A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES DOS JOVENS NO CONTEXTO CULTURAL, TECNOLÓGICO E EDUCACIONAL

Só conseguiremos viver juntos se reconhecermos que nossa tarefa comum é combinar a ação instrumental e identidade cultural; se cada um de nós, portanto, se construir como sujeito e se obtivermos leis, instituições e formas de organização social cuja finalidade principal seja proteger nossa busca de viver como sujeitos de nossa própria existência. (TOURAINE, 1998, p.190)

INTRODUÇÃO
O avanço dos ritmos e formas de comunicação e informação caracterizadas pelos processos históricos de globalização, representados pelo avanço das tecnologias de informação e comunicação, trazem a tona os desafios de compreensão da construção da identidade dos jovens, seus processos de aprendizagem e intervenção no mundo.
Este texto trata inicialmente dos fenômenos socioculturais presentes nos processos de construção das identidades dos jovens na contemporaneidade tendo em vista o acesso as tecnologias como um importante elemento constitutivo da cultura juvenil.
Após, adentraremos nas discussões sobre os desafios da escola em acompanhar e compreender as transformações sociais mobilizadas pelo acesso dos alunos as tecnologias de comunicação e informação.
JOVENS: SUJEITOS DE INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E CRIAÇÃO
Na sociedade contemporânea os recursos tecnológicos comunicacionais estimularam, e ao mesmo tempo confrontaram a sociedade a apropriar-se de tais tecnologias. O contato cada vez mais cotidiano com as mídias promoveu o acesso as informações sobre várias culturas, diversidades étnico - raciais  e acontecimentos os quais dinamicamente, muitas vezes de forma imperceptível, vão se incorporando as práticas sociais cotidianas. De modo que os processos de construção das identidades e suas formas de afirmação vão sendo reelaborados.
A determinação de papéis nos grupos sociais na família, na escola, na igreja, no bairro dentre outros, ampliou suas dimensões locais, territoriais e globais e suas formas de relação com as representações de si por meio do advento das redes sociais.
Os ciberespaços tomam posse de um território virtual, on-line que ao romperem com as barreiras territoriais entre tempo-espaço reconfiguram as formas de ser e estar no mundo.Os jovens, por sua vez, reconhecidos como população nativa ao advento tecnológico das mídias de informação e comunicação, encontram nesse sistema um terreno fértil e democrático para expressão de suas ideias, emoções e desejos de forma criativa e dinâmica.
Assim, nas redes sociais nos chamados “grupos” exercitam as inter-relações entre igualdade e diferença as quais são elementos presentes nos processos de construção de identidades. Neste sentido:
As identidades juvenis se constituem em espaços- tempos de sociabilidades e práticas coletivas, colocam em jogo interesses em comum que dão sentido ao “estar junto” e ao “ser parte” dos grupos também constitui o “nós” que se diferencia dos outros. Nos territórios usados pelas coletividades juvenis se elaboram espaços e autonomia que permitem transformar os espaços previamente concebidos. (CADERNO II, 2013, p.20)

Condições estas que exigem uma espécie de reconfiguração das instituições tradicionalizadas por padrões de funcionamento e constituição. O jovem, hora marcado pelos padrões e idealizações institucionais afirma-se como sujeito da informação e comunicação, ultrapassa as barreiras da tradição para inscrever sua história em um novo modelo de estar no mundo, sem fronteiras territoriais e de estrutura própria expressa no uso dos teclados, links, vídeos e mídias.
Tal processo põe em cheque as formas tradicionalizadas de construção das identidades e as formas de representação do jovem, historicamente marcadas por padrões estéticos, culturais e étnicos, pressupondo um perfil idealizado. Para Ciampa (1998):
a expectativa generalizada de que alguém deve agir de acordo com suas predicações e, consequentemente, ser tratado como tal. De certa forma, re - atualizamos, através de rituais sociais, uma identidade pressuposta, que assim é vista como algo dado (e não se dando continuamente através da reposição). Com isso retira-se o caráter de historicidade da mesma,aproximando mais da noção de um mito que prescreve as condutas corretas, re - produzindo o social (CIAMPA, 1998, p.163).

O ciberespaço se torna um significante campo simbólico para os jovens no exercício da autonomia apartando-se das escolhas convencionadas pelos adultos, apontam sua própria forma de lidar com as situações- problemas, com os acontecimentos locais e globais.
A juventude é um ícone nesse processo. Ela interage crescentemente com as tecnologias e, assim, se produz, orienta seu comportamento e conduz a própria existência. As tecnologias digitais são, pois, um importante elemento constitutivo da cultura juvenil. (CADERNO II, 2013, p.25)
Este cenário de exercício da autonomia de escolha, formas de comunicação, expressão de ideias e fatos caracteriza a cultura juvenil, a qual vem se descobrindo em uma dinâmica própria da vida contemporânea, que exige do jovem um estar sendo em consonância com um projeto de futuro.
A identidade dos jovens neste sentido se configura sob uma perspectiva de autonomia, enquanto sujeitos de comunicação, escolha, criatividade e ação.
A cultura nesse contexto assume seu caráter estético, criativo e educacional, pois tais transformações perpassam pelo mundo do saber experienciado, do conhecimento. De modo que o ser humano em sua relação com o mundo define-se pelo significado que dá à ação e ao mundo que transforma. A sua ação, portanto, não é feita simplesmente de forma reflexa e material, na medida em que o ser humano é ser que produz cultura, suas produções possuem valor simbólico.

A cultura é histórica, no sentido de que a  atividade humana que cria a história é aquela que faz a cultura. Assim a própria história humana não é outra coisa senão a trajetória do processo por meio do qual o trabalho social do homem opera a dialética da transformação da natureza em cultura.Opera a passagem de um mundo dado ao homem para um mundo construído pelo homem (BRANDÃO, 2002, p.39).

Diante do exposto, a instituição escolar se depara com os conflitos educacionais, entre a perpetuação de um regime de trabalho baseado em um perfil de jovem idealizado pelas tradições culturais e a necessidade de compreensão das formas de ser e agir do jovem contemporâneo.
O CONTEXTO ESCOLAR FRENTE A CULTURA JUVENIL
Nota-se no contexto escolar um conflito geracional no que diz respeito as relações com as tecnologias. Ainda para grande parte dos professores este jovem integrante das redes sociais, utilizador assíduo dos celulares, com seus aplicativos, vídeos, músicas e mensagens invade e interrompe de forma indisciplinar as suas aulas, formando um “cabo de guerra” entre o proposto pelo professor e os temas e instrumentos de interesse dos alunos.
O ponto de partida para a superação do choque de interesses entre as expectativas dos alunos e as dos professores está justamente no processo de ressignificação da representação do jovem que deve encontrar no contexto escolar espaços dialógicos como prática de democratização das relações entre professor e aluno.
Parte do principio de provocar o jovem a intervir na sua condição de autor do conhecimento, sob o qual as mídias devem funcionar como ferramentas de ampliação dos saberes, bem como seu uso deve ser problematizado para que de fato sejam usadas em sua potencialidade.Implica ressaltar que:
As manifestações culturais, notadamente as que se fazem notar pelas mídias eletrônicas, podem e devem ser utilizadas como ferramentas que facilitem a interlocução e o diálogo entre os jovens, profissionais da educação e a escola, contribuindo assim para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras em comunidades de aprendizagens superadoras das tradicionais hierarquias de práticas e saberes ainda tão presentes nas instituições escolares. (CADERNO II, 2013, p.27)

As questões apontadas demandam uma rede de ações que vão desde a formação continuada dos professores, a adoção da prática curricular interdisciplinar e metodologias de ensino focadas na aprendizagem, condições que pressupõem a percepção do jovem como sujeito com potenciais e habilidades específicas do seu tempo.
Parte do principio de elaborar coletivamente e materializar estratégias de aproximação entre os sujeitos do conhecimento no contexto escolar, de forma que a educação sistematizada adentre significativamente nos projetos de vidas dos jovens e mobilize saltos qualitativos em suas relações com o conhecimento.
Conhecimento significativo que impulsione os nossos jovens a fazerem escolhas conscientes, planejarem seu futuro e intervirem no seu presente. Na medida em que a “elaboração de um projeto de vida é fruto de um processo de aprendizagem” (CADERNO II, 2013, p.32).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As questões aqui apresentadas demonstram a importância do ambiente escolar no cotidiano dos nossos jovens. Ambiente que muitas vezes exerce a função oposta ao que se propõe quando se materializa em práticas e experiências com enfoque essencialmente propedêutico, vislumbrando um modelo de jovem, o qual não é estimulado em suas potencialidades e respeitado em suas condições de aprendizagem e história de vida.
Atualmente, no cenário paraense a dita “ciranda dos culpados” favorece a criminalização dos jovens em um jogo em que a escola e o Estado perdem para a violência e exclusão social.
Portanto, cabe a todos os envolvidos nos processos educativos poder público, educadores,alunos, família, a responsabilidade de construir projetos de vida de forma crítica e coerente, que se materialize em um sistema público de ensino  que responda as demandas sociais.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Carlos. Pensar a Prática: escritos de viagem e estudos sobre
educação. São Paulo: Loyola, 1984.
BRASIL. Formação de professores do ensino médio, etapa I- caderno II: o jovem como sujeito do ensino médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica;] organizadores : Paulo Carrano, Juarez Dayrell ...et al.]. Curitiba: UFPR/ Setor de Educação, 2013.
CIAMPA, Antonio. A estória de Severino e a historia da Severina: um ensaio de psicologia social. São Paulo: Brasilense, 1998.

TOURAINE, Alain. Podemos viver juntos? Iguais e diferentes. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

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