A EVASÃO DO ENSINO MÉDIO NOTURNO

NOME: *Fatima Jacinta Chioquetta

RESUMO
O presente artigo discute a evasão escolar no ensino médio noturno do Colégio Estadual Tancredo Neves –EFM, uma escola estadual do município de São João, Paraná, a partir da seguinte problemática de pesquisa: “O que leva os alunos do Ensino Médio Noturno do Colégio Estadual Tancredo Neves-EFM, a abandonar os estudos? ”. O método de pesquisa utilizado foi de abordagem qualitativa. Como embasamento teórico utilizou-se autores contemporâneos que abordam a temática como Kuenzer (1988; 2000; 2006), Silva (2008; 2009; 2010; 2012), Rodrigues (1995; 2005). A pesquisa mapeou as principais causas da evasão na escola. Foram ouvidos 13 alunos que responderam a uma entrevista semi-estruturada, com questões envolvendo: necessidade de trabalho; questões relacionadas a conflitos na comunidade/juventude; conflitos na relação professor/aluno, aluno/aluno, aluno/escola;  aulas/avaliação desmotivadora e/ou metodologias, como principais causas da evasão no Ensino Médio Noturno.

Palavras-chave: Juventude - Evasão- Ensino Médio Noturno

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

Quando se fala em ensino noturno, é comum tratá-lo como problema, fonte de insatisfação, necessitando de solução, ou, então, como fato “natural” sem saída.
Esquece-se que o período noturno faz parte da história da Escola, o que significa que foi construído não só a partir de disposições governamentais, mas também de reivindicações populares.
A Escola que temos hoje foi construída pelo Estado através das políticas sociais manifestadas em leis, decretos, pareceres, regulamentos, objeto de reformulações, propostas e determinações. Mas não é só isso, a Escola foi e continua sendo construída por professores, funcionários, pais e alunos, aceitando-a como ela é, protegendo-a para que continue a existir, consentindo na sua existência ainda que ela não dê acesso a todas as crianças e adolescentes e exclua a cada ano, um número grande de alunos, por evasão e repetência.
O Ensino Médio Noturno tem se caracterizado ao longo dos anos por um trabalho diferenciado no que se refere a metodologias e a avaliação em relação ao diurno pela especificidade de seus estudantes que representam na maioria a população de adolescentes, jovens e adultos trabalhadores que enfrentam dificuldades em conciliar essas duas tarefas, escola e trabalho.
A Constituição Federal no inciso VI do art. 208 determina a garantia da oferta do ensino noturno regular adequado as condições do educando.
A LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação- em seu inciso VI art. 4º, reitera a oferta e organização adequadas às suas condições, para efetivo acesso, permanência e sucesso do estudante trabalhador, que já cumpriu longa jornada laboral.
Os indicadores mais utilizados para caracterizar o período noturno como problemático é o grande índice de repetência e evasão que vem se apresentando no decorrer dos anos.
Os efeitos desses processos de exclusão para a maioria dos jovens brasileiros, particularmente no âmbito escolar e profissional, acentuam-se por se encontrarem num momento do ciclo de vida de intensa organização pessoal e social.
Estabeleceu-se uma cultura do fracasso escolar muito presente nas escolas brasileiras sempre que se trata do Ensino Noturno, e esse fato mostra que a escola precisa rever sua responsabilidade para com uma clientela que busca conciliar trabalho e estudo.
Mas como a escola tem percebido essa questão fundamental relacionando escola e trabalho sem excluir esse jovem trabalhador?
O jovem que procura a escola no Ensino Noturno, tem claro seus objetivos em relação ao que busca? Quem é esse jovem?
O que leva os alunos do Ensino Médio Noturno do Colégio Estadual Tancredo Neves – EFM – a abandonar os estudos?
Esses questionamentos direcionaram essa pesquisa pelo fato da situação agravar-se ano após ano, causando preocupações e afligindo o coletivo escolar por desconhecer as causas do abandono acentuado.
No contexto social onde a escola analisada está inserida, percebe-se que  a sobrecarga advinda da jornada de trabalho e a desmotivação de alguns professores, pode estar entre as principais causas do abandono escolar.
Nesse sentido, é imprescindível conhecer o jovem atual, seus sonhos em relação a escola, ao trabalho e a vida, perceber quais são os fatores que causam a evasão, a repetência e a desistência dos jovens do Ensino Médio Noturno, bem como saber o que os faria permanecer nos bancos escolares.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo 2010 os jovens correspondem à terça parte da população da América Latina e 58 milhões deles/as são pobres e 20,9 milhões extremamente pobres. No Brasil o número de jovens vem diminuindo desde a década de 1980; a população entre 15 e 24 anos é de cerca de 34 milhões; embora nasçam mais homens que mulheres, nesta faixa etária estão divididos em partes iguais, em razão da maior mortalidade de rapazes por causas violentas (homicídios e acidentes de trânsito); 81% vivem em áreas urbanas (27,8 milhões) e apenas 19% na zona rural (IBGE, Censo, 2010). Até os 29 anos, esse número aumenta para 49 milhões.
Esses jovens estão divididos em classes sociais que mantêm entre si relações de poder e de subordinação. Percebem e ocupam o espaço da cidade, de modos múltiplos. Divergem em opiniões políticas e culturais. Estudam e trabalham, estudam e não trabalham ou simplesmente trabalham. O trabalho para muitos é possibilidade de experimentar a condição juvenil em esferas de sociabilidade: lazer, cultura, consumo, autonomia, independência e prazer. Alguns encurtam sua permanência no tempo de formação escolar em função das necessidades econômicas que os empurra para o mercado de trabalho prematuramente.
Ao pensar-se em juventude é essencial considerar as transformações sociais e culturais vividas por essas gerações; é primordial reconhecer que roteiros e comportamentos são aprendidos e considerados aceitáveis ou não para cada grupo social. Portanto, aprende-se também a ser jovem por meio de um processo de socialização, especialmente influenciado pelos meios de comunicação e pela indústria cultural e a educação.
A juventude é o ciclo etário das oportunidades e escolhas, é momento decisivo para reverter a exclusão social. É nesse período que se aprofundam as distinções entre acesso e permanência a uma educação de qualidade. É momento de profissionalização, de acesso a trabalho, de inserção na sociedade da informação, de autonomia econômica, de possibilidade de constituição de novos núcleos familiares, etc. Portanto, atuar com os jovens, ouvindo, reconhecendo e partilhando as suas opiniões, demandas, necessidades e desejos é a chave para se projetar sociedades mais inclusivas, como também para dar sustentabilidade a mudanças culturais, sociais e políticas, incluindo aí o enraizamento dos processos democráticos.
A juventude não deve ser vista apenas a partir de seus problemas. Os jovens são um segmento social atuante e de grande importância que traz diferentes demandas. O que podemos fazer para assegurar que os jovens permaneçam na escola, aprimorando sua qualificação para o mercado de trabalho e educação para a vida?
O primeiro passo é evitar a evasão escolar desses jovens cada vez mais acentuada. Mas o que pode-se caracterizar como evasão?
A evasão escolar está entre os temas que historicamente fazem parte do debate e das reflexões no âmbito da educação pública brasileira. Pesquisas educacionais realizadas sobre o Ensino Médio em todo o País apontam que este é um dos problemas mais graves da educação brasileira, que compromete precocemente o futuro do aluno.
Essa preocupação é o que direciona a presente pesquisa por meio de levantamento detalhado nos arquivos do Colégio Estadual Tancredo Neves-EFM,  no tocante aos índices de evasão escolar do Ensino Médio Noturno nos anos de 2011, 2012 e 2013 e um questionário direcionado a fim de se traçar o perfil desses alunos evadidos e estabelecer correlação entre as seguintes variáveis: evasão, idade, sexo e número de repetências ocorridas na vida pregressa do aluno.
Acácia Kuenzer assim se coloca:

A escola pública do Ensino Médio só será efetivamente democrática quando seu projeto pedagógico, sem pretender ingenuamente ser compensatório, propiciar as necessárias mediações para que os menos favorecidos estejam em condições de identificar, compreender e buscar suprir, ao longo de sua vida, suas necessidades com relação à participação na produção cientifica, tecnológica e cultural.

Há muito tempo vem sendo usado o discurso de que houve a democratização do ensino público, ofertando vagas para todos, no entanto a problemática da permanência e do insucesso é bem maior e afeta a todas as modalidades de ensino. Ela é decorrente de fatores econômicos, políticos e sociais que geram na sociedade atual, amplas desigualdades e exclusões, sendo que os mais afetados são alunos do ensino médio e de modo especial os do ensino médio noturno.
É no ensino noturno que os alunos sentem ainda mais dificuldades em conciliar trabalho e estudo além dos já conhecidos fatores econômicos e sociais que contribuem para a sua desistência.
Sabe-se que é difícil resolver a questão da evasão escolar em um curto espaço de tempo, tendo em vista que é uma situação que vem se agravando com o passar dos anos, principalmente por fatores sociais e econômicos. É preciso, porém, juntar esforços entre os sistemas educacionais e a comunidade escolar a fim de, pelo menos descobrir as causas da evasão e tentar suprimi-las.
Esse trabalho investigativo, foi direcionado exclusivamente sobre os alunos evadidos do Ensino Médio noturno do Colégio Estadual Tancredo Neves_EFM- do Município de São João, PR, onde foram ouvidos estudantes que retornaram a escola no ano de 2014 e que haviam se evadido nos 3 anos anteriores.

A JUVENTUDE E A ESCOLARIZAÇÃO: OS SENTIDOS DO ENSINO MÉDIO (ENUMERO ?)

Ao selecionar autores para fundamentar a presente pesquisa, deu-se preferência aos mais contemporâneos pelo fato destes discutirem o jovem e a relação com a escolaridade.
O ponto de partida é uma problematização sobre quem são os jo¬vens que estão chegando ao Ensino Médio no Brasil, que trazem necessidades próprias e buscam firmar sua condição juvenil.
Dayrel et al. (2009),  muda o foco reflexivo, passando das instituições de ensino para os sujeitos jovens, tendo em vista que a escola deve ser repensada para poder responder aos desafios que a juventude nos coloca.
As ideias centrais situam-se no contexto da crise da escola, es-pecificamente do Ensino Médio.
Sabe-se que os dilemas enfrentados pela educação nos últimos anos não se restringem ao Ensino Médio, tampouco ao contexto brasileiro. Tais dilemas têm sido definidos como uma crise de legitimidade, como reflexo das profundas mutações que vêm afetando as sociedades ocidentais, como um momento de mutação na educação, ou ainda como uma “etapa não apenas de estancamento, mas de regressão no campo educativo”.
Seja qual for a tese uti¬lizada para caracterizar o momento vivido atualmente pela instituição escolar e pela educação, o que se tem tentado denunciar é a situação de incongruência entre o que a sociedade espera da escola e o que a escola tem sido capaz de oferecer à sociedade. A situação parece se acirrar, especificamente, no Ensino Médio, sobretudo em virtude da forte tensão na relação dos jovens com a escola.
O texto de Dayrel ( 2009), da conta do grande aumento da procura e da expansão das oportunidades escolares, o que le¬vanta novas questões e dilemas para a com¬preensão da experiência escolar dos jovens. Esse público que vivencia os efeitos das de¬sigualdades sociais traz ao interior da esco¬la novos desafios. O trabalho é, geralmente, condição de sobrevivência, fazendo com que a trajetória escolar dos jovens esteja sobre¬posta ao projeto escolar.
Algumas questões são postas: O que os jovens esperam da escola? Quais planos de futuro os jovens estudantes do En¬sino Médio têm construído para suas vidas? Há relações entre tais planos e as suas expe¬riências escolares?
O Ensino Médio, antes sig¬nificava o caminho natural para quem pre¬tendia continuar os estudos universitários, porque estava voltado basicamente para jovens da classe média. Agora, com a sua expansão, para muitos jovens o Ensino Médio é tam¬bém considerado a última etapa da escolari¬dade obrigatória, em outras palavras, o final do percurso da escolarização. Esse contexto vem gerando o debate entre o caráter pro¬pedêutico ou profissionalizante a ser toma¬do por esse nível de ensino. Afinal, se existe uma ou várias, quais as funções do Ensino Médio? Ele deve preparar os jovens para o mundo do trabalho, para a cidadania ou para o ingresso na universidade?
Dayrel et al.(2009), discorrem sobre as relações entre a juventude e a escolarização, discutindo as razões entre abandono e permanência no âmbito escolar, sobretudo no ensino médio regular e na educação profissional técnica de nível médio.
Os autores se questionam  em relação as múltiplas contradições verificadas nas tensões entre o contexto escolar e a dinâmica da juventude, e impõem problematizações importantes: Quais são os motivos que têm levado os jovens a abandonar a escola? O que os levaria a permanecer? Os sentidos e significados atribuídos à escola constituem-se em fatores que explicam o que os leva a abandonar ou a permanecer na escola? Por que muitos jovens continuam indo à escola, ainda que tenham abandonado o sentido propriamente escolar dessa instituição? E o que dizer dos que insistem em frequentar a escola, ainda que estejam abandonados dentro dela?
Assim como a própria categoria juventude e as transformações mais gerais que afetam a sociedade como um todo, também a visão de escola elaborada pelos jovens tem sofrido metamorfoses, de modo que o espaço escolar (ou a instituição escolar) passa por um processo de ressignificação.
O ensino médio, em que pese a importante condição de ser considerado parte da educação básica, padece de um quadro acentuado de exclusão. A taxa média de abandono e reprovação é de 22,8%, verificada entre os anos de 2010 e 2011 (BRASIL, 2011). Apenas 48% dos matriculados estão na faixa etária considerada regular, isto é, possuem entre 15 e 17 anos. Mais de 40% das matrículas ocorrem no período noturno.
A fim de esclarecer as relações entre os sentidos e significados que os jovens atribuem à escola e o panorama de abandono que temos verificado, faz-se necessário analisar as imbricações entre os processos de construção identitária, a cultura escolar, a sociedade de modo geral e o mundo do trabalho em particular, à luz das contradições e dos movimentos que a realidade contemporânea impõe.
A juventude é uma categoria que não tem sentido se não analisada como uma construção histórica e social, permeada por todas as lutas e contradições que movem a sociedade.
Como o jovem situa-se no centro dessas transformações, não só do ponto de vista econômico, mas também de uma perspectiva cultural e subjetiva, investigar seus impactos na vida juvenil, sobretudo nos processos de formação escolar e profissional, pode trazer maior solidez para análises sobre a juventude contemporânea.
São precisamente essas transformações que não permitem mais que se fale em completa autonomia quando se faz referência à situação do adulto na sociedade, ou seja, a crise da sociedade assalariada, construída no âmago dessas mudanças no mundo do trabalho e principalmente da imposição do desemprego como categoria de natureza estrutural e permanente para grandes contingentes populacionais, cria as condições para que a autonomia do adulto por meio da independência financeira possa não se realizar.
Com enormes segmentos excluídos da possibilidade de trabalho, é indispensável buscar outros elementos definidores da condição adulta, para além da independência financeira. Portanto, a condição singular da juventude de fase da vida em que se busca tal autonomia, rompendo com a heteronomia infantil, torna-se muito mais complexa.
Sobre o conceito de jovem, Bourdieu (1983), citado por ANDRADE, CARRANO e LÂNES, 2006, assim se coloca:

A definição do que venha a ser juventude em determinado momento histórico pelo intermédio do recorte etário é, talvez, a maneira mais simples de tentar circunscrever sujeitos cujas experiências se caracterizam por serem diversas e desiguais. Ainda que para fins de pesquisa, legislação e definição de políticas públicas seja possível estabelecer como sendo jovens, aqueles/as que se encontram em torno de determinado corte de idade, deve-se ter em conta a inadequação conceitual de se articular um só campo de representações que seja unificador dos sentidos do que venha a ser a “juventude”. Sem dúvida, “juventude é apenas uma palavra”, o fundamental é que se busque compreendê-la como categoria em permanente construção social e histórica, incorporando a complexidade da vida – em suas dimensões biológicas, sociais, psíquicas, culturais, políticas, econômicas, etc. – que organizam as múltiplas maneiras de viver a condição juvenil.

Com isso, Bourdieu (1983) quer mostrar que a diversidade de fatores que sempre definiram a entrada de qualquer indivíduo na vida adulta é ainda mais acentuada na sociedade atual. Ao jovem resta a imensa dificuldade de encontrar uma inserção decente no mundo do trabalho ou até de encontrar trabalho.
As identidades juvenis forjam-se em diferentes tempos e, igualmente, em distintos espaços. O jovem constrói-se como sujeito social por meio de interações com grupos dos quais faz parte, ao longo de sua vida. Nesse processo, mais do que ser, ele se configura por um (in) constante ir sendo jovem, de modo que, num jogo de aproximações e distanciamentos a grupos, pessoas, instituições etc., ele constrói sua própria identidade, dá sentido à sua vida e, enfim, constroem significados às mais diversas experiências pelas quais passa.
Ser jovem e ser aluno não são a mesma coisa, é preciso aceitar a condição de aluno.
Para os jovens, de acordo com suas pretensões e com os significados que atribuem à experiência escolar, ser aluno adquire uma gradação de importância diferente, indo de uma obrigatoriedade que se deve suportar até a possibilidade de usar a escola como um motor de projeção social posterior.
O texto de Bourdieu (1983) citado por ANDRADE, CARRANO e LÂNES, (2006), ajuda a esclarecer algumas das causas do abandono escolar  quando ele diz que os jovens que abandonam a escola, em grande medida, fazem-no por não considerá-la representativa, de tal modo que ela já não tivesse mais sentido ou significado para eles, ou que, ao menos, esse sentido estivesse deslocado de uma esfera mais tradicional, em que estar na escola pudesse significar algo importante, seja pela aquisição de conhecimentos, seja por uma possível promoção social. O que se pode depreender, a partir das pesquisas realizadas e apresentadas pelos autores, pode confirmar em parte as hipóteses levantadas da realidade observada na escola pesquisada.
Verifica-se mais o deslocamento do significado do que a perda de sentido da escola. Busca-se a escola por vários motivos. Contudo, ao se frequentar a escola, as ilusões iniciais dissolvem-se, problemas para acompanhar a realização do curso evidenciam-se, a relação entre a escola e o jovem mantém-se distanciada e, assim, não se vêem mais motivos para permanecer na mesma.
Os autores consultados indicam a urgência de que se ressignifique o espaço-tempo das escolas de ensino médio, favorecendo o sentido da escola como local privilegiado, ainda que não exclusivo, no qual a identidade juvenil se constrói. Para isso, entendem como necessário que se insiram, nos cursos de formação de professores, estudos sobre a juventude e suas relações com a escola, pois isso levaria à consolidação de relações menos estereotipadas ou preconceituosas; com a mesma finalidade, urgem experiências curriculares que possibilitem uma experiência escolar plena de significação, que ultrapassem as organizações disciplinares formais e permitam, ao lado do aprendizado da ciência, da ética e da estética, a vivência de experiências próprias do universo juvenil, com suas múltiplas linguagens e formas de ver e viver o mundo.

ESCOLA, LUGAR PARA ADQUIRIR CONHECIMENTO, OU CONSTRUIR COMPETÊNCIAS? (se for pra enumerar, como faço/)

Kuenzer (2002), realiza uma análise comparativa e crítica entre os conceitos de conhecimento e competências. Ela reproduz a pergunta feita por Perrenoud (1999) na introdução de seu livro: “Construir as competências desde a escola”, quando ele diz: “Afinal: vai-se à escola para adquirir conhecimentos, ou para desenvolver competências? ” A questão aponta para um dos dilemas que sempre esteve posto para os processos educativos, e que agora, em face da mediação das novas tecnologias que tornam o trabalho cada vez mais abstrato no atual regime de acumulação, assume novas dimensões. Este autor, dos mais referenciados pelos que propõe uma pedagogia escolar centrada nas competências, delineia adequadamente a questão, mas segundo Kuenzer (2002), não a trata satisfatoriamente, porque não toma as categorias de análise que permitem compreender as relações entre trabalho e educação, atendo-se ao mundo da escola.
Segundo a autora, torna-se necessário, em primeiro lugar, explicitar a concepção de conhecimento que dá suporte à análise feita por Perrenoud (1999), e como ela se relaciona com o conceito de competência, para que se possa analisá-lo e, se for o caso, apresentar outra forma de compreensão.
A escola é o lugar de aprender a interpretar o mundo para poder transformá-lo, a partir do domínio das categorias de método e de conteúdo que inspirem e que se transformem em práticas de emancipação humana em uma sociedade cada vez mais mediada pelo conhecimento. O lugar de desenvolver competências, que por sua vez mobilizam conhecimentos, mas que com eles não se confundem, é a prática social e produtiva. Confundir estes dois espaços, proclamando a escola como responsável pelo desenvolvimento de competências, resulta em mais uma forma, sutil, mas extremamente perversa, de exclusão dos que vivem do trabalho, uma vez que os filhos da burguesia desenvolvem suas capacidades apesar da escola, que para muitos passa a ser apenas uma instituição certificadora; para os trabalhadores, a escola se constitui no único espaço de relação intencional e sistematizada com o conhecimento.
A autora finaliza seu texto dizendo que cabe às escolas, portanto, desempenharem com qualidade seu papel na criação de situações de aprendizagem que permitam ao aluno desenvolver as capacidades cognitivas, afetivas e psicomotoras relativas ao trabalho intelectual, sempre articulado, mas não reduzido, ao mundo do trabalho e das relações sociais, com o que certamente estarão dando a sua melhor contribuição para o desenvolvimento de competências na prática social e produtiva.
Atribuir à escola a função de desenvolver competências é desconhecer sua natureza e especificidade enquanto espaço de apropriação do conhecimento socialmente produzido, e portanto, de trabalho intelectual com referência à prática social.

IDENTIDADES JUVENIS E A ESCOLARIZAÇÃO(se for pra enumerar, como faço/)
Como se articulam os interesses pesso¬ais e planos de vida juvenis com as deman¬das do cotidiano escolar? Em que medida os sentidos atribuídos à experiência escolar motivam a elaboração dos projetos de futu¬ro dos jovens?
Frigotto (2009), retoma o tema da diversidade juvenil, enfatizando a questão da desigualdade social, amplian¬do assim a problematização em torno da condição juvenil no Brasil. Em seguida, o autor traz uma importante reflexão sobre as (poucas) perspectivas de futuro para a grande maioria dos jovens alunos, denun¬ciando um contexto sociopolítico que co¬loca a “juventude com a vida provisória e em suspenso”.
Corti (2009) ao tratar da juventude e diversidade no Ensino Médio, afirma:
O Ensino Médio no Brasil parece estar ga¬nhando novo fôlego nos últimos anos. Tra¬dicionalmente esquecido e colocado em se¬gundo plano diante da priorização do Ensino Fundamental, ele passa agora a ser reconhe¬cido como um dos principais gargalos da educação brasileira e uma etapa de ensino estratégica para o desenvolvimento do país.

Dayrell (2007), fala dos desafios vivenciados pelos jovens na sua relação com a escola e dos profes¬sores do Ensino Médio que tendem a ver o jovem aluno a partir de um conjunto de modelos e estereótipos socialmente construídos, e com esse olhar corre o risco de analisá-los de for¬ma negativa, o que os impede de conhecer o jovem real que frequenta esta etapa da es-colaridade básica.
Garbin (2009),  traz alguns apontamentos sobre internet, culturas juvenis contemporâneas e escola, e com¬põe algumas cenas interessan¬tes para serem problematizadas, repensadas e, por que não dizer, ‘navegadas’... Pergun-tando: o que se pode fazer numa escola (ain¬da) em tempos da cultura escolar hegemônica diante de tantas janelas e supostos (des) en¬contros entre as chamadas ‘culturas juvenis’ versus ‘culturas escolares’?
Ela nos questiona sobre como estamos lidando com o avanço tecnológico dentro das escolas e de que maneira estamos utilizando essa ferramenta para atrair o nosso aluno do Ensino noturno que tende a se evadir ano após ano?
Dayrel (2007), analisa a educação da juventude, a sua relação com a escola, através de debates sobre o fracasso da instituição escolar, com professores, alunos e suas famílias culpando-se mutuamente.
Para a escola e seus profissionais, o problema situa-se na juventude, no seu pretenso individualismo de caráter hedonista e irresponsável, dentre outros adjetivos, que estaria gerando um desinteresse pela educação escolar.
Para os jovens, a escola se mostra distante dos seus interesses, reduzida a um cotidiano enfadonho, com professores que pouco acrescentam à sua formação, tornando-se cada vez mais uma “obrigação” necessária, tendo em vista a necessidade dos diplomas.
Parece que assistimos a uma crise da escola na sua relação com a juventude, com professores e jovens se perguntando a que ela se propõe.
A leitura deste texto nos leva constatar que a relação da juventude com a escola não se explica em si mesma: o problema não se reduz nem apenas aos jovens, nem apenas à escola, são expressões de mutações profundas que vêm ocorrendo na sociedade ocidental, que afetam diretamente as instituições e os processos de socialização das novas gerações, interferindo na produção social dos indivíduos, nos seus tempos e espaços.
Nesse sentido o autor problematiza a condição juvenil atual, sua cultura, suas demandas e necessidades próprias, buscado compreender suas práticas e símbolos como a manifestação de um novo modo de ser jovem.

O ALUNO TRABALHADOR E O ENSINO MÉDIO NOTURNO(se for pra enumerar, como faço/)
A leitura desses textos, principalmente o último, abriu um leque de possibilidades de estudo, mas conduz cada vez mais na busca de explicações que possam ajudar a entender esse jovem que hoje nos desafia e nos intriga, principalmente do Ensino Médio Noturno, o qual tem sido palco de constante evasão e fracasso escolar.
O Ensino Médio Noturno, composto quase que na sua maioria por alunos trabalhadores que vão para a escola por motivos diversificados, entre os quais se pode citar: as condições que as empresas impõem ao contratar jovens trabalhadores é que estes estejam matriculados em escolas noturnas, pois os estudantes que estudam à noite, ou já trabalham, ou estão em busca de trabalho e vão para a escola para encontrar seu grupo social; ou, como dizem, para buscar algo melhor na vida.
Entre esses motivos, faz-se importante perguntar, o que, na verdade, um jovem estudante trabalhador busca na escola à noite?
Ele busca sem dúvida "algo que lhe interesse", ou seja, além das necessidades naturais quer também formação e informação que o auxiliem no dia-a-dia, na luta pela sobrevivência. Se por acaso, a escola não lhe oferecer o que ele busca, com certeza será impelido a abandoná-la. Outras motivações extra-escolares também podem forçá-lo a esse abandono da escola.
Lemos em Rodrigues (1995) que:
...esse trabalhador-estudante frequentador dos cursos noturnos, experimenta diariamente uma divisão social. Durante o dia ele executa, efetua, realiza. E à noite, na escola, ele deve pensar, refletir, calcular e planejar. Passa, portanto, da condição de trabalhador manual na maioria das vezes para a condição de trabalhador intelectual o que faz com que ele estabeleça com a escola um tipo de relação diferente daquela estabelecida pelos alunos que frequentam a escola em cursos diurnos. Um dos aspectos mais gritantes dessa relação pode ser revelado na forma de exclusão que o ensino noturno provoca, pois o aluno que o frequenta recebe ensino defasado em relação ao oferecido nos cursos diurnos.
A escola noturna como instituição não se refere ao seu aluno como trabalhador. E, quando faz referência a essa condição de trabalhador, o faz de certa forma paternalista ou autoritária, pois pretende se justificar uma diferença de tratamento quanto à seleção de conteúdos e à avaliação ou à carga horária em relação aos cursos diurnos. Esses argumentos costumam vir acompanhados de justificativas como: o aluno vem cansado, ou não tem interesse ou ainda não tem responsabilidade (atrasos, faltas, desistências).
Evidentes defasagens ou falta de base em conteúdos já estudados e supostamente aprendidos em séries anteriores são justificadas porque os alunos, em grande parte das vezes, sustentam-se a si próprios, quando não, são "arrimo de família". Esses alunos, se reprovados ou desistentes, matriculam-se novamente no ano seguinte recomeçando o ciclo vicioso.
Essa defasagem provoca dificuldades ainda maiores para o prosseguimento de estudos universitários ou técnicos, ou ainda, para melhorar sua posição na empresa em que trabalha.
No entanto, se um dos motivos da opção por classes noturnas é que esses jovens precisam trabalhar em tempo integral, isso não quer dizer que todos os alunos do ensino médio noturno sejam trabalhadores com empregos fixos. Esta afirmação pode conduzir a erros, pois a escolha por estudar à noite pode ser motivada por outros aspectos que não o trabalho. Entre outros motivos, pode-se citar: idade, inexistência de escolas desse nível no ensino diurno, convivência com os iguais, auxílio nas atividades domésticas ou cuidados com filhos durante o dia.
Por todos esses motivos, para os alunos está claro que "conseguir concluir o ensino médio" será uma credencial importante perante o mundo em que vivem, uma vez que, grande parte deles, são oriundos de famílias com baixo nível de escolarização, o que os faz querer fugir do ciclo vicioso que a falta de escolarização impõe.
O ensino médio, portanto, é um momento de muita importância no processo de escolarização, para aqueles estudantes que conseguem chegar até esta etapa e segundo pesquisas do IBGE (BRASIL 2010) mais de 40% dos alunos matriculados no Ensino Médio no Brasil, frequentam o Ensino Noturno e estes, além de possuírem diferentes perspectivas, buscam novas oportunidades que na maioria das vezes não encontram e acabam se evadindo, porque os interesses dos alunos do Ensino Médio noturno são diferentes daqueles do diurno e portanto, a forma de trabalhar os conteúdos também deveria ser diferenciada, o que ainda não acontece.

APRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES(se for pra enumerar, como faço? E que título coloco? Sem ideias, começa confundir rsrsrs))

A escola analisada para a realização deste trabalho é o Colégio Estadual Tancredo Neves-EFM, localizada no município de São João, Estado do Paraná, escola de atuação, onde se apresenta um índice grande de evasão no Ensino Médio Noturno.
No ano de 2014 a escola conta com 35 turmas entre os níveis Fundamental Anos Finais e Ensino Médio, apresentando um total de 921 alunos matriculados, destes, 403 no Ensino Fundamental, 350 no Ensino Médio e 160 entre as atividades complementares e a sala de recursos para atendimento especializado.
O atendimento é oferecido nos três turnos, sendo: Ensino Fundamental e Médio no turno matutino e vespertino e Ensino Médio no turno da noite, representando a única escola no município que oferta Ensino Médio Noturno.
A pesquisa teve seu foco nos alunos evadidos do turno da noite, e foi realizada no período de fevereiro e março de 2014, onde foram ouvidos através de um questionário semi-estruturado, 13 alunos do Ensino Médio noturno que haviam se evadido nos anos anteriores (2011, 2012 e 2013) e que retornaram nesse ano.
Os alunos ouvidos se encontram na faixa etária entre 18 e 25 anos de idade e a maioria é do sexo masculino. Apenas um dos ouvidos é solteiro, os demais são casados ou possuem situação estável, porém, nenhum possui prole.
Em relação ao trabalho, todos declararam que exercem funções remuneradas já há muitos anos e todos eles dependem disso para sobreviver. A jornada de trabalho ultrapassa na maioria das respostas, às oito horas diárias.
Sobre a moradia, todos moram com parceiro e possui os principais eletrodomésticos, incluindo computador com acesso a internet.
Todos voltaram a estudar no ano de 2014 em virtude da exigência do trabalho e declararam que haviam desistido por motivo da distância da casa até a escola, a incompatibilidade de horários e o cansaço pela dupla jornada.  Três deles somam aos motivos da desistência, a dificuldade em acompanhar as aulas, pois o tempo fora da escola causou uma defasagem de conteúdos muito grande. Dois dos entrevistados declararam que um agravante para a permanência deles em sala de aula, foi por não terem mais tolerância com atitudes infantis de colegas que possuem bem menos idade que eles, no caso de alunos do 1º e 2º ano. Um dos alunos ouvidos disse que desistiu por influência de terceiros.
Outro fator que chamou a atenção, foi sobre a formação dos pais dos alunos evadidos, onde percebeu-se que a formação acadêmica não é prioridade, sendo que dez dos alunos ouvidos, deram conta de que  os pais possuem apenas o Ensino Fundamental e o que importa para eles é que os filhos ingressem cedo no mundo do trabalho para ajudar nas despesas domésticas.
Entre os alunos ouvidos, um deles já abandonou a escola por seis anos consecutivos e os demais ficam em torno de uma a cinco vezes.
Ao serem inquiridos sobre o que atrapalha a aprendizagem dos mesmos na escola, a resposta unânime foi o cansaço da dupla jornada e a incompatibilidade de gênios entre eles e os alunos que frequentam normalmente as aulas em idade própria para a série.
Foram unânimes em dizer que os professores se esforçam para atender a todos dentro de suas necessidades, mas que muitos alunos não colaboram e que eles não querem perder sono com bagunça e falta de respeito. Eles gostam da escola e dizem que é a única maneira de melhorarem de vida, por isso retornaram.
Quando foram perguntados sobre o que os motivava a permanecer na escola, as respostas foram diversificadas, sendo que dois deles responderam que estão compreendendo melhor os conteúdos. Sete dos entrevistados responderam que o que os motiva é saber que em breve receberão o certificado de conclusão e com ele podem prosseguir nos estudos e aumentar a remuneração no trabalho, melhorando suas condições econômicas e podendo proporcionar uma vida melhor as famílias. Um deles disse que está sendo  bem recebido e que tem a simpatia de todos, professores, equipe e colegas, o que o motiva a permanecer. Dois deles atribuem a permanência a um clima de respeito e colaboração e dois atribuíram a permanência ao silêncio em sala de aula que lhes facilita a compreensão dos conteúdos.
Todos consideram que a escola é de suma importância na vida de todos e principalmente daqueles que pretendem construir uma carreira, seja ela em qual área for. Outros ainda colocaram a questão de status social, que a pessoa com mais estudo é tratada com mais respeito onde quer que chegue.
Sobre o futuro, alguns pretendem cursar uma Universidade, outros fazer um curso técnico e outros pretendem montar o próprio negócio e trabalhar autonomamente. Sobre projetos de vida, pensam em constituir família e trabalhar para suprir as necessidades da mesma.
Dois dos alunos que participaram da pesquisa, desistiram novamente duas semanas depois de responder a mesma.
Nas palavras de Kuenzer (2002 p.18), “...o compromisso da escola é de proporcionar educação, a fim de que os jovens possam participar da vida social de maneira concreta, conquistando autonomia, tanto intelectual quanto moral.”
Percebe-se, no entanto, que esse objetivo está longe de ser alcançado, pois a evasão nesse nível da educação básica, como visto na escola analisada, tem sido responsável pela exclusão de um número cada vez maior de jovens e adultos da educação de base.
As escolas não estão dando conta de oferecer aos seus alunos uma formação que venha ao encontro de suas necessidades, pois, suas condições de frequência, em virtude da dupla jornada diária, bem como das diferentes perspectivas do ensino, das atitudes dos outros alunos e das instituições, não condizem com as esperanças almejadas.
Na pesquisa realizada no Colégio Estadual Tancredo Neves, observou-se que o que desmotiva os jovens a prosseguir em seus estudos é a falta de significados que a sala de aula oferece aos estudantes, que já chegam até ela desmotivados pelos anos de fracasso escolar, repetência, cansaço, falta de uma base inicial e na escola, se deparam com uma sala de aula cheia de adolescentes barulhentos e professores que apesar de esforçados, acabam fazendo uso de metodologias tradicionais, pois é a única maneira de conseguir silêncio e desenvolver um rol de conteúdos mínimos que devem ser vencidos em cada bimestre/trimestre, sem, no entanto, alcançar os objetivos previstos no início do ano, ou seja, o sucesso na aprendizagem de todos.
Rodrigues (1995) se refere ao aluno que trabalha durante o dia e frequenta os cursos noturnos, como um cidadão que experimenta diariamente uma divisão social, pois, de dia ele executa, efetua e realiza, e a noite ele pensa, reflete, calcula e planeja, passando da condição de trabalhador manual para trabalhador intelectual e estabelecendo uma relação diferente entre a escola e a empresa que mantém a sua economia familiar em dia.
Os alunos ouvidos na pesquisa reforçam o perfil delineado por Rodrigues (1995) quando dão conta de que preferem desistir de estudar a deixar de trabalhar, pois é do trabalho que retiram seu sustento e o de suas famílias. Já é frequente o ato de iniciar o ano e abandonar em seguida, sendo que, um aluno ouvido na pesquisa, disse ter abandonado a escola por seis anos consecutivos e que só retornou no ano de 2014 em virtude da exigência do trabalho.
A formação acadêmica não é prioridade para a maioria dos evadidos e nem para seus familiares que já vem de um histórico de evasão, apresentando um nível de formação pautado apenas no Ensino Fundamental e na maioria dos casos, incompleto.
    Dayrel (2009), diz que, para a escola e seus profissionais, o problema situa-se na juventude, no seu pretenso individualismo de caráter hedonista e irresponsável, dentre outros adjetivos, a juventude que estaria gerando um desinteresse pela educação escolar.
Percebe-se na pesquisa realizada, que os próprios alunos estão cientes de que a forma como os conhecimentos são repassados, não causam efeito por que não despertam o interesse e que a falta de perspectivas de melhora nesse quadro, reforça a evasão nas escolas de Ensino Médio Noturno, onde a maioria não tem sequer esperanças de melhora de vida através do estudo, pois, parece que o que é ensinado dentro das salas de aula, não lhes é útil fora dela.
Parece que assistimos a uma crise da escola na sua relação com a juventude, com professores e jovens se perguntando a que ela se propõe em uma época em que a própria juventude não sabe o que busca além de uma formação para o trabalho.
Dayrel et. al. (2009), se posiciona sobre as relações entre a juventude e a escolarização, discutindo as razões entre abandono e permanência no âmbito escolar, sobretudo no ensino médio regular e questionam em relação às múltiplas tensões entre o contexto escolar e a dinâmica da juventude, impondo problematizações que os próprios jovens ouvidos na pesquisa, deram conta de responder.
Quando perguntados sobre os motivos que os leva a abandonar a escola, os mesmos responderam que a escola se mostra distante dos seus interesses, reduzida a um cotidiano enfadonho, que pouco acrescenta à sua vida profissional, tornando-se cada vez mais uma “obrigação necessária”, tendo em vista a necessidade dos certificados de conclusão exigidos pelas empresas e seus empregadores. Quando perguntados sobre o que os levaria a permanecer na escola, as respostas seguiram o mesmo caminho, ou seja, a simples necessidade de certificação em virtude da exigência do trabalho, nenhum citou a importância de obter maior conhecimento acadêmico para prosseguir em estudos posteriores, ou outros motivos.
Assim como a própria categoria juventude e as transformações mais gerais que afetam a sociedade como um todo, também a visão de escola elaborada pelos jovens tem sofrido metamorfoses, de modo que o espaço escolar (ou a instituição escolar) passa por um processo de ressignificação onde na maioria das respostas dos entrevistados, aparece a formação acadêmica como principal ferramenta de promoção social e econômica dos cidadãos e, na opinião deles, as profissões mais valorizadas são exatamente aquelas que necessitam de maior preparo acadêmico, como medicina, direito e engenharia, porém, essas, eles não pretendem seguir. Contentam-se em prosseguir nas funções que desempenham nas fábricas locais, nas linhas de produção, ou nos serviços que não necessitam de muito preparo, contentando-se apenas em concluir o Ensino Médio, porém, sem paciência para realizar o mesmo.
Ao finalizar essa pesquisa, percebeu-se que a realidade observada, dialoga com o que os autores consultados apontam como a causa da evasão no Ensino Médio Noturno, ou seja, a necessidade de trabalhar para manter a economia doméstica e ajudar familiares no sustento da casa.
A pesquisa realizada, não encontrou soluções imediatas para a situação, o Governo, porém, através de programas como o Pacto para o Fortalecimento do Ensino Médio e o Programa Ensino Médio Inovador (PROEMI), objetiva ressignificar essa etapa da aprendizagem dos jovens através da formação continuada dos professores que atuam nessa modalidade da educação e do redesenho curricular do Ensino Médio como um todo. Os programas citados, ainda estão em implementação nas escolas e merecem uma análise posterior, considerando-se que apresentam uma reflexão acerca dos desafios a serem enfrentados pelas políticas públicas para a superação dos atuais problemas existentes, partindo de um resgate histórico dos problemas que caracterizam o Ensino Médio Brasileiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS    (enumerar?)

A evasão, segundo a pesquisa realizada, foi e continua sendo um dos principais problemas do Ensino Médio Noturno. Ocasionada por várias situações sociais ou individuais, dando-se ênfase, porém, como principal causa, o cansaço em virtude da dupla jornada, mostrando que a maioria dos estudantes, jovens e adultos,  buscam no Ensino Médio
Noturno uma possibilidade de melhoria de vida, são também trabalhadores que mesmo jovens já carregam nos ombros a responsabilidade de sustentar suas famílias ou pelo menos, ajudar no sustento das mesmas.
Considerando-se que a categoria “juventude” é uma construção histórica e  o jovem que hoje se alista aos bancos escolares noturnos é um jovem diferente daquele que a maioria dos profissionais da educação estavam acostumados a lidar,  isso também se configura numa das causas da evasão escolar, pois as metodologias utilizadas pelos professores são ultrapassadas, pouco atrativas e cansativas, mostrando-se ineficazes em relação ao avanço tecnológico e científico que hoje se apresenta e não vem de encontro as necessidades mais imediatas dos jovens trabalhadores, o que vem confirmar as hipóteses iniciais.
Os autores consultados nessa pesquisa nos dão conta de uma situação de evasão que vem se arrastando ano após ano no Ensino Médio Noturno e que os programas educacionais, pouco ou quase nada conseguiram modificar no quadro que parece crescer cada vez mais. Tem-se desprendido esforços em busca de projetos e programas que incentivem a permanência do jovem nas salas de aula, porém ainda não se chegou a um patamar esperado, nem por profissionais da educação, nem por jovens e muito menos pelo sistema, que infelizmente mostra-se ineficaz ao lidar com o Ensino Médio Noturno composto por jovens e adultos cada vez mais desmotivados e sem perspectivas de melhoria de vida através da educação, não vendo utilidade da mesma em seu dia a dia.
Muitos programas estão entrando em vigor, entre eles o Programa PACTO para o fortalecimento do Ensino Médio, que busca ressignificar a formação dos profissionais da educação nesse nível da Educação Básica e o PROEMI- Programa Ensino Médio Inovador- que tem como meta o redesenho curricular do Ensino Médio. Programas estes, buscam trazer de volta às classes escolares uma fatia enorme da população jovem brasileira que está excluída da formação em Nível Médio, através da reflexão sobre a prática docente e da revisão curricular, porém, são dois programas que ainda precisam receber uma atenção por parte dos pensadores da educação nacional, a fim de que não fujam de seus objetivos e que alcancem as suas metas em busca de uma qualidade de ensino maior e uma permanência maior do jovem nos bancos escolares, principalmente do Ensino Médio Noturno, ressignificando essa modalidade tão importante da educação básica brasileira.

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