caderno IV Linguagens

Colégio Estadual Ipê Roxo de Foz do Iguaçu.
Professores: Carina dos Santos, Carmeci Aparecida Alves, Fabiana da Silva Rocha, Germano Luiz Kalinoski, Ilda Aparecida da Silva, Margarida de Souza, Marilene Aparecida Benites, Marilda Lopes Cruz, Lídiomar Teixeira da Silva, Patricia de Souza, Roseli de Fátima Dal Moro, Valquiria de Souza Barbosa.
Essa obra do diretor Herzog é repleta de simbolismos. Podemos estudar as experiências vividas por Kaspar Hauser pela ótica tanto das ciências médicas como das sociais. A importância do aprendizado da linguagem para o bom relacionamento interpessoal é o fator que mais chama a atenção. Kaspar Hauser menciona em uma de suas falas: Tenho que aprender a ler e a escrever para depois poder compreender. Conhecer o mundo pela linguagem, por signos linguísticos, parece não ser suficiente para Kasper Hauser. Vygotsky insiste que o pensamento e a linguagem se originam independentemente, fundindo-se mais tarde no tipo de linguagem interna que constitui a maior parte do pensamento maduro. (Saboya, 2001 – p.5).
Kaspar Hauser não passou por um processo de socialização, onde exercitaria a compreensão através da prática social, não consegue atribuir significado às coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem. Assim, analisando o caso de Kaspar Hauser, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito. (Saboya, 2001 – p. 6)
É um filme denso, que nos mostra uma visão sobre a humanidade e faz uma reflexão sobre a unicidade do ser humano, da história de vida e experiências de cada um, e sobre o quanto linguagem e cultura representam para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. Kaspar Hauser, um personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1828, com supostamente 15 anos, quase não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano, pois desde a mais tenra idade, foi privado do convívio social. Sua trajetória de vida é o triste resultado de sua carência de cultura e do não desenvolvimento da linguagem. O total isolamento na caverna por tanto tempo, impactou fortemente sua formação como indivíduo.
Muito tempo após sua reintegração na sociedade, já com a linguagem mais desenvolvida, percebe-se ainda a dificuldade de Kaspar Hauser em entender às pessoas e suas reações. Enquanto privado do convívio social, o silêncio era sua única companhia. Não somente a ausência de vozes externas, mas o silêncio interno, da mente vazia. Kaspar Hauser não poderia conhecer a si mesmo sem ter alguma relação interpessoal, sem referências. Não havia a linguagem para que ele pudesse definir as coisas que via e experimentava no cativeiro.
A teoria sócio-interacionista de Vygotsky tem como pressuposto que o desenvolvimento cognitivo acontece através da interação social entre duas ou mais pessoas, que trocam experiências, criando novos conhecimentos. Algumas proposições podem resumir a sua teoria de Vygotsky, tais como: “Na ausência do outro, o homem não se constrói homem” (OLIVEIRA, 1992, p. 68); “O saber que não vem da experiência não é realmente saber” (VYGOTSKY, 1989, p.75); “O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa” (VYGOTSKY, 1984, p. 33). Isso acontece, porque existem situações em que a criança não conseguirá solucionar sozinha, pois algumas de suas funções mentais ainda não estão consolidadas.
Com efeito, as relações do homem com o mundo não são diretas, mas signo mediadas, pela utilização de signos e instrumentos e de fora para dentro. Para Vygotsky, signos são símbolos que significam algo, como, por exemplo o pensamento verbal, a linguagem escrita, a língua falada. Estes formam um sistema simbólico básico encontrado em todos os grupos sociais. Assim, na ausência de um sistema de signos, linguísticos ou não, somente o tipo de comunicação mais primitivo e limitado torna-se possível.
A comunicação por meio de movimentos mais expressivos, observada principalmente entre animais, é mais uma efusão efetiva do que comunicação. Um ganso amedrontado, pressentindo subitamente algum perigo, ao alertar o bando inteiro com seus gritos não está informando aos outros aquilo que viu, mas antes contagiando-os com seu medo. (VYGOTSKY, 1989, p. 5). Os instrumentos consistem nas ferramentas que utilizamos para transformar a natureza, mediando as relações do homem com o mundo. Assim, a invenção e o uso dos signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, escolher) é análoga à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento de trabalho. (VYGOTSKY, 1999, p. 52).
Através dessas mediações, os signos são internalizados, permitindo a interpretação de novos signos e novas assimilações.
O caráter social das práticas de linguagem revela que estas estão em constante re-elaboração, na medida em que os homens retribuem sentido a práticas de linguagem aprendidas ao longo de suas histórias e na medida em que o modo como os homens produzem suas próprias vidas também se modificam no decorrer do tempo, aportando novos veículos de comunicação, novos gêneros textuais ou novas modalidades de textos de gêneros já conhecidos, estamos hoje num mundo multiletrado.
A utilização dessas práticas como instrumento de aprendizagem no âmbito escolar e para fins educativos torna a aula mais atrativa e muitos alunos que de outra forma, através desse instrumento desenvolve satisfatoriamente as atividades.
A linguagem é fundamental para socialização do homem, desde a infância em todos os espaços sociais, pois, é a forma pela qual o indivíduo se socializa. No âmbito escolar há a possibilidade de explorarmos toda essa diversidade e a partir disso tornar o conhecimento mais significativo e próximo da realidade dos alunos. 
De acordo com a atividade realizada com o primeiro ano do Ensino Médio foi possível observar que a maioria dos alunos está inserida no mundo virtual. O acesso ao Facebook, whatsapp, instagran, twitter, assim como outros meios permite informação rápida acerca de tudo o que ocorre no mundo. O grande desafio é transformar essa informação em formação. Outros aspectos culturais relevantes são o movimento de capoeira, danças e um forte movimento gospel já que na comunidade existem várias denominações evangélicas. As danças, músicas, filmes, vídeos são mediadores de socialização e construção lingüística.
Os seres humanos encontram no trabalho não só um modo de satisfazer suas necessidades, mas tam¬bém de potencializá-las para além da dimensão vital que nos iguala aos animais. Por isso, é possível dizer que os humanos se produzem a si mesmos para além da natureza; qualidade que identificamos como a dimensão ontológica do trabalho.
O pensamento, por sua vez, articula-se como linguagem (logos), nas suas diferentes formas, potencializando modos de existência, configurações de mundos e o próprio sentido da existência; o que torna compreen¬sível a afirmação de que quando “morre uma língua”, morre uma possibilidade de mundo humano. O pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias.
Da atividade cultural, resultam as representações e significados que, em retorno, orientam as relações sociais e aspectos normativos de conduta de uma sociedade. Por essa perspectiva, a cultura é compreen¬dida como a articulação entre o conjunto de representações e compor¬tamentos e o processo dinâmico de socialização, constituindo o modo de vida de uma população determinada.
Quando analisamos a inter-relação entre cultura e a área de Linguagens em uma segunda aborda¬gem, é possível vislumbrar a contribuição dos componentes curriculares para que os estudantes melhor compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al., 2006). Por um lado, a face da criação que consiste na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos desafios da vida cotidiana.
No que se refere à tematização da face da coerção presente na cultura, entendemos que não poderia deixar de ser abordado com os estudantes, entre outros assuntos, o consumismo característico da cul¬tura contemporânea, entendido como a tendência de nos autodefinir¬ em termos dos bens e serviços que compramos. 
Nesse sentido, a área de Linguagens tem como desafio, por exemplo, permitir que os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade não apenas para destacar as características de um produto à venda, mas também para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados, como sucesso, conquista, juventude, simpatia, sensualidade, beleza.
A área das Linguagens pode desse modo, contribuir para que os jovens reconheçam o papel das ciências na produção de novos conhecimentos, imprimindo assim um significado ao rigor científico ne¬cessário para tal fim. Por outro lado, a área também pode contribuir para que os jovens elevem suas condições de percepção frente a esta forma de discursividade, realizando uma “crítica epistemológica”, valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produção de significações.
Num mundo onde os sistemas de comunicação exercem um papel estruturante e, não raras vezes dominador, onde as relações migraram do produto para o consumo, a mediação tecnológica é constante. O cotidiano das pessoas, nas mais diferentes dimensões e das formas mais diversas, é atravessado pela tecnologia.
Consideramos alguns dos seis conhecimentos listados no Caderno Linguagens para pensar as questões que a temática sobre o ideal de beleza para um possível trabalho interdisciplinar.
Escolhemos “o conhecimento sobre a organização e o uso crítico das diferentes linguagens”, porque este conhecimento da área de Linguagens pode contribuir para um trabalho interdisciplinar que considere a temática do padrão estético de beleza na atualidade, quando esteja voltado a refletir sobre os impactos dessa problemática na vida dos estudantes. É importante discutir como o jovem do Ensino Médio se relaciona com as questões que envolvem o ideal /padrão de beleza a ser atingindo atualmente, como por exemplo: o uso de maquiagem, o mesmo tipo de cabelo (liso, pranchado), entrada cada vez mais cedo em academias de musculação, o uso descontrolado de anabolizantes (compra fácil no Paraguai), etc.
O conhecimento sobre a diversidade das linguagens, descrito na letra “c”, nos ajuda a pensar em atividades que envolvam a análise das capas de revistas “femininas” e de leituras de algumas reportagens sobre o que é aceito como belo atualmente (valorização do corpo magro e malhado/”sarado”), problematizar a imposição do padrão único/homogêneo de beleza e pensar em outros tipos de beleza.
Enquanto que a partir do “conhecimento sobre a naturalização/desnaturalização das linguagens nas práticas so¬ciais” podemos discutir que o padrão de beleza aceito na sociedade atual de forma naturalizada foi historicamente e culturalmente construído. Trazer textos que mostrem como o ideal de beleza era diferente em diferentes momentos históricos. Na reportagem de Amanda Nunes (2014), “A ditadura do corpo ideal e o preconceito velado”, a autora mostra que no período colonial, por exemplo, o modelo de beleza aceito como natural era a aparência “rechonchuda”, ou seja, “quanto mais gorda a mulher fosse, mais bonita ela era considerada”.
O trabalho a partir do “conhecimento sobre autoria e posicionamento na realização da própria prática” é importante porque neste tipo de conhecimento, podemos refletir sobre o comportamento dos jovens com relação aos que “não se incluem no padrão de beleza estabelecido”, por meio de práticas discursivas preconceituosas, violência simbólica ou até mesma física com outros estudantes. 
Uma sugestão para o trabalho interdisciplinar, para trabalhar o “conhecimento sobre o mundo globalizado, transcultural e digital e as práticas de lin¬guagem”, seria a utilização de alguns vídeos publicitários que tentam apresentar outros padrões de beleza, como as últimas propagandas da Dove, no entanto, vale ressaltar que nenhum discurso é neutro, e muitas vezes, a publicidade está se apropriando do discurso da diversidade para fins econômicos e mercadológicos. 
1) Na leitura textual em (Libâneo 2010), o autor o ressalta alguns pontos, entre eles que “os educadores devem ajudar os estudantes a construírem seus próprios quadros valorativos a partir do contexto de suas próprias culturas, não havendo valores com sentido universal. Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares são a diversidade, a tolerância, a liberdade, a criatividade, as emoções, a intuição” (LIBÂNEO, 2010, p.27-28). Isto posto após uma reflexão em grupo sobre o tema trabalho, cultura, ciência e tecnologia, procurando evidenciar as inter-relações, percebemos que a partir de Libâneo realmente o professor é o elo entre a construção do saber e o desenvolvimento pessoal do educando, no entanto este último deve apropriar-se dos saberes levando em conta sempre a necessidade do crescimento pessoal individual, e sua práticas refletirão no coletivo social, mas para isto ele deve querer pintar o seu próprio quadro.
2) Olhando do topo da árvore para a sustentação (raízes), o primeiro, é a consolidação do trabalho pedagógico (pesquisas, trabalhos em grupo, exposição oral, visitas, aulas prática, etc.) este sendo sustentado pelo tronco de idéias práticas e saberes acumulados ao longo dos anos, articulados pela prática pedagógica, este quando bem fixado em suas raízes traz a luz do conhecimento para o educando.
3) Toda prática avaliativa tem como forma a classificação, não que seja o correto, mas para ter acesso a nível superior educacional ocorre (vestibular). Nossas práticas em sala devem estar acima deste foco, temos que ver as nuances do aprendizado, haja vista a educação ser pessoal e temporal, dar-se individualmente, cada um aprende a seu tempo, assim toda avaliação formativa, somativa, diagnóstica, é válida, mas o subjetivo deve ser considerado pois ao longo do desenvolvimento educacional o educando vai somando o aprendizado diário, assim sendo, uma única avaliação de forma direta não trará o resultado deste trabalho pedagógico.