Linguagens e suas tecnologias

Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio
Etapa II
Caderno IV: Linguagem
Data: 28/08/2015
Colégio Estadual Almirante Tamande –
Orientador de Estudos: Lenice Maria Galina Francisco.
Professores cursistas: Josiane P. Silva; Marcia Regina Gonçalves Lemos, Marlene Mendes Lopez Porfirio; Mary C. Bastianello da Silva, Vilma Diniz
Ao assistir ao filme “O Enigma de Kaspar Hauser”, confirma-se a importância da socialização para a aquisição e desenvolvimento da linguagem, no sentido em que o ser humano alcança maior domínio da linguagem quando essa adquire significação no contexto em que o homem está inserido. No filme, a personagem, que vive por muitos anos isolada, sem convívio social, não entende a realidade dos que o cercam, porque não houve a aquisição da linguagem de forma natural,e, mais importante, não se efetivou a linguagem por práticas sociais que propiciaram a comunicação significativa, aquela que os indivíduos aprendem pelas circunstâncias da vida e pela necessidade de se fazer compreender e entender mensagens.
Assim, é perceptível a ligação da linguagem com a realidade, com situações de comunicação em que a linguagem seja determinante para o maior ou menor acesso do que se pretende.  Apoiando-se em estudos de alguns autores que trabalham com a “construção e aquisição da linguagem”, percebe-se que a mesma está vinculada principalmente à práxis social.
Buscando concretizar tal assertiva e levar nossos alunos a pensar sobre as Linguagens, propusemos a duas turmas do período noturno da segunda série do Ensino Médio do Colégio Almirante Tamandaré, em Foz do Iguaçu, que citassem cinco práticas de linguagem presentes em suas vidas. As mais indicadas, por ordem de ocorrência, foram conversa com amigos, textos escritos para concursos de seleção (ENEM, por exemplo), uso da linguagem no trabalho, para atendimento às pessoas/usuários do serviço, leitura de textos diversos (propaganda, por exemplo) e preenchimento de formulários. Pode-se observar, por essas escolhas, que há uma preocupação, por parte dos alunos, em estabelecer diálogos eficientes com outros indivíduos, seja pela escrita ou pela fala.
A partir dessas reflexões, poderíamos instigar os alunos a redigirem textos que envolvessem suas experiências do dia a dia, seja no trabalho, seja no ambiente familiar ou entre amigos. Nesses relatos, podemos solicitar trabalho com sociologia, filosofia, artes, língua estrangeira (espanhol), provocando-os a refletir sobre a importância da linguagem na sociedade e como a prática da comunicação define o indivíduo no meio em que ele está inserido; a importância de reconhecer as diferentes linguagens e seu uso nas diversas situações de comunicação, por exemplo. Envolver projetos em que a ética e valores morais possam ser agregados como forma de atuação dos alunos, propondo atividades em que percebam na linguagem uma forma de expressão de mundo e de intenções a serem transformadas em ações, seja por meio de cartazes, textos em língua estrangeira (pequenos textos, ou mesmo “slogans”), em que possam descrever o que vivenciam e o que esperam da sociedade e deles próprios.
A discussão proposta nos levou a entender que o importante no trabalho com linguagens é motivar os alunos a construir um projeto em que eles se sintam engajados e percebam que sua atuação será relevante, mostrando o quanto é possível atingir outras pessoas através de uma linguagem bem articulada, adaptada à situação que se tem e o quanto nossos alunos podem progredir em suas vidas se perceberem que a linguagem é uma arma poderosa e que pode fazê-los alcançar o que quiserem, conforme forem desenvolvendo habilidades de comunicação.
Outra proposta de trabalho desenvolvida foi a discussão da temática “Estética versus beleza”, realizada com as segundas séries do Ensino Médio do Colégio Almirante Tamandaré. Partindo das diferentes concepções de “belo”, chega-se ao entendimento de que  se trata de um conceito formado a partir da influência de muitas variáveis. Sendo assim, é impertinente estabelecer padrões e principalmente objetivar que uma raça ou uma cor de pele seja mais bela ou menos bela que outra. Se compararmos alguns países, veremos que em cada um existem belezas diferenciadas, padrões e critérios que variam e que não devem ser avaliados ou medidos por alguém.
“Padrão de beleza” é um assunto polêmico e gerador de controvérsias; o que acontece é que estes padrões mexem com o psicológico de todos, pois o conflito se estabelece à medida que, apesar de muitos serem conscientes da importância de se valorizar os pensamentos e as atitudes, esses jovens não conseguem se desvencilhar das imposições dos corpos perfeitos e do acreditar, cada vez mais, que só serão bem aceitos se aproximando desses padrões. Pode-se citar como resultado desta forte influência a obsessão pela magreza, as dietas, a malhação excessiva, a cirurgia plástica sem necessidade, a moda consumista, os produtos de beleza caros, que são amplamente divulgados e vendidos pela mídia. Para melhor entender esta questão, é necessário e oportuno discutir-se o tema “Beleza fundamental” por ser algo muito amplo, contemporâneo e com que todos nós convivemos diariamente.
Para trabalhar este tema com os alunos, utilizou-se uma canção presente no livro didático de espanhol, chamada “Antes morta que Sencilla”  (tradução : "Antes morte do que simples"). Primeiramente foi realizado um trabalho utilizando revistas de moda (revistas "Claudia" e "Caras"), e posteriormente foi feita uma análise sobre o tema "Beleza Fundamental".
Em uma segunda etapa foi aplicado um questionário para as turmas dos segundos anos do ensino médio do Colégio Almirante Tamandaré, do período noturno, sobre o tema.
    Após analisar os questionários aplicados, percebeu-se nos alunos a unanimidade em dizer que a aparência não é tudo, e que a essência da pessoa também é importante. Como ideal de beleza foi constatado que prevalecem os padrões estabelecidos pela mídia, e que são considerados os ideais. Com relação ao excesso de vaidade foram unânimes em dizer que tudo em excesso não é bom, mas em contrapartida buscam sempre estar em conformidade com o que é padrão, perdem bastante tempo para se arrumar, também têm tendências fortes em se sentirem infelizes com a aparência atual. Grande parte dos entrevistados não sofreram problemas com a aparência ao procurar emprego, isso se deve ao fato de que a maioria dos questionários foram aplicados com quem ainda é muito jovem e consequentemente não entrou no mercado de trabalho mais competitivo.
     Ao realizar as atividades acima descritas, já estamos construindo nossas ações com base nas propostas para um novo currículo para o Ensino Médio, partindo-se da realidade observada e do processo histórico que envolvem a construção das atuais diretrizes da Educação.
Entretanto, todo o material estudado em “Linguagens” não estabeleceu um único caminho a ser seguido, um “modelo” a ser adotado para o trabalho com os componentes curriculares das Linguagens, porque não se vislumbram garantias de efetividade na aprendizagem a partir de determinadas normativas. O trabalho didático em Linguagens é uma discussão complexa, que ainda demanda muita análise. Ainda que se apontem caminhos para o processo de ensino em Linguagens, não há critérios estritos.
A proposta da árvore apresentada no material de estudo, por exemplo, não resultará em certeza de objetivo cumprido aos professores.
Pode-se propor inesgotáveis discussões para um currículo mais adequado à realidade atual e, ainda assim, não se alcançará um produto que seja o modelo definido como o ideal. 
Isto porque as ações nesse processo estão centradas no professor, e dele depende o sucesso das ações didáticas. Devemos lembrar que o professor não está isento, em seu trabalho, das ideologias, visões de mundo, condutas e crenças  que dele fazem parte.
Assim, acredita-se que, na construção de um currículo, tal como na adoção de práticas metodológicas no trabalho com Linguagens, precisem ser primeiramente ofertados ao professor espaços para capacitação e reciclagem que permitam a ele entender seu papel, e a importância de estabelecer objetivos comuns em todos os componentes curriculares para a prática docente.