AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA INTRODUÇÃO

 

 

A legislação brasileira e a literatura sobre avaliação educacional sugerem a preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos para todas as formas de avaliação, incluindo aí as avalições de aprendizagem, institucional e avaliação externa.
No que ser refere à avaliação da aprendizagem a condição indispensável é que ela se caracterize pelo seu caráter educativo, isso é que seja um processo de análise do percurso do aluno e do professor no sentido de identificar as dificuldades e potencialidades.
Diversos instrumentos podem ajudar a melhor desenvolver esse percurso, entre eles o PPP e o plano de ensino, os quais uma vez elaborados com a ampla participação da comunidade escolar precisam ser revisados e reconstruídos frequentemente, sem abrir mão da coletividade.
A legislação brasileira sugere que a avaliação qualitativa tenha maior importância em relação à quantitativa. Em resumo significa dizer que avaliar qualitativamente  não é a mesma coisa que medida, prova, classificação, hierarquia. Estes mecanismos decorrem de uma compreensão da educação como um bem privado e que conduz o sujeito ao sucesso individual.
Ultrapassar a fronteira quantitativa da educação implica ter maior clareza do que significa avaliar qualitativamente, o que implica dizer:
Na avaliação qualitativa o esforço não é mais quantitativo (isso é que nota foi atribuída) mas de análise dos mecanismos subjacentes e a interpretação que os sujeitos elaboram dos seus próprios comportamentos. Desta forma se pode dizer que avaliar qualitativamente consiste em desenvolver um processo diagnóstico. Exemplo: O  aluno “X” é hiperativo, fala o tempo inteiro, não traz caderno para a sala de aula, perambula pela sala, quando faz prova é um desastre. Porém, no cotidiano de suas relações o aluno é capaz de produzir, raciocinar, questionar e construir saberes. Esse diagnóstico precisa ser feito pelo professor. Daí uma necessidade que o professor permaneça mais tempo com o aluno, neste caso vem toda a questão da permanência do aluno na escola e da permanência do professor com o aluno. Uma vez esclarecido sentido de avaliação diagnóstica se torna obvia a compreensão de avaliação formativa e consequentemente somativa.
Daí  resulta claro que demarcar uma forma de avaliação como prática escolar é um equívoco metodológico no processo de aprendizado. Neste sentido fica evidente que a avaliação realizada por meio de provas pontuais não retrata o processo de aprendizado de um sujeito ou de uma instituição. Avaliar qualitativamente implica despertar interesse da pessoa envolvida na discussão em questão.
É importante ter clareza que a avaliação qualitativa significa aprender de forma refinada as diferenças entre o que a pessoa, a instituição, o contexto macrossocial diz, pensa e faz. Ter em mente o que se quer ao realizar uma avaliação qualitativa é um dos pressupostos mais importantes quando se estabelece um processo qualitativo de avaliação. Deste modo, se um professor quer aprovar ou reprovar aluno, não cabe no seu plano de ensino a avaliação qualitativa. Porém se o professor tem claro sua visão de mundo e sua missão enquanto educador  ele tratará de realizar avaliações exploratórias que garantam novos costumes e novo imaginário para o processo de avaliação.
Avaliar sob a ótica qualitativa não é o mesmo que considerar comportamentos, hábitos e atitudes de civilidade, como se aprender nas antigas aulas de Educação Moral e Cívica, mas considerar a superação das fronteiras etapistas da formação dos indivíduos.
Para um quantitativista será quase impossível compreender a força inerente da avaliação qualitativa  que vai juntando pinceladas à totalidade do quadro social do sistema avaliativo. Avaliar qualitativamente consiste em realçar a diversidades das ocorrências que um fato social traz nas suas entrelinhas. Compreender a diversidade de ser e produzir dos avaliados garante a generalização do processo de aprendizado e que supera, de longe, a atribuição de notas e conceitos.
Para avaliar coerentemente de modo qualitativo o professor precisa ser capaz de improvisar. De fato essa forma de compreensão da realidade implica na exploração de hipóteses que se supunham conhecidas e de paradigmas instaurados ao longo do tempo. Isso requer também flexibilidade capaz de mudar as técnicas de avaliação e de questionamentos.
Para melhor entender o alcance da avaliação qualitativa o professor precisa levar em conta três instâncias:
a) Material
b) Relações sociais
c) Instância imaginária
Na instância material ele terá em mente o que efetivamente o aluno aprendeu, nas relações sócias poderá considerar o processo das relações de empoderamento do aluno no sentido de produzir outros saberes, e na instância imaginária  a capacidade traduzir para a prática cotidiana o seu aprendizado. Por exemplo, na área de linguagens e códigos uma avaliação qualitativa deverá em conta a capacidade escrever corretamente um texto, se um aluno avaliado não alcançou este objetivo todas as regras e técnicas de interpretação de texto não foram além da quantidade de matéria dada.
Avaliação qualitativa consiste em colaborar para que as decisões e motivações  individuais descrevam o processo concreto de construção das ações coletivas.
A este mecanismo se dá o nome de autonomia, ou seja a construção de uma educação crítica e criativa e a avaliação como um processo formativo que supera a notação destinada a aprovação ou reprovação. Daí a importância da afirmação de José Dias Sobrinho em seu artigo: “Autonomia e avaliação”, segundo este autor, cuja compreensão está em sintonia com a legislação vigente:
Isso só é possível se a educação for entendida como um processo temporal alargado e se sua avaliação levar em conta múltiplos Indivíduos e instituições está sempre em construção e o que demonstram num determinado momento resulta de um processo histórico e temporal. Como diz Barbier, “embora o estado final das capacidades, apresentado por um indivíduo no fim de uma atividade de formação, constitua a resultante desta atividade, para falarmos com rigor, ele não constitui o seu produto específico; este é, exatamente, constituído pela diferença entre o estado inicial e o estado final” (1990, 178). avaliação é uma fundação de valores, diz R. Barthes (1975: 88).
A avaliação qualitativa rompe com o ciclo perverso estabelecido nas escolas onde o sujeito vai decidir ao final do período letivo sobre a progressão  ou retenção de alunos condição enfatizada pela avaliação quantitativa e simplesmente somativa.
Instituir mecanismos de avaliação qualitativa nas escolas implica desvincular a atribuição de notas da aprendizagem. E portanto abandonar a prática da aplicação de provas pontuais, para as quais o aluno estuda com o único objetivo de “tirar nota”. Desenvolver avaliação qualitativa na escola implica criar também aportes para uma gestão democrática da escola o que significa afirmar que a “boa escola” é aquela na qual todos aprendem.
Não se pode confundir as avaliações institucionais e avaliações externas, baseadas em questões do conhecimento com os mecanismos de aprendizagem  estabelecidos pela avaliação qualitativa do desenvolvimento escolar. Estas últimas levam em conta questões externas e pontuais o que não é o caso da avaliação qualitativa da aprendizagem durante todo o ensino fundamental e médio.

Referência:
ALAMI, Sophie. Os métodos qualitativos, Petrópolis, Vozes, 2010.

(Texto para estudo a partir do livro: Os métodos qualitativos).

A legislação brasileira e a literatura sobre avaliação educacional sugerem a preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos para todas as formas de avaliação, incluindo aí as avalições de aprendizagem, institucional e avaliação externa.
No que ser refere à avaliação da aprendizagem a condição indispensável é que ela se caracterize pelo seu caráter educativo, isso é que seja um processo de análise do percurso do aluno e do professor no sentido de identificar as dificuldades e potencialidades.
Diversos instrumentos podem ajudar a melhor desenvolver esse percurso, entre eles o PPP e o plano de ensino, os quais uma vez elaborados com a ampla participação da comunidade escolar precisam ser revisados e reconstruídos frequentemente, sem abrir mão da coletividade.
A legislação brasileira sugere que a avaliação qualitativa tenha maior importância em relação à quantitativa. Em resumo significa dizer que avaliar qualitativamente  não é a mesma coisa que medida, prova, classificação, hierarquia. Estes mecanismos decorrem de uma compreensão da educação como um bem privado e que conduz o sujeito ao sucesso individual.
Ultrapassar a fronteira quantitativa da educação implica ter maior clareza do que significa avaliar qualitativamente, o que implica dizer:
Na avaliação qualitativa o esforço não é mais quantitativo (isso é que nota foi atribuída) mas de análise dos mecanismos subjacentes e a interpretação que os sujeitos elaboram dos seus próprios comportamentos. Desta forma se pode dizer que avaliar qualitativamente consiste em desenvolver um processo diagnóstico. Exemplo: O  aluno “X” é hiperativo, fala o tempo inteiro, não traz caderno para a sala de aula, perambula pela sala, quando faz prova é um desastre. Porém, no cotidiano de suas relações o aluno é capaz de produzir, raciocinar, questionar e construir saberes. Esse diagnóstico precisa ser feito pelo professor. Daí uma necessidade que o professor permaneça mais tempo com o aluno, neste caso vem toda a questão da permanência do aluno na escola e da permanência do professor com o aluno. Uma vez esclarecido sentido de avaliação diagnóstica se torna obvia a compreensão de avaliação formativa e consequentemente somativa.
Daí  resulta claro que demarcar uma forma de avaliação como prática escolar é um equívoco metodológico no processo de aprendizado. Neste sentido fica evidente que a avaliação realizada por meio de provas pontuais não retrata o processo de aprendizado de um sujeito ou de uma instituição. Avaliar qualitativamente implica despertar interesse da pessoa envolvida na discussão em questão.
É importante ter clareza que a avaliação qualitativa significa aprender de forma refinada as diferenças entre o que a pessoa, a instituição, o contexto macrossocial diz, pensa e faz. Ter em mente o que se quer ao realizar uma avaliação qualitativa é um dos pressupostos mais importantes quando se estabelece um processo qualitativo de avaliação. Deste modo, se um professor quer aprovar ou reprovar aluno, não cabe no seu plano de ensino a avaliação qualitativa. Porém se o professor tem claro sua visão de mundo e sua missão enquanto educador  ele tratará de realizar avaliações exploratórias que garantam novos costumes e novo imaginário para o processo de avaliação.
Avaliar sob a ótica qualitativa não é o mesmo que considerar comportamentos, hábitos e atitudes de civilidade, como se aprender nas antigas aulas de Educação Moral e Cívica, mas considerar a superação das fronteiras etapistas da formação dos indivíduos.
Para um quantitativista será quase impossível compreender a força inerente da avaliação qualitativa  que vai juntando pinceladas à totalidade do quadro social do sistema avaliativo. Avaliar qualitativamente consiste em realçar a diversidades das ocorrências que um fato social traz nas suas entrelinhas. Compreender a diversidade de ser e produzir dos avaliados garante a generalização do processo de aprendizado e que supera, de longe, a atribuição de notas e conceitos.
Para avaliar coerentemente de modo qualitativo o professor precisa ser capaz de improvisar. De fato essa forma de compreensão da realidade implica na exploração de hipóteses que se supunham conhecidas e de paradigmas instaurados ao longo do tempo. Isso requer também flexibilidade capaz de mudar as técnicas de avaliação e de questionamentos.
Para melhor entender o alcance da avaliação qualitativa o professor precisa levar em conta três instâncias:
a) Material
b) Relações sociais
c) Instância imaginária
Na instância material ele terá em mente o que efetivamente o aluno aprendeu, nas relações sócias poderá considerar o processo das relações de empoderamento do aluno no sentido de produzir outros saberes, e na instância imaginária  a capacidade traduzir para a prática cotidiana o seu aprendizado. Por exemplo, na área de linguagens e códigos uma avaliação qualitativa deverá em conta a capacidade escrever corretamente um texto, se um aluno avaliado não alcançou este objetivo todas as regras e técnicas de interpretação de texto não foram além da quantidade de matéria dada.
Avaliação qualitativa consiste em colaborar para que as decisões e motivações  individuais descrevam o processo concreto de construção das ações coletivas.
A este mecanismo se dá o nome de autonomia, ou seja a construção de uma educação crítica e criativa e a avaliação como um processo formativo que supera a notação destinada a aprovação ou reprovação. Daí a importância da afirmação de José Dias Sobrinho em seu artigo: “Autonomia e avaliação”, segundo este autor, cuja compreensão está em sintonia com a legislação vigente:
Isso só é possível se a educação for entendida como um processo temporal alargado e se sua avaliação levar em conta múltiplos Indivíduos e instituições está sempre em construção e o que demonstram num determinado momento resulta de um processo histórico e temporal. Como diz Barbier, “embora o estado final das capacidades, apresentado por um indivíduo no fim de uma atividade de formação, constitua a resultante desta atividade, para falarmos com rigor, ele não constitui o seu produto específico; este é, exatamente, constituído pela diferença entre o estado inicial e o estado final” (1990, 178). avaliação é uma fundação de valores, diz R. Barthes (1975: 88).
A avaliação qualitativa rompe com o ciclo perverso estabelecido nas escolas onde o sujeito vai decidir ao final do período letivo sobre a progressão  ou retenção de alunos condição enfatizada pela avaliação quantitativa e simplesmente somativa.
Instituir mecanismos de avaliação qualitativa nas escolas implica desvincular a atribuição de notas da aprendizagem. E portanto abandonar a prática da aplicação de provas pontuais, para as quais o aluno estuda com o único objetivo de “tirar nota”. Desenvolver avaliação qualitativa na escola implica criar também aportes para uma gestão democrática da escola o que significa afirmar que a “boa escola” é aquela na qual todos aprendem.
Não se pode confundir as avaliações institucionais e avaliações externas, baseadas em questões do conhecimento com os mecanismos de aprendizagem  estabelecidos pela avaliação qualitativa do desenvolvimento escolar. Estas últimas levam em conta questões externas e pontuais o que não é o caso da avaliação qualitativa da aprendizagem durante todo o ensino fundamental e médio.

Referência:
ALAMI, Sophie. Os métodos qualitativos, Petrópolis, Vozes, 2010.