Discussões acerca da formação dos jovens do Ensino Médio no Colégio Estadual José de Anchieta – EFM, no município de Planalto-PR ¹

Nos dias de hoje, frente as transformações socioeconômicas e geopolíticas, resultadas do modelo econômico capitalista em uma era de globalização, a sociedade passa a adquirir novos hábitos e padrões em virtude da difusão cultural e da ideologia implantada pelo sistema. Mesmo que teoricamente, vivemos em um mundo globalizado, vivemos imersos numa diversidade incrível. Desta forma, a escola que historicamente teve a responsabilidade de compartilhar o conhecimento construído pela humanidade, passa a ter a necessidade dialética de somar-se aos conhecimentos e transformações contemporâneas. Neste sentido é necessário entendermos a escola como espaço de diversidade, palco de constantes transformações e candidata a protagonista na vida dos sujeitos que a frequentam. Dentro desse contexto da diversidade encontramos os jovens, muitos deles integrados às suas tribos, e não muito raro excluídos delas e perdidos na formação de sua personalidade ideológica. Nesta ótica, a escola e os educadores devem absorver essa dinâmica dialética da realidade contemporânea e auxiliar o jovem na formação de sua identidade, instrumentalizando-o afim de que possa ser o protagonista de sua realidade. Na contemporaneidade é necessária uma escola que atenda os anseios da população jovem. Para isso, deve haver adequação das aulas de forma que sejam contemplados assuntos que despertem o interesse dos alunos. Em contrapartida, o aluno deve ter consciência da importância da educação para a sua formação humana integral, entendendo-a como oportunidade de um futuro melhor.

Uma das maiores dificuldades de nós professores é despertar nos alunos o interesse e mostrar a importância da educação escolar, fazer com que professores e alunos tenham os mesmos objetivos e se cobrem mutuamente para que alcancem com êxito os objetivos da educação. Para compreender melhor esta falta de interesse demostrada por muitos de nossos alunos, buscamos ajuda do Grêmio Estudantil na realização de uma pesquisa para saber até que ponto os alunos do ensino médio têm a sua participação na escola comprometida por causa do trabalho ou outras atividades externas. A maioria dos alunos envolvidos na pesquisa é do período noturno. Do total dos entrevistados, 90% trabalham, dos que estudam pela manhã 77% trabalham pelo menos outras 4 horas por dia. Já entre os alunos da noite, apenas 4,76% não trabalham. Dos alunos entrevistados que trabalham, apenas 24% tem carteira assinada, no entanto 88% sabem de seus direitos, mas muitos demonstraram surpresa ao calcular o número de horas trabalhadas. O que chamou a atenção ao final do trabalho, foi saber que na opinião de 56,36% dos alunos a escola não oferece auxílio na escolha profissional e não prepara para o trabalho. Pelo que foi constatado na pesquisa, o trabalho está presente na vida cotidiana da maioria dos alunos do ensino médio de nosso colégio. A maioria usa como justificativa para as dificuldades em realizar as atividades escolares e 74,54% diz que, se pudesse, se dedicaria somente aos estudos. Ficamos surpresos com o número de alunos que trabalham. Na verdade, já se tinha essa noção de que o trabalho acaba tomando um tempo maior do que os estudos, mas parar para discutir o assunto com os próprios alunos, envolver o Grêmio Estudantil na pesquisa, fez com que o grupo visse o problema com outros olhos e percebesse que essa “falta de interesse” anteriormente assinalada é, na verdade, uma confusão de prioridades. Para os alunos é mais urgente e interessante resolver um problema imediato que é a falta de condições financeiras para saciar a necessidade de consumo e o auxílio na renda familiar, do que buscar uma melhor formação e garantir melhores condições no futuro.

Além das questões que envolvem o trabalho, também acreditamos ser necessária uma análise do grupo de professores e levantar as principais dificuldades para depois buscar alternativas para sua solução. Entendemos que o problema ou “os problemas”, não estão somente nos alunos, mas sim no todo da "escola", na direção, nos professores, nos funcionários e também nos alunos. Desde os objetivos da direção até os dos alunos. É preciso definir o que a escola quer para os alunos, o que o aluno quer da escola e onde ele quer chegar. Sentimos ser necessário lançar desafios para todos, buscar meios e argumentos para chegarmos a uma atuação mais correta e de acordo com a necessidade de todos, garantindo a todos o acesso ao conhecimento. Uma alternativa que percebemos com as discussões é despertar o interesse pela educação usando as redes sociais.

Para entender o relacionamento de jovens e internet propomos um questionário que foi aplicado a alunos do Ensino Médio Diurno provocando uma discussão em sala de aula. O objetivo da atividade foi identificar a utilização e o espaço destinado a internet e as redes sociais no seu cotidiano. Nesta pesquisa podemos perceber que cerca de 50 à 60% dos jovens possuem internet em suas casas, mas quase todos acessam a mesma pelo celular ou tablet, eles estão conectados a diversas redes sociais com Face, Twitter, WattsAp. Os jovens normalmente compartilham fotos, músicas e vídeos que não sejam muito extensos e que despertam o interesse momentâneo. As redes sociais estão cada vez mais presentes na vida dos jovens que os faz pensar que são incapazes de sobreviver sem ela. Reconhecem o perigo e exposição que as mesmas causam em suas vidas, mas as veem como fundamental para o dia a dia. Os jovens possuem contato e amizade pessoalmente e consideram a conversa e convivência com outros jovens indispensáveis. Porém, as redes criam uma figura, uma personalidade esteriotipada que os permitem escrever e comentar coisas que muitas vezes pessoalmente não falariam para as pessoas. Muitos dos estudantes não compartilham ou acessam temas educacionais nas redes por acharem chato, longos demais, não interessantes, porém consideram a ideia de compartilhar informações referentes a contextos estudados na escola, desde que seja abordado de forma diferenciada: charges, desenhos, músicas, vídeos. Partindo dessa discussão, passamos a pensar diferente.

Atualmente a era é digital e nós professores estamos começando a conhecer esse meio, pode-se dizer que este trabalho abriu uma pequena porta  de ligação de um conteúdo teórico, aplicado em um ambiente "fechado" escola, para quem sabe uma aplicação prática, aberta com participação dos jovens e talvez uma reciprocidade positiva  dos educandos e assim um melhor aproveitamento dos temas na humanização para a vida. No papel de professores e escola deve-se valer de que, primeiramente tem que utilizar os instrumentos que se tem, e no momento, as mídias são o que mais atrai a atenção dos jovens. Esse despertar do interesse também poderia vir de uma aproximação dos conteúdos com o cotidiano do aluno. Diminuir a quantidade de exercícios prontos e deixar sob responsabilidade dele a elaboração de algumas questões sobre a teoria trabalhada também é uma possibilidade. Pela ação de pelo menos um, talvez se desperte a participação dos outros. Enfim, escola e aluno devem ter os mesmos horizontes, ter como principal meta a formação plena dos sujeitos da escola, uma formação omnilateral, que dê suporte aos educandos para que tenham condições de almejar um futuro no qual possam usufruir de qualidade de vida para si, para sua família e para a sociedade de forma que se diminuam as diferenças sociais.