CADERNO 1 - REFLEXÕES

1. Quais os desafios que permanecem para o ensino médio na realidade brasileira?

Um dos maiores desafios que nos deparamos no ensino médio dentro da realidade escolar brasileiro hoje, é a evasão ou abandono antes da conclusão desta etapa de estudo. Este desafio parece estar ligado principalmente à necessidade, da maioria destes alunos, de estarem ingressando no  mercado de trabalho.
A maioria de nossos educandos provindo de classe baixa e média baixa precisam trabalhar para auxiliar no orçamento doméstico. Isto acaba desestimulando sua permanência em sala de aula principalmente pelo fato de não conseguirem conciliar a carga horária do emprego com o da escola.
De acordo com os dados da PNAD-IBGE, 2009, a proporção de jovens na faixa etária de 18 a 24 anos que possuem escolaridade média é ainda muito baixa, apenas 37,9%. “Os que apenas trabalham são quase metade da população entre 18 e 24 anos e apenas cerca de 15% só estudam; outros 15,5% estudam e trabalham, condição que frequentemente leva ao ensino noturno e ao abandono precoce.”

2. Perfil social, cultural e econômico dos sujeitos matriculados no Ensino Médio em nossa escola.

Sabemos que no Brasil, a maioria dos jovens e dos adultos pobres estão matriculados nas redes estaduais no EM, mas que em contra partida milhões de jovens e de adultos pobres não estão matriculados em rede alguma ou tiveram que abandonar os estudos.
Dos que estão matriculados em nossas escolas, uma grande maioria são trabalhadores e pertencem a famílias assalariadas que muitas vezes dependem do auxílio dos jovens para subsistência. Uma parcela considerável também recebe bolsa família\jovem como forma de complementar a renda familiar. Geralmente são jovens advindos de famílias desestruturadas que possuem um baixo conhecimento cultural e que consequentemente não conseguem enxergar grandes perspectivas de melhoras através dos estudos. Poucos almejam ingressarem em uma universidade justamente pela falta de condição financeira.
Esta é uma realidade gritante principalmente quando pensamos no Ensino Médio Noturno, período este em que é mais evidente este perfil cultural e econômico.

3. A proposta de formação humana integral

Segundo o texto, afirma-se que “o Ensino Médio é um direito social de cada pessoa, e dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a todos” (Art. 3º) e que “[...] em todas as suas formas de oferta e organização, baseia-se [...] (Art. 5º)” na “Formação integral do estudante” (Art. 5º, Inciso I). Então, ainda segundo o texto, nosso grande desafio seria avançar no sentido de garantir estes direitos de maneira igualitária para todos, sem deixar de dispor de um ensino de qualidade.
O Ensino Médio, hoje, vive uma situação fragmentária, e, portanto torna-se necessário que o Sistema Nacional de Educação efetive uma integração dos diferentes níveis e modalidades em que este se encontra.
O problema maior é que sabemos que essa mudança requer além de tempo, um cuidado especial para que a formação do aluno não seja prejudicada em momento algum. A proposta seria pautada numa formação humana integral a qual garantiria “ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política” (CIAVATTA,2005, p. 85).
Neste sentido requer superemos a compreensão das expectativas de aprendizagem, passando a percebê-las não mais a partir dos resultados, mas segundo CHARLOT 2001 enquanto processo relacional entre o sujeito e os saber. Saberes estes que compreenda o significado econômico, social, político e cultural das ciências, das letras e das artes.
O desafio maior seria então, conseguir construir esta mudança, esta “travessia” mediante tantos limites sociais em que vivemos, mediante ao histórico educacional que trilhamos até agora. Sem dúvidas estamos passando por uma fase de transição social que requer tenhamos um novo olhar para a educação, em contrapartida não podemos perder nosso chão e simplesmente deixar para trás toda uma concepção de educação, que apesar de muitas mazelas, ainda é voltada para o conhecimento científico.

4. Como chegar à universalização do ensino médio?

Como mencionado anteriormente um dos maiores problemas da frequência e da conclusão do EM pelos nos jovens e adolescentes está relacionado às questões sociais. Políticas públicas que garantissem a retirada do mercado de trabalhos das crianças e dos jovens em idade escolar seria uma das alternativas para a universalização do EM. Mas sabemos ser está uma alternativa um tanto utópica se pensarmos a desigualdade social eminente em nosso país.
Uma das propostas é a “a implantação da escola unitária de currículo integrado, que tenha por princípio a dialética entre sociedade/trabalho, cultura, ciência e tecnologia”, a qual tem como objetivo “propiciar a aprendizagem de conteúdos historicamente acumulados pela humanidade, em seus diversos campos, especialmente nas artes, nas ciências, nas línguas, na história, na tecnologia, na cultura e, assim, no trabalho como princípio educativo. Enfim, uma escola socialmente inclusiva e de qualidade socialmente referenciada”.
Contudo esta proposta traz consigo alguns desafios, e segundo Brandão (2011, p. 204), o maior deles “é trazer os jovens para a escola fazer com que nela permaneçam e que concluam com sucesso o ensino médio” e que isso se dê numa “escola socialmente inclusiva e de qualidade socialmente referenciada”.
Sabemos que para que isso se torne realidade a médio e longo prazo políticas de melhoria no âmbito geral da educação pública devem ser adotadas. A escola pública precisa urgentemente de um olhar atento e de recursos para que haja uma melhoria nas condições de trabalho dos professores, funcionários e aspectos físicos dos prédios públicos onde funcionam as escolas, com equipamentos adequados e infraestrutura que supram a todas as necessidades e demandas.
O pedagógico, as perspectivas educacionais presentes no PPP, o olhar para as singularidades de cada contexto sócio-políticos-educacional de cada indivíduo, sem sombra de dúvidas são fatores essenciais para o sucesso da escola. Mas, não podemos ser ingênuos a ponto de achar que somente mudanças de nomenclaturas, de encaminhamentos burocráticos ou de estratégias de avaliação, serão suficientemente eficazes na mudança para melhoria da educação do EM. O problema é bem maior, é social, é cultural e requer uma mudança de todas as políticas públicas de forma que a educação passe a ser vista e concebida como primordial não só nos resultados estatísticos, mas principalmente na construção efetiva de cidadãos capaz de se integrar dignamente a sua sociedade.