ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES SOBRE A DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E INVESTIGAÇÃO DE AMBIENTES DEGRADADOS NA REGIÃO CENTRAL DE PARANAGUÁ, COMO RECURSO DIDÁTICO NA PRÁTICA DE ENSINO E APRENDIZAGEM.

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1. INTRODUÇÃO

O município de Paranaguá, berço da civilização paranaense, é de suma relevância na economia do Paraná no escoamento de carga pelo porto D. Pedro II, que por outro lado exibe grande importância ecológica, estando situado entre região de Estuário, caracterizado pelo encontro de águas dos rios e do mar, com salinidades mais baixas que a do mar, com fauna e flora típicas desses ambientes manguezais e marismas.
Os biomas manguezal e marisma são ecossistemas complexos, sendo pouco abordados quanto a sua relevância ecológica, na realidade da qual a cidade está inserida. Responsável pela grande biodiversidade marinha, esses ecossistemas são verdadeiros berços, abrigando inúmeras espécies em fase larval e juvenil, desenvolvendo uma importante etapa da vida dessas populações, como por exemplo, a garantia da sobrevivência, contribuindo para a manutenção de grande parte da vida marinha. Espécies encontradas nessas regiões apresentam valor agregado para as comunidades pesqueiras local e de todo o litoral, que fazem da pesca um meio alternativo ou integral de subsistência (Tavares et al. 2009)
Esses ecossistemas se interrelacionam com os rios presentes na região, uma vez que desembocam na Baía de Paranaguá. O rio Itiberê localizado próximo a região central de Paranaguá, separa o continente da Ilha dos Valadares à qual pertence ao município de Paranaguá,  exercendo grande importância econômica para os pescadores, além de atividades para o lazer e turismo. A importância do rio Itiberê  se estende desde a sua rica história até os dias de hoje, pois através dele as navegações traziam cargas que giravam a economia da mais antiga cidade do Paraná.
Atualmente não mais utilizado para atividades portuárias, é ponto de partida e chegada dos moradores das ilhas e visitantes. Nele se abriga em suas margens, uma gama de biodiversidade nas faixas de manguezais e marismas existentes, devido o grande aporte de nutrientes no local, que servem de abrigo e berçário natural para espécies de animais.
Contudo, esses ambientes apresentam trechos de antropização e geração de impacto negativos ao meio ambiente, que provavelmente podem gerar degradação ambiental e a perda do hábitat natural de várias espécies da região.
De acordo com abordagens estabelecidas em sala de aula, torna-se clara a falta de conhecimento sobre as espécies da Zona Costeira Brasileira, a interrelação dessas espécies com o  meio ambiente em que vivem e o homem como fator determinante na mudança das paisagens, bem como dos fatores históricos e sócio-cultural.
2.OBJETIVO
O presente estudo visou acompanhar as causas dos impactos através da visualização in situ, além de gerar um banco de dados baseado na investigação e na pesquisa científica.
Foram discutidas a coletânea com incidência dos impactos sobre os ecossistemas que foi abordada no contexto e apresentada no momento da aula, com as informações sobre o diagnóstico atual dos manguezais na região (próxima ao porto de Paranaguá), listagem das espécies típicas e associadas ao grupo de ecossistemas aqui tratados, entre elas aquelas enquadradas nas diferentes categorias de conservação (ameaçadas, vulneráveis, raras).

3.METODOLOGIA
O estudo foi realizado de forma descritiva, de caráter quantitativo e qualitativo, com levantamentos de dados primários na pesquisa de campo e coleta de resíduos urbanos, oriundos da população.
Para a aplicação do questionário foi utilizada a metodologia da participação popular. O questionário de percepção ambiental (ANEXO 1), sobre resíduos apresentou entre dez a doze questões, organizadas de forma semiestruturada e com perguntas objetivas aplicado de forma aleatória, para nos estabelecimentos comerciais e para a população local.
Na análise dos resíduos gerados pela população, foram escolhidos três pontos aleatórios na região central de Paranaguá e três pontos no lado oposto onde se localiza a  Ilha dos Valadares. Foi  traçado um quadrante  de 3m2 no local escolhido, onde os resíduos foram  coletados manualmente com o auxílio de equipamentos de segurança, luvas de borracha, para os devidos cuidados com a contaminação. Após a coleta foi feito o registro através de fotos para o banco de dados apresentado posteriormente, além da análise in situ,  do tipo de lixo gerado. Após a separação do mesmo foi feita a  análise de procedência e quantificação por volume em sacolas de 5 litros.
Todos os alunos compareceram ao local, devidamente uniformizados e identificados com crachás e coletes. Os alunos acompanharam as causas dos impactos através da visualização in situ, além de descreverem em pranchetas os diversos fatores analisados, gerando um banco de dados através da investigação e pesquisa científica.
Foi realizada a análise da incidência dos impactos sobre os ecossistemas, sendo abordada no contexto e apresentada no momento da aula, com as informações e sobre o diagnóstico atual dos manguezais na região (próxima ao porto de Paranaguá). Ficou estabelecido uma listagem das espécies típicas e associadas ao grupo de ecossistemas aqui tratados, obtidas através da pesquisa, entre elas aquelas enquadradas nas diferentes categorias de conservação (ameaçadas, vulneráveis, raras). Foram discutidos os fatores mais comuns que incidem sobre o grupo desses ecossistemas e suas consequências.
O presente estudo visou uma abordagem técnica para instigação dos alunos, a fim de desenvolver o método da pesquisa, conservação, restauração, a busca por inventários biológicos e históricos, bem como esclarecimentos sobre monitoramento ambiental, políticas públicas sobre possíveis impactos gerados no ecossistemas manguezal e marisma da região central do município de Paranaguá.
Os alunos conseguiram reconhecer os problemas socioambientais existentes na região  no rio Itiberê,  nos ecossistemas Manguezal e Marismas, bem como a partir da vivência em campo, no âmbito de despertar uma visão sócio-ambiental.
O alunos tiveram a oportunidade de:
-Conhecer as espécies de fauna e flora características típicas da nossa região, a fim de criar um vínculo entendendo a importância desses elementos em seu habitat natural;
-Reconhecer a importância da conservação e preservação das espécies e desses ecossistemas para a população local.
-Valorizar esses ambientes enquanto patrimônio biológico, histórico e cultural, no que diz respeito às atividades de visitações turísticas e práticas de pesca artesanais e atividades náuticas.
-Relacionar a interferência dos efeitos da antropização, sobre a qualidade desses ambientes, bem como a perda da rica biodiversidade.
-Ser inserido  como um coadjuvante no processo de disseminação desses conceitos e valores na sociedade.

4.DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento do projeto foi dividido em etapas, as quais estão descritos abaixo:
Etapa I - Construção do conhecimento prévio
Visitação aos locais que sofrem degradação, às margens do Rio Itiberê, na área central de Paranaguá (Fig 1,2 e 3). O ponto de partida foi o Estádio Gigante do Itiberê, no bairro Ponta do Caju e em seu entorno, com os pontos visitados:
Pontos de visitação Observações Abordagens dos professores
1) Ginásio Albertina Salmon - Rua Um, bairro Ponta do Caju Observação do entorno do ginásio. Abordagem sobre destinação incorreta dos resíduos (armações de carros alegóricos carnavalesco), falta lixeiras próprias para resíduo urbano.
2) Ponto de Embarque da Balsa - Rua José Lourenço Pinto, bairro Ponta do Caju Observação da situação do local, antropização, contaminação por esgoto que desemboca no Rio Itiberê.  
Abordagem sobre impactos ambientais ao solo e água contaminados, questões sobre a falta de infraestrutura pública e gestão de resíduos.
3) Estacionamento do Mercado Municipal - bairro Ponta do Caju Observação da destinação do lixo gerado.  Abordagem sobre a falta da destinação correta dos resíduos por parte dos comerciantes, e quais as alternativas mais viáveis para aquele tipo empreendimento.
4) Base da estrutura da Ponte do Valadares
  Observação das condições sanitárias do local, análise sobre os tipos de resíduos  encontrados deixados pelas pessoas.  Abordagem sobre   organismos encontrados na região (ostras, mexilhões, sementes de mangue, populações aquáticas, frente aos impactos negativos.
5) Ponte dos Valadares Observação da linha do continente e ilha.  Abordagem sobre a transição do continente e ilha, dinâmica das marés, turbidez do rio, baixios, fauna e flora típica da região.
6) Praça Cyro Abalem- Ilha dos Valadares Observação do monumento e da Praça. Abordagem Cultural sobre o monumento e os costumes dos moradores.
7) Associação de moradores - Rua Rio Itiberê - Ilha dos Valadares  Observação do local. Abordagem  Socioeconômica.
8)Atracadouro ou amarradouro das embarcações - Ilha dos Valadares Observação das práticas dos pescadores artesanais, e suas embarcações às margens do Rio Itiberê, e fauna (aves, crustáceos, moluscos)  Abordagem sobre a importância da preservação ambiental, Legislação ambiental de proteção dos Manguezais, práticas artesanais de pesca.
9) Ponto de Embarque e desembarque Balsa -  Ilha dos Valadares Observação de possíveis pontos de degradação do ambiente. Abordagem histórico-cultural, política e demográfica da região

10) Barracão para guardar barcos do pescador artesanal senhor Joel - Ilha dos Valadares Observação do Barracão e amarradouros, trabalho  e manutenção do local disponibilizado pelo morador para visitação, quanto à preservação  e proteção da sua área. Abordagem sobre desmariscagem, reaproveitamento de conchas para sedimentar locais lamosos, Legislação dos órgão fiscalizadores IAP e IBAMA, problemas sociais enfrentados por moradores da Ilha que utilizam amarradouros, devido a proibição da construção de pier de concreto.
11) Área de manguezal -  Ilha dos Valadares. Observação do ecossistema manguezal e  passagem aterrada com conchas ao lado do barracão do senhor Joel  Abordagens sobre as práticas extrativistas  realizadas e  sobre a  importância ecológica.

Etapa II- Levantamento dos problemas aà partir do conhecimento prévio
Foram observados possíveis contaminações ambientais, descarte do lixo em locais impróprios, levantados problemas sociais, culturais e políticos.
Etapa III - Levantamento de dados
Em sala  de aula foi discutido possíveis questionamentos quanto as problemáticas observadas em campo, e através disso foram elaboradas questões abordadas e aplicadas num questionário socioeconômico pelos alunos.
Etapa IV- coleta de dados
Os levantamentos de dados primários na pesquisa de campo foi realizado por meio de metodologia com participação popular. O questionário de percepção ambiental sobre resíduos foi aplicado, contendo dez questões, organizados de forma semiestruturada e com perguntas objetivas. Foram aplicados de forma aleatória, nos estabelecimentos comerciais e abordagem no entorno do local de estudo.
  Foram realizadas análises quantitativa e qualitativa do "lixo" gerado no local de estudo; os resíduos que foram separados e quantificados, e gerada uma estimativa por m2.
Etapa V- Tratamento dos dados, tabulação e confecção de gráficos.
A tabulação dos dados, confecção dos gráficos e análises dos resultados obtidos em campo, foi realizada juntamente com os professores num outro momento dentro do colégio, em contra-turno no laboratório de informática.
Etapa VI - Passeio de Barco
Os alunos partiram do ponto de embarque na estação náutica, em direção ao porto de Paranaguá e Ilha da Cotinga.
O passeio de barco gerou uma visão holística do que foi trabalhado, e as interrelações desses habitats com o ser humano e outros seres vivos.
Etapa V- Visitação ao Aquário de Paranaguá
No Aquário de Paranaguá os alunos puderam  visualizar a biodiversidade de espécies existentes em nosso litoral, principalmente em nossos ecossistemas costeiros, com monitores conduzindo-os  aos recintos. Podemos destacar como pontos importantes:
-Manguezal com espécies local
-Aquário de toque
Entre outros que abrangem espécies de ambiente marinho mais profundos.
Etapa VI- Apresentação dos resultados em slides e banners.
Mobilizou e conscientizou a comunidade escolar, criando multiplicadores do saber com a ampla experiência adquirida,  atingindo outras séries do Ensino Médio.

5. RESULTADOS
A apresentação dos dados ocorreu via recurso multimídia, com abordagens dos resultados do trabalho para todos os alunos. Demonstrativos da pesquisa em campo como as  filmagens, entrevistas, fotos e depoimentos editados pelo próprios alunos, foram exibidos e apresentados oralmente, com base no que foi vivenciado, num momento de troca de ideias entre os participantes.
Em contra partida nossos alunos conseguiram correlacionar as realidades, revendo seus conceitos, daquilo que era esperado e do observado. Testando seus conhecimentos, utilizando-se  dos métodos científicos de observação, testes e coleta de dados, comparando e analisando dados, dos quais  extraíram resumos, cálculos de área, reconhecimento de espécies, levantamento de questões histórico-culturais e ambientais, legislação vigente, órgãos de fiscalização, entre muitos outros.  Ao observar os aspectos positivos e negativos, foram desenvolvidas ações coerentes de educação ambiental, com a construção do conhecimentos adquirido ao longo dos processos.
O projeto otimizou as abordagens feitas em sala de aula utilizando a prática como recurso interdisciplinar, que certamente agregou valores ao levantar questionamentos, tornando um indivíduo pensante e atuante na sociedade, principalmente atuantes na área da pesquisa e investigação para a construção do saber,  no que diz respeito às questões sócio-ambientais.
Apesar da universalização da Educação Ambiental, ainda há distanciamento das escolas e das redes de ensino em relação à realidade socioambiental onde estão inseridas, tendo em vista seu papel como espaço de reflexão e construção de conhecimento. Assim é necessário trabalhar a qualidade da Educação Ambiental nas escolas, formar educandos atuantes em processos de busca de conhecimentos,  pesquisa, com intervenção educacional baseado em valores sociais.
  Para Melazo (2005) o estudo de percepção ambiental é essencial para a compreensão da inter-relações entre o homem  e o seu ambiente, frente às suas expectativas, satisfações, valores e como este reage frente às ações sobre o meio. Segundo o autor além da simples compreensão da percepção do indivíduo, o estudo deve promover a sensibilização e a consciência. A busca da valorização desse indivíduo na sociedade com práticas educativas, promove a compreensão dele como protagonista da sociedade, como cidadão capaz de criticar e transformar sua realidade.

6.REFERÊNCIAS
ANDRIGUETO FILHO, J.M.; MARCHIORO, N.P.X. Diagnóstico e problemática para a pesquisa. In RAYNAUT, C. ET AL.(Eds.).Desenvolvimento e Meio Ambiente- em busca da interdisciplinaridade.Curitiba: Ed.UFPR, 2002.Cap.2, p.159-194. (2002)

MELAZO, G.C. Percepção ambiental e educação ambiental: Uma reflexão sobre as relações interpessoais e ambientais no espaço urbano. Olhares e trilha, Uberlândia, Ano 6, n.6, p.45-51, 2005.

TAVARES, Y.A.G; LAURINDO, J.E; BARBOSA, P.C.C. 2009. Bases econômicas para o conhecimento do potencial extrativista sobre o “bacucu” Mytella falcata d’Orbigny,1846 na Baía de Paranaguá, Litoral do Paraná. Anais do I Simpósio Integrado sobre Logística Portuária e Meio Ambiente. Foz do Iguaçu. p:24,CD-ROM.

7.ANEXOS

Tipo: Residência     (    )      Comercial (     )
ENTREVISTADO              MASC:            FEM:   
1. Qual o seu grau de escolaridade:
2. Tem conhecimento sobre a coleta seletiva?
3. Você acha importante a separação do lixo e a reciclagem?
4. Possui conhecimento sobre os impactos ambientais que o lixo causa?
5. Você se preocupa com a poluição do local onde vive?
6.Que tipo de resíduo é acumulado ou produzido em sua residência?
7. Você separa os seus resíduos?
7.1 Se não, estaria disposto?
7.2 Onde é disposto  este resíduo?
8.O lixo  reciclável é doado, vendido, ou colocado junto com o lixo comum?

ANEXO1- Questionário socioeconômico para moradores em residência.

8. FIGURAS

Figura 1. Mapa do município de Paranaguá. (Fonte:Google Maps)

Figura 2. Mapa com legenda dos pontos.

 

Figura 3. Ponte que liga a Ilha dos Valadares ao continente.