JUVENTUDE, CIBERCULTURA E ESCOLA: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL. ¹

JUVENTUDE, CIBERCULTURA E ESCOLA:
UMA RELAÇÃO POSSÍVEL. ¹

                                                                                 Rita de Cássia da Costa Lima²
                                                                               ritadecassia_26@yahoo.com.br

Podemos perceber facilmente dentro do contexto escolar um grande conflito no que diz respeito as tecnologias e a cibercultura. A grande maioria de nossos professores entende o jovem e seus celulares ultra modernos, com acesso a todas as redes sociais e inúmeros aplicativos, como invasores, como afronta e desrespeito. O que não deixa de ser, tentar dar aula com aquela musica, no ultimo volume, ou com o aluno olhando o tempo todo para o celular realmente não deve ser nada agradável. Nesse momento então, foi estabelecido a guerra dentro de sala de aula, professores e alunos falando línguas completamente diferente, com interesses que trilham caminhos opostos.
Como podemos superar tais dificuldades? Talvez o ponto de partida esteja em nossos professores, sensibilizando-os quanto a necessidade da resignificação dos jovens e sua cultura dentro do contexto escolar, ofertando espaços de diálogos dentro de sala de aula, estabelecendo assim, uma nova relação entre professores e alunos.
  O professor estimularia o jovem a intervir na sua própria realidade, estimularia o jovem na sua condição de construtor do seu próprio conhecimento. Conhecimento este, sob o qual as mídias e a cibercultura devem funcionar como instrumentos de construção e ampliação dos saberes, da mesma forma que o seu uso e necessidade deve ser problematizado e discutido com os alunos, para que sua utilização seja potencializada e colocada dentro de um contexto que faça sentido para o alunado.
Nesse sentido, utilizamos as palavras de CARRANO (2013) " As manifestações culturais, notadamente as que se fazem notar pelas mídias eletrônicas, podem e devem ser utilizadas como ferramentas que facilitem a interlocução e o dialogo entre jovens, profissionais da educação e da escola, contribuindo assim para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras em  comunidades de aprendizagens superadoras das tradicionais hierarquias de praticas e saberes ainda tão presentes nas instituições escolares".
Os pontos aqui colocados nos levam a uma gama de ações, que precisam ser postas em prática, tanto pela escola e sua comunidade, como pelo poder público, como por exemplo a formação em serviço dos professores, reestruturação física das escolas, a integração de práticas pedagógicas diferenciadas e interdisciplinares, metodologias inovadoras focadas no aluno etc. Mas precisamos acima de tudo perceber a nossa juventude como sujeitos dentro de um contexto histórico, sujeitos com potenciais e habilidades especificas e necessárias a seu tempo.
Dessa forma, a escola coloca-se, então, diante de um dilema ao ser interpelada pela pluralidade das manifestações juvenis. Há assim escolhas, institucionais a serem feitas: as referencias extras escolares podem ser interpretadas como ruídos e interferências negativas para o trabalho pedagógico - caso a escola se feche - ou significar oportunidades para a criação de espaços de mediação cultural entre diferentes mundos vividos pelos jovens estudantes CARRANO (2013).
Não seria obvio então construir coletivamente estratégias de aproximação entre os atores do contexto escolar, de modo que os conteúdos trabalhados dentro da escola ganhem sentido dentro do projeto de vida de nossa juventude? Talvez esse seja o caminho para a construção de um conhecimento significativo para nossos alunos, conhecimentos que possam ajudar nossa juventude na construção de seus projetos de vida.

A escola precisa tentar ultrapassar essa barreira digital e vislumbrar as grandes possibilidades educativas da cibercultura, enxergá-la como ferramenta grandiosa não só na busca por informações, na busca por comunicação rápida, mas acima de tudo na construção e compartilhamento de novos conhecimentos e saberes, agregando-os definitivamente a rotina escolar, mas desta vez como aliado e não como algo que disputa a atenção de nossos alunos.
A relação da juventude com a tecnologia é natural, faz parte de seu cotidiano como que um acessório inseparável, além de ser determinante para a construção de sua identidade. Não ha como negar o fascínio que o mundo virtual desperta nas pessoas, principalmente quando associado ao entretenimento, parece no entanto, que apenas a escola ainda "não se rendeu aos encantos do mundo virtual", Nessa perspectiva a escola tem se mostrado ultrapassada, fora do contexto e desarticulada da realidade de uma juventude a qual pretende ajudar a formar. 
Montar salas de aulas equipadas com computadores, apesar de válido, não vem demonstrando eficácia, pois os computadores  muitas vezes, estão ali apenas como máquinas e não como instrumentos de mediação para a construção de novos conhecimentos e saberes para os jovens, pois a forma de ensinar não muda, continua engessada, agarrada a uma extrema dificuldade que a escola tem em ouvir e enxergar seu alunos.
Sabemos que a simples utilização de computadores novos ou a transferência de conteúdos impressos para uma mídia eletrônica não garante a aprendizagem dos alunos, no entanto, sabemos também, que a escola informatizada favorece um clima de aprendizagem, cria várias possibilidades dentro da rotina escolar, mas que esse aparelhos e instrumentais necessitam da mediação do professor para assim poder fazer sentido dentro da realidade de nossa juventude. Faz-se necessário perguntar-se como a escola esta entendendo esse novo desafio? Quais estratégias a escola pode e deve usar para incorporar a cibercultura em seu currículo?
Nessa perspectiva, trabalhar com tecnologias dentro do espaço escolar nos reporta a necessidade de mudanças substanciais, paradigmáticas eu diria, além de entender a importância de uma nova forma de ensinar dentro da escola, pois a interatividade e a troca muito rápida de informações são características do mundo digital e preparar o professor para mediar esse trabalho é um desafio a ser alcançado.
O professor, para fazer uso de novas tecnologias precisa de uma ação pedagógica planejada. É imperiosa a necessidade de o professor pesquisar, estudar de que forma os recursos utilizados poderão contribuir para o desenvolvimento de um determinado conteúdo, se tal recurso poderá ser um instrumento de construção de novos saberes desses alunos, o professor precisa mediar o processo de transformação da informação em conhecimento. 
Nas palavras de CARRANO (2013) “Alguns professores parecem não compreender as novas formas juvenis de conduzir a própria existência, produzidas pela intensa conexão com as tecnologias digitais. Expressam muita dificuldade em entender as transformações ocorridas na relação dos jovens com o acesso á informação e suas formas de se relacionar com o conhecimento”.
Não quero aqui culpar os professores, e discordo que qualquer discurso nesse sentido, pois tal como ARAUJO acredito que o “professor faz mais parte da solução do que do problema”. O Professor aqui torna-se essencial nesse processo de entendimento das manifestações e culturas juvenis. É o professor quem esta em contato diário com os alunos, e ele mais do que ninguém precisa permitir-se enxergar esse aluno para alem de seu uniforme, para além de uma numeração em sua caderneta.
O professor precisa estar aberto às possibilidades que o aluno apresenta em sala de aula e buscar a melhor forma de mediar, propor intervenções que façam sentido dentro da realidade vivida pelos alunos. É evidente que o professor sozinho não resolvera todos os problemas da escola, tão menos  “ vai salvar o mundo” , mas acreditamos  que sensibilizar o professor quanto a sua importância estratégica dentro desse processo de mudança na escola, nos colocaria muitos passos a frente da  triste realidade em que hoje estamos.
Os Jovens são desafiados a fazer uso seguro e crítico das novas tecnologias na perspectiva de dominar os instrumentos do conhecimento e não ser dominados por elas. E, sem dúvida, nós, professores e professoras, podemos ser mediadores importantes nesse processo, desde que também nos preparemos para compreender e participar da produção dessas novas arenas educacionais que se apresentam no cenário da cibercultura e das novas tecnologias de informação e comunicação CARRANO (2013).
Os pontos aqui discutidos revelam a importância da escola e do professor no cotidiano de nossa juventude. Escola que necessita superar o ensino propedêutico na perspectiva de alcançar a formação integral de seus sujeitos, insisto que a escola precisa reconhecer a juventude de forma historicamente situados e produtores de cultura. Essa cultura precisa ser levada para dentro da escola e ser estudada, debatida, revelada ao mundo.
Precisamos parar de tentar encontrar culpados e passar a buscar soluções, abrir as portas da escola para o que a juventude vem produzindo fora de seus portões, precisamos buscar práticas pedagógicas diferenciadas que dêem conta da nova juventude brasileira ou como diria ARAUJO “das juventudes” brasileiras.
Chamemos todos os envolvidos no processo educativo; o Estado professores,  alunos,  família para a responsabilidade de construirmos juntos uma escola crítica e historicamente coerente com suas demandas, e que tenha por conseqüência uma educação que consiga alcançar nossa juventude, que consiga responder as demandas da nossa sociedade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Básica.
Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II: o jovem como sujeito do ensino médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [organizadores: Paulo Carrano, Juarez Dayrell]. – Curitiba: UFPR / Setor de Educação, 2013.

Juventude, trabalho e educação:  Questões de diversidade e classe das juventudes na Amazônia. Ronaldo Araújo Lima e Paulo Alves, Disponível em: http: www.anpae.org.br/simposio26/1comunicaçoes/RonaldoMarcosdeLimaAraújo-ComunicaçãoOral-int.pdf.