ASPECTOS RELEVANTES PARA A EDUCAÇÃO HUMANA INTEGRAL

Reflexões dos cursistas do Colégio José Busnardo
Ago 2014

Quando se trata de avaliar o ensino médio no contexto educacional brasileiro e a luz da sua  reconstrução histórica, percebemos que grande dos seus problemas decorre de uma  implementação tardia de um projeto de democratização da Educação. Ao longo da  História, o ensino brasileiro sofreu uma série  de  transformações  como a  desvinculação do ensino com os  preceitos religiosos   dos  jesuítas, seguido da vinculação ao Estado e da presença constante das redes particulares de  ensino. Porém, mesmo após diversas transformações,  as práticas pedagógicas ainda estão atreladas a uma visão tradicional de Educação.
A inclusão do ensino médio e seu caráter progressivamente obrigatório através de diferentes regimes políticos demonstram a importância do papel político e social que ele possui, mas também evidencia que ele constitui um ponto muito problemático.
O ensino médio não era visto como um meio universal, mas fazia parte de um projeto seletivo de escolarização. Um projeto voltado para as classes sociais mais elevadas e que tinha no seu caráter classificatório e seletivo uma forma de exclusão de acesso. Houve uma separação muito clara entre o ensino voltado para as elites e o ensino voltado para as classes populares. Pode-se dizer que um dos pontos negativos  do ensino médio no Brasil é que os projetos de implementação do ensino não visavam à universalização, mas estavam encerrados num projeto elitista. Daí decorre que grande parte da “descaracterização” ou “falta de identidade” do ensino médio provém de uma ausência de projeto político efetivo: o ensino médio nunca teve uma vocação muito clara, e constituía, em si mesma, apenas num ponto de “passagem” entre a educação básica e a universidade, servindo de trampolim para a carreira universitária ou para o mercado de trabalho, segundo as oscilações políticas de cada momento histórico.
Se por muito tempo o ensino médio era uma escada para a carreira universitária, e fazia parte de um projeto elitista da sociedade, nos últimos anos esta realidade se transformou, trazendo novos desafios. O grande desafio do período em que vivemos é converter a massificação do acesso ao ensino médio num esquema efetivo de aprendizado.
Os adolescentes que estão entrando no ensino médio atual devem encontrar no ambiente escolar um mundo capaz de acolher essas transformações e espelhar os seus reflexos, e não constituir um espaço estanque, imóvel, tão em contraste com o mundo que esses jovens vivenciam atualmente. É preciso ir além da simples massificação do ensino para promover uma verdadeira democratização do ensino, que não seja puramente pautada nos interesses de classes.
Um dos desafios do ensino médio na atualidade também é reconhecer a subjetividade dos jovens. Tradicionalmente, a estrutura de ensino obedece à um objetivo pragmático que tem como meta o sentido de mudança, aperfeiçoamento, transformação numa lógica muito diferente daquela que é sensível aos jovens. Todas as passagens intermediárias são pensadas em relação a um futuro que se promete a este jovem: preparação para o mercado de trabalho, melhores condições de vida, um emprego, etc. O trabalho e a ação pedagógica devem levar em consideração as especificidades destes adolescentes para os quais a noção de passado, futuro e presente são muito diferentes das que a escola pretende articular.
A escola possui um papel ambíguo no universo cultural e social dos alunos: muitas vezes, ela  é um espaço dominado pelos “adultos”, onde o jovem tem pouco espaço de voz ou de atuação. Assim, o aluno perde rapidamente o interesse pelos estudos motivados principalmente pelas dificuldades do processo de aprendizado num momento em que as interações sociais e os vínculos estabelecidos entre os jovens passam a ter um papel cada vez mais preponderante na formação da identidade e subjetividade do aluno. Neste quadro, a escola ainda distancia-se muito da realidade cultural, social e econômica dos educandos. Ela ainda desenvolve um discurso paternalista, complacente, que ao mesmo tempo funciona como justificativa ideológica para a baixa expectativa em relação ao sucesso escolar do aluno. O aluno “passa” literalmente pela escola, sem muitas vezes realizar um efetivo processo de aquisição: a escola simplesmente como local de passagem. As vidas dos estudantes são presumidas, mais do que investigadas a fundo: leva-se em consideração o bairro em que vivem, as condições econômicas, a infraestrutura, etc. mas pouco tempo se leva para conhecer o aluno, quem ele é, o que ele faz, quais os seus objetivos, anseios, etc.
Nesse sentido estereotipamos as escolas públicas do nosso país, pois na sua maioria são frequentadas por estudantes de classe média baixa que acabam trocando seus estudos, seja pelo trabalho, ou mesmo para o ócio, na melhor das hipóteses, alguns acabam migrando para o ensino noturno. Que por sua vez, a aprendizagem é negligenciada por ambos os envolvidos no processo educacional.
A educação tem um papel preponderante na formação humana integral, devemos pensar numa escola que possa dar instrumentos para o aluno questionar o mundo em que vive e também construir o seu próprio mundo. Diante dessa afirmação, devemos pensar práticas pedagógicas que colocam o aluno como peça principal no processo de aprendizagem, onde sua autonomia e socialização são apreciadas, constituindo uma enorme contribuição no  processo educacional.  As ferramentas para auxiliar nesse processo são inúmeras, basta pesquisar diferentes trabalhos que professores pesquisadores  publicam o que, constitui um reflexo de sua prática pedagógica. Por isso, a utilização de  metodologias diferenciadas  podem fomentar uma atitude reflexiva por parte do aluno, na medida em que oferece a este, oportunidades de participação, nas quais vivencie uma variedade de experiências, seja solicitado a tomar decisões, fazer julgamentos e chegar a conclusões.
Nota-se, portanto que a função da educação escolar atualmente é propiciar ao aluno conhecimentos, valores e habilidades necessárias para a formação do gênero humano pleno. Assim ele poderá construir sua vida livremente, ser autor de si mesmo, tendo autonomia ele mesmo para construir  uma forma de vida e se sentir parte do meio onde está inserido.
Estamos vivendo numa época em que as profundas transformações sociais, econômicas e culturais acentuam os conflitos e trazem novas formas de exclusão, revitalizando o individualismo e os interesses de classe.  Portanto, vivemos numa época de incertezas em que o projeto de democratização da educação e especialmente, do ensino médio é um dos grandes desafios políticos. Este projeto de democratização implica em promover novas relações institucionais e dar aos jovens educandos os meios para que possam questionar os valores e transformar sua realidade, dando-lhes o protagonismo necessário para que rompa as barreiras do conformismo e da negação. Situação bastante difícil para eles uma vez que carecem de experiências cognitivas e de um modelo societário para desconstruir os argumentos que legitimam a sociedade em que vivem em busca da transformação. No outro lado desta realidade, encontram-se as dificuldades dos docentes: muitos professores têm suas ambições cerceadas pela ausência de condições básicas do exercício de suas atividades cotidianas ou de reconhecimento profissional. De sua parte, as políticas públicas têm criado apenas soluções paliativas, desprovidas de um verdadeiro projeto educacional voltado para a democratização do ensino. Nas últimas décadas houve uma sobrevalorização dos indicadores de conhecimento dos alunos, que conduziu à uma lógica empresarial da gestão das escolas, abandonando a principal vocação: o processo de aquisição de conhecimento. Enfatizam-se os indicativos de aprendizado, abandonando o desafio de renovar as práticas escolares. Parece cada vez mais difícil de resgatar a autoridade cultural que a escola teria diante do progressivo efeito de subvalorizarão do ensino e do saber. O aumento da demanda do ensino médio  acontece sobre uma estrutura pouco desenvolvida, com uma escola pouco preparada para receber estes novos jovens e adolescentes que vieram da parcela mais pobre da população. Se por um lado há um aumento líquido da taxa de matrículas realizadas nos últimos anos, essa universalização do acesso esbarra em outros problemas estruturais: aponta para uma crise de legitimidade do papel social da escola e com isso traz a falta de motivação para os alunos continuarem aprendendo. O projeto de expansão do ensino médio que começou a se observar nas últimas décadas  ainda encontra diversas dificuldades para constituir num modelo de democracia no ensino, devido as altas porcentagens dos jovens que ainda continuam fora da escola e do grande número de evasão escolar. Junto com a preocupação em uma universalização do ensino é preciso atentar para outros desafios como a mudança da estrutura pedagógica, a formação e remuneração de professores,  a infraestrutura e a gestão escolar, os investimentos públicos  – condições que somadas podem acarretar numa forma mais igualitária de ensino.
Vivemos numa época de grandes transformações e, de certa forma, devemos nos sentir desconfortáveis com o conformismo que se instaura no ensino no Brasil, abandando arcaísmos e abraçando as novas possibilidades que surgem a cada dia.