo, assim como do catatador Antonio que salvou os 3000 livros, todas essas situações mostram o valor que as pessoas dão para o livro em si, como fonte de conhecimento.

Ou seja, os coordenadores de um PNLDEM, de uma Bienal do livro, e o catador de reciclável Antônio, vem no livro a semente.

O Cicero, que pegava o livro no lixo para ler, um fruto, um alimento;

Agora, para um professor que despreza por completo este recurso didático, assim como o educando, que o trata com desmazelo, desleixo, deixando-o jogado no chão da sala de aula, veja-o ao menos como árvore que foi. E imagine quantas delas não foram necessárias serem derrubadas para que se confeccione 90 milhões deles, como está sendo produzido agora.

E pior ainda é pertencer àquele grupo de pessoas que ignora toda essa realidade, o valor do livro, quer seja enquanto recurso didático, enquanto árvore que foi, ou ainda nos milhões de reais despendidos para sua fabricação; como se portou o diretor da escola pública.

Ou seja, para este grupo de pessoas, mesmo que ele esteja novíssimo, que nem tenha sido usado ainda, não importa; não tem problema que ele se torne cinzas.

Referências:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20...
http://www.bienaldolivrosp.com.br/

http://f5.folha.uol.com.br/televisao/2014/08/1506890-programas-de-dilma-e-de-regina-case-contam-a-mesma-historia-de-vida.shtml

http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/07/25/pegava-livros-no-lixo-ex-...

http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/08/27/em-sc-catador-de-lixo-sal...

http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/08/22/bienal-livro-tera-espaco-...