As linguagens no universo juvenil

Artigo elaborado pela equipe de professores: ALINE DE LIMA GONÇALVES, MARIA APARECIDA ANANIAS FERRONATO, PEDRO SERGIO BINI, RUBEN CASTEX NETO, GUILHERME AUGUSTO KLINGELFUSS, WARNA ELISABETH HENRICHSEN MUHLMANN
Orientadora de estudos: Viviane A. Carvalho Langer

RESUMO
O referido artigo descreve os caminhos percorridos durante os estudos da Etapa II – Caderno IV do Pacto para o Fortalecimento do Ensino Médio que aborda o tema “Linguagens”. Este tem como objetivo, explicitar o desenvolvimento de algumas práticas pedagógicas aplicadas no espaço escolar que contemplam a pluralidade dos contextos sociais dos sujeitos levando em consideração as circunstâncias em que tais práticas ocorrem, bem como os problemas sociais que desta derivam. O conhecimento dinamizado e socializado no espaço da escola decorre da cultura local patrimonializada traduzido em atividades educativas das diferentes Linguagens, bem como sua concepção associada ao processo de aprendizagem atendendo as prerrogativas e tornando-o significativo para o estudante e comunidade. Sobretudo, aprimorando em todos nós o senso crítico  conforme prescrito no caderno IV como resultante da participação democrática dos sujeitos envolvidos na escola e das buscas de conhecimento. As atividades contempladas constituíram-se a partir de saberes da própria atuação dos sujeitos em práticas sociais, enfocando especialmente as mediações de linguagens vivenciadas pelos estudantes.
Palavras-chaves: Educação, Pedagogia Histórico-Crítica, Metodologia, Processo Ensino-Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Nós, professores percebemos que a nossa prática docente, de um modo geral, ainda está   pautada na superficialidade do conhecimento, bem como as lacunas existentes no processo de formação do docente acerca dos fundamentos da educação consoante o trabalho desenvolvidos pelos autores  João Luiz Gasparin e Maria Cristina Petenucci no artigo PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA: DA TEORIA À PRÁTICA NO CONTEXTO ESCOLAR. 
Neste sentido, é desenvolvida uma prática que contemplou a pluralidade dos contextos, sensibilizada integralmente pelas circunstâncias das práticas sociais e educativas  reconhecendo a necessidade  do espaço para o processo de aprendizagem que atendeu as prerrogativas para tornar-se significativa ao estudante e para a comunidade na área de Linguagens. Diante do exposto, podemos afirmar que o momento histórico e a estrutura que dispomos ainda estão distante do ideal. 
Acompanham-se entusiasticamente iniciativas que ocorrem neste mesmo espaço escolar.  Trata-se de uma prática realizada por um professor com apoio de alguns profissionais da equipe pedagógica e funcionários, consistindo na promoção da integração de grupos de estudantes com linguagens afins para redação, cinema, teatro, música e outras manifestações integradoras das relações.
UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA PARA O ESPAÇO ESCOLAR
Para enfrentar o desafio da contextualização e da integração das linguagens escolares com as práticas pedagógicas, posto que as linguagens ainda são os grandes obstáculos para comunicação e interligação do conhecimento formalmente estruturado, relataremos uma provocação incipiente, realizada em duas salas de aula de turmas do Ensino Técnico Profissional Integrado ao Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Loureiro Fernandes de Curitiba do Estado do Pr.  
Respaldados na Pedagogia Histórico-Crítica, aplicando Método Dialético em conformidade com a Teoria Histórico-Cultural, relacionamos no quadro de giz as respostas dos estudantes das respectivas turmas. Após serem provocados a opinarem sobre seus entendimentos acerca do tema Linguagem e Comunicação.      
Refletindo sobre o sujeito jovem, suas práticas de linguagem e os direitos de aprendizagem, passamos a investigar formas de levar essas reflexões para a atividade educativa. Propomos um exercício que levou em conta a realidade dos estudantes, conforme a seguir:
Em conversa com os estudantes foram levantadas algumas práticas de linguagem (interação/expressão) presentes em suas vidas. Para as devidas respostas da questão supracitada foi planejado um roteiro de trabalho para conduzir a conversa de modo padronizado com as turmas do 1º ano do curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio – período manhã - Colégio Estadual Professor Loureiro Fernandes – CEPLF.
Objetivo: desenvolver as atividades propostas pelo Programa “ Pacto Nacional pelo fortalecimento do Ensino Médio”, bem como conhecer a realidade sociocultural dos estudantes desta faixa etária, 14 até 16 anos.
Conteúdo: Práticas de Linguagem presentes na vida dos estudantes
Metodologia: Exposição do assunto com participação efetiva dos estudantes através de indagações/questionamentos seguidos da sistematização das respostas pela classe.
Preliminarmente foram delineados aspectos importantes deste trabalho. Os estudantes, na grande maioria, são oriundos da região metropolitana de Curitiba, portanto não pertencem a uma única comunidade.  Diferentes motivos os levaram a escolher este colégio, dentre eles a localização central do bairro, transporte, acesso a equipamentos e serviços públicos, também pelas oportunidades e emprego/estágios em diversas empresas, inclusive órgãos públicos federais, estaduais e municipais. Além dos pais que trabalham nesta região e passam o dia todo nesta regional Matriz, retornando somente ao final do expediente.
Os estudantes realizaram seus estudos fundamentais em escolas situadas na região onde residem. Agora, estudando no ensino médio, alguns ganharam mais autonomia para andar pela cidade de forma independente, sozinhos ou em pequenos grupos, enquanto outros são acompanhados pelos pais e/ou responsáveis, ou chegam e retornam para este estabelecimento por meio do transporte escolar particular.
Nota-se que estes adolescentes estão muito ligados à infância. Isto significa que ainda estão vivenciando suas primeiras experiências de convívio longe das comunidades as quais pertencem, como poderíamos esperar os traços de ingenuidade e imaturidade são marcantes. Seus principais grupos de relacionamento são formados no próprio colégio ou em suas próprias comunidades, são eles: grupos oriundos das igrejas as quais frequentam, dos “games”, das brincadeiras, do skate, do futebol, das conversas sobre seus relacionamentos afetivos, e é claro, do “WhatsApp” onde quase tudo “rola” até as grandes desavenças que muitas vezes chegam até a sala da equipe pedagógica para realização da intervenção/mediação. Estes jovens sempre são motivos de preocupação para os professores, inclusive, no que tange ao deslocamento destes estudantes no trajeto casa/escola, dado a fragilidade do sistema de segurança pública. Chegam até a escola, informações por meio alunos e responsáveis, que mesmo com a despesa de transporte e as dificuldades do trânsito e as distâncias que percorrem para chegar ao  bairro em que se localiza esta escola, existem compensações, em relação a qualidade de ensino, professores comprometidos e frequentes. E ainda, o relato de alguns, de que nas regiões de origem, ficam mais expostos a violência.
Isto descrevemos, pois, com certeza é necessário refazer o caminho e o cotidiano destes jovens, seus desafios e aspirações. Deste modo foram reunidos elementos para realizar as  interferências positivas que contribuem para o sucesso do estudante, tornando a escola mais próxima de seus modos de vida e conhecendo as linguagens e expressões desta  juventude.
Juventude....”É uma condição social, pois se trata de uma fase de transformações físicas, cognitivas e sociais. É uma representação, pois ser jovem é também uma construção social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para tempo. Considerando-se as diferenças em termos de condições sociais, diversidade cultural, diversidade e gênero, diferenças territoriais, não existe uma, mas várias juventudes.”  (Etapa II - Caderno IV p.16)
RELATO DO TRABALHO REALIZADO COM AS TURMAS SUPRACITADAS:
A aula foi iniciada com  o desafio em responder as seguintes indagações:
O que vocês entendem por Linguagem? O que vocês entendem por Comunicação/Expressão/ Interpretação?
A cada resposta dada, mais provocações/questionamentos foram realizados no intuito de instigar maior participação da classe. Estas questões foram respondidas, inicialmente, de modo simplista e sem muitas reflexões por parte dos estudantes. Porém, após alguns “burburinho” um interlocutor dentre os estudantes arrisca-se a pronunciar-se em tom elevado da voz que: “linguagem” lembra língua, fala, conversa,...que, “comunicar-se” é falar ou conversar ”. Ao perguntarmos sobre o significado de “expressão” a questão foi respondida com sensibilidade por parte de alguns como sendo, mímicas ou gestos que permitem identificar emoções. Quando questionado o que entendiam por “interpretação” responderam: é a compreensão do que se comunica,  “interação” conversa ou diálogo que pode envolver duas pessoas ou várias pessoas em um determinado grupo.
Sendo assim, de que modo podemos explicar ou conceituar melhor o que é  LINGUAGEM? As provocações iniciais levaram os estudantes a produzirem  respostas mais reflexivas/aprimoradas: comunicação das ideias, emissão de opiniões, expressão do pensamento ou sentimentos; formas de interpretar ou perceber o mundo em que vivem. Na sequencia foram introduzidas informações a respeito dos meios de linguagem e obtivemos como respostas, as seguintes expressões:
Sonoras: através da música (cantando), palestrando, ouvindo rádio, assistindo TV, utilizando o computador navegando nas mídias sociais, gritando, chorando, reclamando;
Gráficas: desenhando, pintando, escrevendo, digitando, grafitando, pichando;
Gestuais: imitando (mímica ), dança (simbolizando algo), teatro (dramatizando uma cena/história), adotando uma cultura típica de um grupo social (góticos, emos, pank, skatistas, manos, nerds);
Todas estas expressões seguiram regras de acordo com os respectivos grupos onde se apropriam de vocabulários específicos (gírias).
Assim entende-se que as diversas práticas de linguagem mencionadas e de alguma forma vivenciadas pelos estudantes acima, possibilitam ao jovem apresentar-se  ao meio social: interagir e ser aceito nos grupos sociais, divertir-se, vestir-se, relacionar-se, sentir-se no mundo construindo sua identidade, buscando sua auto afirmação, elevando sua auto estima, além da busca do   seu reconhecimento como sujeito de direito ao conhecimento, à aprendizagem, à inserção no mundo do trabalho, ao convívio social e à liberdade de expressão e ação.
CONCLUSÃO     
Ao enunciar, aplicar e descrever este pequeno ensaio para realizar esta abordagem sobre tema “Linguagens” em nossa escola, entramos no processo de catarse. A assimilação é observada parcialmente, e  especialmente por parte dos profissionais que realizam este estudo  - Pacto para o fortalecimento do Ensino Médio -  que ainda estamos vivenciando.
Primordialmente destacamos que estabelecer um processo em que os sujeitos expõem suas formas de linguagem deve ser revestido de cuidados. O sujeito ao expor suas linguagens, posto que é um patrimônio concebido em suas origens, não pode e não deve ser tratado de modo leviano. O risco da desnaturalização dos valores, tradições e linguagens dos sujeitos envolvidos   poderia ser o preço muito alto. Por estes motivos a proposta pedagógica deve estar revestida da intencionalidade educativa e libertária. É neste ponto que a concepção pedagógica deve  estar muito clara ao grupo de profissionais que conduz o trabalho, garantindo deste modo o conhecimento da história e valores primordiais do indivíduo e seu grupo.
  Cabe a escola enquanto espaço livre para os debates e diálogos proporcionar aos sujeitos o  desenvolvimento de seu universo cognitivo por meio da Linguagem, e estes, ao retornarem para suas origens atuem como disseminadores do patrimônio cultural e científico formalmente construído pela humanidade. Com conhecimentos e a noção de cultura, identidade, trabalho, ciência e tecnologia, possam ser incorporados e passem a ter significados, convivam em harmonia com seu patrimônio cultural.
Também deixar registrado nesta conclusão a necessidade de Políticas de Estado para Educação Nacional, pois ainda estão muito evidentes as políticas de governos, que são transitórios, e que neste estado encaminham para o desmonte da escola Pública por meio da desvalorização e até da violência física dirigida ao Profissional da Educação.
O trabalho de estudos sobre linguagens ainda tem muito caminho para percorrer neste ambiente escolar, sem dúvida é um estudo muito enriquecedor e que valoriza a práxis pedagógica,  sobretudo,  no desenvolvimento do senso crítico dos trabalhadores da educação.